Folha de S. Paulo


Trunfo do Santos na decisão, Vila Belmiro tem estrutura precária

"Sou alvinegro da Vila Belmiro", diz o primeiro verso do único hino dos grandes paulistas a fazer referência ao estádio do time. A conhecida identidade entre Santos e sua casa será, neste domingo (8), uma das principais armas da equipe no duelo com o Osasco Audax que definirá o campeão do Campeonato Paulista.

Neste ano, o estádio completa cem anos de existência (foi inaugurado em outubro de 1916), e o título consagraria uma série de invencibilidade que já é histórica.

O time não perde em seus domínios desde julho de 2015, acumulando 23 vitórias e quatro empates no período. Trata-se da oitava maior sequência invicta no local, que ficou conhecido como "alçapão" após a mais vitoriosa delas, entre junho de 1929 e dezembro de 1930, com 35 jogos e 29 triunfos.

Entre aqueles que já pisaram no Urbano Caldeira, cujo gramado foi aparado carinhosamente muitas vezes pelo ex-goleiro (1890-1933) que viria a dar nome ao estádio, santistas e rivais concordam que dois fatores fazem com que seja uma experiência singular atuar no local.

O primeiro deles é o fato de que na década de 1960 por lá passaram Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, o "ataque dos sonhos", integrantes de uma das escalações mais temidas da história.

"A diferença é que ela recebeu lendas do futebol mundial. Pelé eternizou a Vila. Virou o 12º jogador do Santos", diz Zenon, ex-meia do Corinthians, que ressalta, apesar disso, que jamais perdeu lá.

"Fica na cabeça dos jogadores, tanto dos santistas quanto dos adversários, que o Pelé pisou lá", completa.

"Quando desce a serra, o adversário já vai pensando que vai ter que jogar na Vila. Ela tem um clima de passado que construímos, porque ganhamos muitos títulos lá", diz o ex-jogador Pepe, apelidado "Canhão da Vila".

Vila Belmiro

ACANHADO

Outro fator considerado favorável ao time da casa são as dimensões modestas e a proximidade da torcida.

"O campo é bom e a torcida fica muito colada. A pressão é grande para quem joga lá", comenta Ademir da Guia, ídolo do Palmeiras.

"A energia positiva do torcedor que comparece ajuda bastante. Estamos tirando proveito, todos adoram jogar na Vila. Isso passa não só pelos mais antigos, os meninos também gostam dessa atmosfera", diz o volante Renato, presença garantida na final.

Editoria de Arte/Folhapress

Se a mística do local e a proximidade da torcida intimidam, algumas limitações estruturais prejudicam o clube, incomodam torcedores e geram queixas de atletas.

Segundo levantamento da CBF, a capacidade da Vila é de 16.068 pessoas, aproximadamente 1/3 do que comportam os mais modernos Allianz Parque e Arena Corinthians. Por conta disso, milhares de torcedores lamentam não poderem comparecer às finais todo ano e são frequentes as confusões nas filas para compra de ingressos. Neste ano, torcedores se queixaram de instabilidade no sistema do site de vendas.

Além disso, como a cota de ingressos é pequena, a arrecadação do clube é reduzida se comparada à dos rivais: em 2015, foi 1/5 da receita do Palmeiras.

Além de acanhada, a Vila não oferece os confortos dos estádios mais modernos. Há diversos "pontos cegos" – aqueles a partir dos quais o torcedor não tem visibilidade total do gramado.

Não há cobertura para chuvas, e o serviço de lanchonetes é precário. Encravada em bairro residencial, tem vias de acesso estreitas.

Profissionais que enfrentaram o Santos na Vila disseram à Folha que os vestiários têm boas condições, mas que alguns espaços são, de fato, apertados. Devido a limitações espaciais, também não há a "zona mista", local reservado para que jornalistas entrevistem os jogadores antes ou após as partidas.

Invencibilidade do Santos

Colaborou KLAUS RICHMOND, de Santos


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