Folha de S. Paulo


Discreta, Fifa esquece escândalo de corrupção no centenário de Havelange

O centenário de João Havelange foi comemorado de forma discreta neste domingo (8) pela Fifa. A entidade, que foi comandada pelo dirigente por 24 anos (1974 até 1998), fez um breve comentário sobre o aniversariante no seu site.

A homenagem foi feita no artigo "Happy Birthday for You!" [Feliz Aniversário para Você]. O texto lembrou também de outras seis personalidades do mundo do futebol que vão fazer aniversário nesta semana.

Para ilustrar a reportagem, a Fifa preferiu estampar a foto do ex-jogador holandês Dennis Bergkamp, que completará 47 anos na terça (10). Lateral do Real Madrid, Marcelo foi outro lembrado no texto. Fora da seleção, ele fará 28 anos na próxima quinta (12).

No texto sobre o cartola brasileiro, a Fifa foi breve. No artigo, a entidade lembrou que Havelange disputou duas Olimpíadas como atleta (1936 e 1952) e que conseguiu 50 novos filiados nos 24 anos que comandou a federação. No artigo, a era Havelange também é destacada pela organização dos Mundiais de futebol feminino, sub-20 masculino, sub 17 masculino e de futsal.

Nos últimos anos, o cartola teve a sua carreira manchada pelo escândalo envolvendo a ISL, antiga empresa de marketing da Fifa acusada de repassar propinas a cartolas.

Linha do Tempo João Havelange

A Justiça da Suíça revelou que ele e Ricardo Teixeira, seu ex-genro e então presidente da CBF, receberam propinas milionárias em vendas de direitos de mídia de competições da Fifa. Foram cerca de R$ 45 milhões, divididos com Teixeira.

Por isso, em 2011, ele renunciou ao cargo de membro do COI (Comitê Olímpico Internacional). Dois anos depois, o carioca deixou à presidência de honra da Fifa

Dias após Havelange deixar a entidade, relatório assinado pelo presidente da câmara de adjudicação do Comitê de Ética da Fifa classificou de "reprovável" a conduta do brasileiro no caso ISL e disse que o dinheiro teria que ser devolvido aos cofres da entidade, o que não ocorreu.

CBF e Rio-2016

A CBF publicou neste domingo (9) um longo texto em homenagem ao centenário de João Havelange. No seu site, a entidade rasgou elogios ao cartola, que foi apresentado como "muito mais do que um dos dirigentes considerados dos maiores do século".

A nota conta detalhes da carreira de Havelange como atleta e como dirigente na antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos).

"Na administração João Havelange, a seleção brasileira alcançou o topo do mundo, com a conquista do tricampeonato mundial: 1958/1962/1970. Algo que nos transformou no 'País do Futebol', temido e admirado por todas as seleções do mundo. O outrora desacreditado futebol brasileiro passou a ter o devido respeito dos milhões de torcedores apaixonados pelo esporte mais popular do planeta", disse a CBF na nota.

Na "justa homenagem" publicada no seu site, a entidade comandada por Marco Polo Del Nero afirma que Havelange repetiu na Fifa "o que fizera com êxito no futebol brasileiro".

"A Copa do Mundo, por exemplo, até então um evento importante, passou a ter uma dimensão gigantesca. O campeonato, engrandecido, passou a despertar a emoção de milhões de torcedores em todos os cantos do mundo, com a repercussão advinda da intensa participação de todos os continentes e impulsionada pelas transmissões de jogos pela televisão", afirmou a CBF, que não fez menção ao escândalo envolvendo a ISL, antiga empresa de marketing da Fifa acusada de repassar propinas a cartolas.

Os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio também elogiaram o dirigente no dia do seu centenário.

Na nota publicada na noite de sábado (7), o órgão afirma que "João Havelange foi um dos dirigentes mais transformadores da história do esporte".

"Presidente da Fifa por mais de 24 anos, ele contribuiu também com o mundo Olímpico na posição de atleta e membro do COI. Seu discurso em Copenhague [onde o Rio foi escolhido sede da Olimpíada] no dia 2 de outubro de 2009, reta final da eleição da cidade-sede para os Jogos de 2016, praticamente assegurou a vitória do Rio", escreveu a Rio-2016, que é comandada por Carlos Arthur Nuzman.

Assim como a Fifa e a CBF, a entidade também deixou de citar no texto o envolvimento do cartola no escândalo de corrupção com a ISL.


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