Folha de S. Paulo


Novak Djokovic ganha tanto que chega a ser irritante, diz Gustavo Kuerten

O carisma os une, e a glória em Roland Garros os separa. Novak Djokovic e Gustavo Kuerten, o melhor tenista da atualidade e o maior nome do tênis masculino do Brasil, já fizeram uma exibição no país e são parceiros em ações comerciais.

Neste domingo (22) começa a edição de 2016 do Grand Slam francês, e Guga, tricampeão do torneio, vai acompanhar de perto mais uma tentativa do sérvio de se consagrar no saibro de Paris.

Caso triunfe, feito inédito na carreira, Djokovic se credenciará, mais do que nunca, a ser o primeiro tenista a fechar o Grand Slam [vencer os quatro principais torneios] desde 1969. Como levou o troféu na Austrália, restará Wimbledon e o Aberto dos EUA.

Em entrevista à Folha, o catarinense aponta o sérvio como favorito, mas lembra que o espanhol Rafael Nadal e o britânico Andy Murray vêm jogando bem na temporada de saibro europeia.

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Folha - Você acredita que Djokovic conseguirá fechar o Grand Slam em 2016?
Guga - Continuo achando, apesar de que, no ano passado, eu também tinha bastante convicção e ele deixou escapar na final de Roland Garros contra o [suíço Stan] Wawrinka. O Nadal, principalmente, está rendendo bastante no saibro, e o Murray vem surpreendendo. Voltou a jogar aquele tênis que alcançou na Olimpíada [foi ouro em Londres-2012].

O que lhe chama mais atenção no comportamento do Djokovic durante os bastidores dos vídeos que vocês gravaram?
Ele está buscando uma fórmula para ganhar aqui [em Paris]. Ainda brinquei, coloquei uma peruca nele e disse que o problema é o cabelo. Se ele usar a peruca vai vencer.
Quando ele veio ao Brasil [em 2012] para jogar uma exibição comigo já fez isso de botar a peruca, me imitar, começou a mexer no quadril e fazer várias brincadeiras.
Ele é um cara bem à vontade. O sérvio tem um pouco do estilo brasileiro, solto, e isso facilita as coisas, porque é maçante o compromisso de ser número um do mundo. Assim ele minimiza os esforços, e a tendência é que consiga se prolongar no topo.

Na sua opinião, Djokovic passará Federer em títulos de Grand Slam [tem 11 contra 17]?
Quando a gente fala em melhor da história, os únicos fatores que dá para levar em consideração são os títulos e os percentuais, e ainda assim é subjetivo. Cada momento é diferente no esporte. O fantástico dele é que ele convive com dois dos maiores tenistas da história e está tendo sucesso. Os números, surpreendentemente, vão ser os maiores até hoje já vistos.

Guga e Djokovic

A que você atribui o fato de o Nadal ter voltado a jogar bem nos últimos meses?
Fisicamente, ele encontrou detalhes que o fizeram render muito melhor. Do Rio Open do ano passado para o Rio Open deste ano ele estava bem diferente, consistente na parte física, o que é fundamental para o jogo dele.
Faltava ainda a confiança, que vem naturalmente. Chegando em Roland Garros, ele cresce muito. Acho até que o Djokovic e o Murray torcem para jogar contra ele o quanto antes for possível, porque pegá-lo na final é assustador. O cara nunca perdeu uma final aqui e tem nove títulos.

Alguns fãs de tênis consideram que hoje o esporte está mais físico e que os atletas têm estilos parecidos, o que deixa o jogo chato. Você concorda?
Eu discordo, porque o tênis está mais atraente de assistir. O que os caras fazem é incrível. São várias trocas de bola, jogando quatro ou cinco horas. Eu acho é que, momentaneamente, está frustrante para quem assiste porque só dá Djokovic. Ele chega a ser irritante de tanto que ganha.
Perde aquela expectativa de quem vai ser o número um. Ele está duas braçadas à frente dos outros. O problema é que o Djokovic não joga bem uma semana, é o ano inteiro fantástico. É difícil ele jogar mal e, mesmo quando acontece, consegue vencer. Fica chato para quem assiste. É igual ver corrida de Fórmula 1 e saber que ninguém briga com os dois principais.

Casos como o doping de Maria Sharapova e a suspeita de manipulação de resultados afetam o prestígio do esporte?
Sempre tem um ponto fora da curva. Não gosto de julgar se é benefício, se foi sem querer. São episódios isolados. Quem vive o dia a dia sabe que não tem como burlar regra, é muita dedicação e disciplina.


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