Se a arbitragem costuma ser fator constante de polêmicas, nesta edição do Campeonato Brasileiro o barulho promete ser ainda maior.
O Ifab (International Federation Board, entidade que define as regras do futebol) divulgou em março o que entende ser o mais abrangente conjunto de mudanças nas leis de arbitragem em seus 130 anos de existência.
No calendário, o limite máximo para implantação da novidade é junho, mas a CBF decidiu fazê-la antes para abarcar o campeonato inteiro. Neste sábado (14), no Brasileiro, as novas regras já estarão em vigor.
A atualização tende a virar motivo de discórdia porque muitos clubes e seus representantes e atletas não têm pleno conhecimento das alterações em curso.
Nos cursos sobre o tema que a CBF têm promovido nas últimas semanas nas federações de todos os Estados que têm clubes nas Séries A e B, o comparecimento tem sido baixíssimo. No evento voltado para os clubes do Estado de São Paulo, só o Bragantino apareceu.
Procurados pela Folha, o Santos disse que teve atividades relativas à final do Paulista na data da reunião, e o Corinthians alegou que havia outros compromissos.
Já o Palmeiras justifica sua ausência dizendo que houve um desencontro, mas disse que vai se preparar para comparecer nos demais eventos. O São Paulo não respondeu até o fechamento deste texto.
Em sua aula na capital paulista, o ex-árbitro e representante brasileiro na Conmebol Wilson Seneme lamentou. "Parece que a gente quer viver lá atrás em todas as áreas. Parece que a gente não quer ser grande", diz.
Entre os representantes da CBF, há um consenso de que a dimensão da mudança associada ao desinteresse das agremiações devem propiciar desentendimentos ao longo do campeonato.
"Vai gerar polêmica, claro, quando os árbitros anotarem infrações de acordo com esses novos critérios", acredita o ex-árbitro Manoel Serapião.
"Fizemos uma força-tarefa, demos aulas, enviamos cópias, colocamos material no site... Imagine uma situação em que um jogador tenta cobrar o pênalti com a 'paradinha' e o árbitro dá cartão amarelo para ele e tiro livre indireto para o adversário? Vai ter reclamação demais. E isso poderia ser evitado", diz Serapião, que explicou as mudanças para os jogadores do Corinthians ao longo de mais de duas horas nesta sexta (13).
O Inter também pediu que encontro como esse seja feito em sua sede.
Como maneira de contornar a ausência dos clubes às aulas, Sérgio Corrêa, chefe da comissão de arbitragem da CBF, lançou mão de soluções complementares.
"Vai gerar reclamação em função do desconhecimento. É como a lei de trânsito: o limite passa a ser 50 km/h e até a pessoa se habituar, vai ser multada", afirma Corrêa.
"Mas estamos entregando para os treinadores o resumo das alterações, vamos também pedir para que os árbitros distribuam cópias antes dos jogos", complementa.