Antes de virar Muhammad Ali, "o maior de todos", Classius Clay, 18, tinha medo. Com fobia de avião, quase desistiu de voar para a Olimpíada de Roma, em 1960. "Ele queria pegar um barco, algo assim", disse certa vez Joe Martin (1916-1996), seu primeiro professor de boxe.
Clay tinha 40 kg e 12 anos quando conheceu Martin, num ginásio em Louisville (Kentucky).
Foi lá atrás de "doce de graça e pipoca". Ao sair, não achou a bicicleta, presente de Natal do pai. Queria acertar as contas com o ladrão. Martin alertou: "Melhor aprender a brigar antes de sair brigando".
A medalha de ouro em Roma foi a primeira grande vitória do homem que mais tarde diria : "É dificil ser humilde quando se é tão incrível quanto eu".
Até hoje, o paradeiro da condecoração é um mistério que mexe com Louisville. Numa autobiografia de 1975, Ali diz que jogou-a no rio após briga com um ladrão que queria tomá-la.
Não foi a única versão. Fato: depois da Itália, houve quem se referisse a ele como o "preto olímpico". Provavelmente ficção: foi a um restaurante só para brancos. "Não servimos negros aqui", lhe disseram. "Tudo bem, eu não como isso", teria respondido. Expulso, protestou jogando o ouro no rio.
Berço de celebridades como a atriz Jennifer Lawrence e o jornalista Hunter Thompson, Louisville tinha em Ali seu grande ícone. Até meados dos anos 1970, a cidade mantinha escolas só para brancos e só para negros, mesmo com lei vetando a prática.
A mensagem de diversidade, diz Fischer, é o grande legado de Ali cujas palavras "eram tão poderosas quanto seus punhos".
Uma petição pede que uma estátua de Ali ocupe espaço destinado a soldados que lutaram na Guerra Civil em nome dos Confederados, pró-escravidão.