Folha de S. Paulo


Diretor da CBF citado por Renan em áudio atua para evitar investigações

Rafael Ribeiro - 17.abr.2015/CBF
Presidente da FCF participa da primeira reunião da nova DiretoriaO Presidente da Federação Catarinense de Futebol, Dr. Delfim Pádua Peixoto Filho, participou na manhã desta 6ª feira (17), da primeira reunião da nova Diretoria da Confederação Brasileira de Futebol para o quadriênio 2015-2019. O Presidente eleito da CBF, Dr. Marco Polo Del Nero, conduziu os trabalhos na Sala das Federações, na sede da Entidade.
Vandenbergue Sobreira Machado (o terceiro, no alto, da esquerda para a direita), em reunião da CBF

Um dos mais longevos funcionários da CBF, Vandenbergue Sobreira Machado completou há três meses 16 anos trabalhando em nome da entidade.

Desde 2000, ele tem uma das mais importantes funções do quadro da entidade: dificultar qualquer investigação possível sobre o futebol em Brasília.

Na última semana, o nome do funcionário da entidade foi citado em gravação de uma conversa entre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado.

Eles aparecem falando sobre o senador cassado Delcídio do Amaral. Luis Henrique, o filho do lobista da CBF, é quem faz a defesa do ex-senador tanto no Conselho de Ética da Casa como no STF.

Diferentemente dos demais funcionários e diretores, Vandenbergue não vive no Rio. Ele fica Brasília, onde desempenha seu papel de lobista da entidade. No site da CBF ele aparece como responsável pela diretoria de assessoria legislativa.

Não por acaso, nem seis meses depois que foi oficializado pela primeira vez com um cargo na CBF, em 2000, ele enfrentou o primeiro desafio, a CPI da Nike.

Renato Costa/Folhapress
O senador Romário ouve o depoimento do presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, na CPI do Futebol, em Brasília (DF)
O senador Romário ouve o depoimento do presidente Marco Polo Del Nero, na CPI do Futebol

Servidor de quase 30 anos no Senado Federal, foi indicado por Renan Calheiros para Ricardo Teixeira, quem comandava o futebol brasileiro na época.

O casamento nunca acabou.

Mesmo com mudanças de gestão, com a entrada de José Maria Marin, depois Marco Polo Del Nero, uma coisa sempre foi certa, sua permanência. Quase toda a diretoria foi trocada, apenas ele e o representante jurídico, Carlos Eugênio Lopes, continuaram.

O futebol deu clientes para a família Machado.

Filho de Vanderbergue, Luis Henrique atua em diversos processos de aliados dos cartolas da CBF.

É seu escritório que cuida, por exemplo, das várias ações que responde Roberto Góes, presidente da federação do Amapá, recentemente condenado por peculato pelo STF.

O Machado Ramos & Von Glehn (MR & VG) assumiu também a defesa de Fabio Simão, ex-presidente da federação de Brasília, destituído do cargo.

Em São Paulo, advogam para clube de futebol, o Rio Claro, em ação contra uma empresa de jogadores.

Divulgação
Vandenbergue Sobreira Machado, diretor de assessoria legislativa da CBF
Vandenbergue Sobreira Machado, diretor de assessoria legislativa da CBF

CRISE

Entre um corredor e outro do Congresso Nacional, Vanderbergue costuma dizer que é de crise o que ele mais gosta.

Conversando com deputados e senadores, sua missão é diminuir o potencial (mesmo quando ele já pequeno) de que o futebol brasileiro seja desgastado por investigações.

Mas é na crise, como ele fala aos mais próximos, que seu trabalho aparece mais.

Foi assim com a CPI do Futebol nestes últimos meses, que tinha Romero Jucá (PMDB-RR) como relator.

Vanderbergue chegou a comemorar com senadores da bancada da bola após uma sessão em que não houve quórum.

No relatório final da comissão, o ex-ministro e senador não propôs punição para nenhum dos investigados.

AMIGOS

Fora do futebol, Vandenbergue tem em Renan Calheiros um dos seus principais parceiros.

O filho de Renan, aliás, é outro cliente do escritório MR&VG.

É apostando nessas, e outras, boas relações, que a CBF se arma para nunca sofrer uma derrota em Brasília.

Renan e Delcídio receberam, na eleição de 2002, doação de R$ 100 mil, cada, da confederação.

Procurado pela Folha, Vanderbergue não atendeu as ligações.


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