Folha de S. Paulo


Flamengo e Palmeiras são os que mais faturam sem contar venda de atletas

Pedro Ladeira - 17.ago.2015/Folhapress
Torcida do Flamengo em jogo no estádio Mané Garrincha, em Brasília
Torcida do Flamengo em jogo no estádio Mané Garrincha, em Brasília

Flamengo e Palmeiras foram os clubes que tiveram maior receita em 2015 sem que se leve em conta as vendas de atletas no período. Analisando-se variáveis como direitos de TV, patrocínios, sócios e bilheteria, o time do Rio teve faturamento de R$ 344 milhões na última temporada, enquanto o Palmeiras angariou R$ 339 milhões.

Os números fazem parte de estudo do especialista em marketing esportivo Amir Somoggi a partir dos balanços financeiros de 2015 dos 20 clubes de maior receita. Segundo ele, esses números indicam que Flamengo e Palmeiras tiveram maior "crescimento operacional", ou seja, menos sujeito a fatores variáveis (como venda de atletas) e mais provável que se mantenha no longo prazo.

"O Palmeiras é o melhor clube para se explicar o crescimento de um ponto de vista operacional. Ele caiu drasticamente na venda de atletas, mas cresceu naquilo que interessa: bilheteria, sócio-torcedor e patrocínios. Houve o impacto da arena [Allianz Parque]", diz.

"O Palmeiras hoje é o Flamengo de ontem. O 'boom' que o Flamengo teve nos últimos dois anos o Palmeiras está vivendo agora."

Em relação a 2014, o Palmeiras teve crescimento de 85% de sua receita, ao passo que o Flamengo teve 5%.

Evolução da receita total dos 20 maiores clubes do Brasil* - Em milhões de R$

Ainda que as cotas de TV respondam pela maior parte da receita do Palmeiras (R$ 88,4 mi), ele sustentou o aumento de seus valores com patrocínios (R$ 69,4 milhões, sendo que em 2014 recebeu R$ 17 mi) e com a bilheteria do Allianz Parque (R$ 87,2 mi, contra R$ 23,2 mi de 2014).

No caso do Flamengo, a matemática é parecida: R$ 127,9 milhões de cotas de TV, que se somam a valores substantivos de patrocínios (R$ 85,5 mi) e bilheteria (R$ 43,7). De acordo com Somoggi, como o trabalho "operacional" tem sido feito há alguns anos, o crescimento é menor de uma temporada para outra, mas estável.

"Eu falo da fábula da formiga e da cigarra para falar de Flamengo e Corinthians. No inverno pelo qual passamos, o Flamengo reduziu sua dívida de R$ 800 milhões [em 2012] para R$ 579 milhões e passa por superávit. Ele diminui gastos e aumenta receita consistentemente. Já o Corinthians vive a pior situação financeira entre os grandes: tem uma dívida de R$ 453 milhões e a questão do estádio, que nem entra no balanço. Com a bilheteria comprometida para pagar a arena, não sei de onde o clube vai tirar dinheiro para aumentar sua receita", diz o consultor.

"Se você colocar R$ 400 milhões como a dívida do estádio, não há clube no país mais endividado que o Corinthians. É um clube com potencial de receita monstruoso, mas que só pode crescer reduzindo dívidas, que é justamente o que ele não tem conseguido fazer", conclui.

CRESCIMENTO

O levantamento aponta crescimento de 19% no faturamento conjunto das 20 agremiações de maior receita. Ao todo, o valor chegou a R$ 3,7 bilhões.

O principal fator para tal crescimento foi justamente o aumento das receitas advindas de transferências de atletas, que passou de R$ 406 milhões em 2014 para R$ 643 milhões na última temporada, registrando diferença de 57%. Em 2015, elas representaram 17% das receitas dos clubes, três pontos percentuais a mais que na temporada anterior.

Mais que o aumento quantitativo das transferências de jogadores brasileiros para o exterior (689 em 2014, contra 774 em 2015), as generosas cifras pagas por novos mercados, especialmente o chinês, inflacionaram os valores.

É o caso do Cruzeiro, clube com a maior receita em 2015, com quase R$ 364 milhões, que levantou cerca de € 24 milhões (R$ 96,5 milhões em valores atuais) apenas com a venda de dois jogadores, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, para times da China.

"Os picos de crescimento do futebol brasileiro coincidem com a venda de jogadores. Em 2005, foi o Robinho, do Santos; depois 2007, foi o Pato, do Inter, e o Breno, do São Paulo", analisa Somoggi.

Distribuição das fontes de receitas - Em %

Os valores referentes a direitos de TV, que cresceram 28% em relação ao ano passado, agregaram R$ 1,39 bilhão aos cofres dos clubes, e seguem como principais fontes de receitas, respondendo por 38% do total.

Além das parcelas previstas em contrato que cada clube ganha, que variam de R$ 27 milhões a R$ 110 milhões no atual ciclo, Somoggi acredita que o aumento significativo dos valores em 2015 pode se referir a adiantamentos de receita e luvas pagas por acordos futuros de direitos de transmissão.

"Não vejo outra explicação a não ser adiantamentos e luvas, porque os direitos de TV só deveriam subir de acordo com o IPCA [10,7%]. As negociações por direitos de TV têm sido agitadas nos bastidores, houve a entrada da Primeira Liga, do Esporte Interativo, e isso já está impactando no balanço de 2015", analisa.

Os casos que chamam mais atenção são os de Cruzeiro, Atlético-MG e Vasco da Gama, respectivamente primeiro, quarto e quinto no ranking de arrecadação com direitos de TV. No atual contrato, os times mineiros recebem cerca de R$ 60 mi anuais da Globo, ao passo que Corinthians e Flamengo levam R$ 170 mi.

Procurado pela Folha, o Cruzeiro disse que não comenta o assunto devido à cláusula de confidencialidade em seu contrato de TV. O Atlético-MG não se pronunciou até o fechamento da edição.

As dez maiores receitas em 2015 - Em R$ milhões

Colaborou MARCEL RIZZO, de São Paulo


Endereço da página:

Links no texto: