Folha de S. Paulo


Elite mundial do tênis fica cinco anos mais velha em uma década

Glyn Kirk/AFP
Serbia's Novak Djokovic (L) holds the ATP trophy with runner up Switzerland's Roger Federer after winning the men's singles final match against on day eight of the ATP World Tour Finals tennis tournament in London on November 22, 2015. AFP PHOTO / GLYN KIRK ORG XMIT: 718
Djokovic e Federer durante a premiação das Finais da ATP, em dezembro

Pertencer à elite do tênis mundial, cada vez mais, não é para principiantes.

Desde 2006, quando pela primeira vez o quarteto formado por Roger Federer, 34 anos hoje, Rafael Nadal, 29, Novak Djokovic e Andy Murray, ambos com 28, integrou o top 20 do ranking simultaneamente, a média de idade dos melhores tenistas do mundo subiu quase cinco anos.

Levantamento feito pela Folha considerou o último ranking divulgado pela ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) em cada ano.

No fim de 2006, a média de idade do top 20 era de 23,7 anos. Na última lista do ano passado, chegou a 28,45. A tendência foi de aumento em praticamente todo o período.

Enquanto em 2006 havia dois jogadores com 19 anos (Djokovic e Murray) entre os 20 melhores, além de dois com 20 (Nadal e Richard Gasquet) e outros dois com 21 (Tomas Berdych e Marcos Baghdatis), o tenista mais novo ao fim de 2015 era o austríaco Dominic Thiem, 22.

O quarteto que dominou o esporte nos dez últimos anos envelheceu sem sair do topo, e os tenistas mais novos já não ascendem tão rapidamente quanto antes.

Atletas de uma geração intermediária, como o japonês Kei Nishikori, 26, e o canadense Milos Raonic, 25, registram bons resultados na carreira, mas, pelo menos até agora, não chegaram perto da liderança do ranking.

Atualmente, o australiano Nick Kyrgios, 21, é o 21º colocado e, junto com Thiem (14º), uma das principais apostas para chegar ao top 10 nos próximos meses. Nesta semana, ele caiu nas quartas do Masters 1.000 de Madri.

Entre os 100 primeiros há quatro nomes recém-saídos da adolescência: o croata Borna Coric, o alemão Alexander Zverev e o sul-coreano Hyeon Chung, todos de 19 anos, além do americano Taylor Fritz, 18.

CADA VEZ MAIS VELHOS - Nos últimos dez anos, tendência foi?de aumento na média de idade do top 20

FÍSICO PESA

Treinadores ouvidos pela reportagem concordam que um bom desempenho, hoje, depende muito mais do físico que em outras épocas.

Esse fato, porém, não favorece os mais jovens. Na visão deles, o ápice do atleta ocorre a partir dos 25 anos.

O ex-tenista Alessandro Guevara, dono de uma escola no Rio, afirma que quem tem mais qualidade e está no topo também possui a melhor equipe de preparação física.

"Jogadores mais novos têm mais força, mas os mais velhos duram mais [em quadra]. Eles têm bagagem, se conhecem, sabem o que vale a pena na preparação", diz.

Para Leo Azevedo, que integra o quadro da Usta (Associação de Tênis dos Estados Unidos), primeiro o sueco Bjorn Borg, depois o tcheco naturalizado americano Ivan Lendl, que atuaram nos anos 1970 e 1980, foram responsáveis pelo aumento da importância do físico. Mais tarde, Nadal ratificou a tendência.

Isso, de acordo com o brasileiro, influencia no momento de recrutar jovens tenistas.

"Tem que olhar para o tamanho dele e dos pais. Não é basquete ou vôlei, mas está indo na mesma direção. A média de altura também está crescendo bastante. É difícil apostar em alguém que não tenha aptidões atléticas muito boas", afirma.

Promessas do tênis

SUCESSORES

O reinado de Djokovic parece estar longe do fim. Enquanto o número 1 do ranking ainda acumula feitos, a dúvida sobre quem poderá ser o seu sucessor persiste.

Azevedo aposta em tenistas da nova geração, principalmente em Kyrgios e Zverev. "Vai ser uma competição pesada, com cinco ou seis dos novos babando e sem os caras que hoje dominam", diz.

Guevara, por outro lado, acredita que alguém da geração intermediária chegará ao topo antes dos mais novos.

"A tendência é que isso [envelhecimento] seja mantido. Jogadores com 26 anos em diante dominando o tênis."


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