Folha de S. Paulo


Venda de jogadores e direitos de TV fazem receita de clubes crescer 19%

Joel Rodrigues/Folhapress
Torcedores do Cruzeiro durante uma partida do Campeonato Brasileiro
Torcedores do Cruzeiro durante uma partida do Campeonato Brasileiro

O espectro da crise econômica tem rondado o Brasil, mas os maiores clubes de futebol do país têm conseguido conjurá-lo com boa dose de sucesso. Levantamento dos balanços financeiros de 2015 dos 20 clubes de maior receita feito pelo especialista em marketing esportivo Amir Somoggi aponta crescimento de 19% no faturamento conjunto das agremiações. Ao todo, o valor chegou a R$ 3,7 bilhões.

O principal fator para tal crescimento foi o aumento das receitas advindas de transferências de atletas, que passou de R$ 406 milhões em 2014 para R$ 643 milhões na última temporada, registrando diferença de 57%. Em 2015, elas representaram 17% das receitas dos clubes, três pontos percentuais a mais que na temporada anterior.

Mais que o aumento quantitativo das transferências de jogadores brasileiros para o exterior (689 em 2014, contra 774 em 2015), as generosas cifras pagas por novos mercados, especialmente o chinês, inflacionaram os valores.

É o caso do Cruzeiro, clube com a maior receita em 2015, com quase R$ 364 milhões, que levantou cerca de € 24 milhões (R$ 96,5 milhões em valores atuais) apenas com a venda de dois jogadores, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, para times da China.

"Os picos de crescimento do futebol brasileiro coincidem com a venda de jogadores. Em 2005, foi o Robinho, do Santos; depois 2007, foi o Pato, do Inter, e o Breno, do São Paulo", analisa Somoggi.

Evolução da receita total dos 20 maiores clubes do Brasil* - Em milhões de R$

Os valores referentes a direitos de TV, que cresceram 28% em relação ao ano passado, agregaram R$ 1,39 bilhão aos cofres dos clubes, e seguem como principais fontes de receitas, respondendo por 38% do total.

Além das parcelas previstas em contrato que cada clube ganha, que variam de R$ 27 milhões a R$ 110 milhões no atual ciclo, Somoggi acredita que o aumento significativo dos valores em 2015 pode se referir a adiantamentos de receita e luvas pagas por acordos futuros de direitos de transmissão.

"Não vejo outra explicação a não ser adiantamentos e luvas, porque os direitos de TV só deveriam subir de acordo com o IPCA [10,7%]. As negociações por direitos de TV têm sido agitadas nos bastidores, houve a entrada da Primeira Liga, do Esporte Interativo, e isso já está impactando no balanço de 2015", analisa.

Distribuição das fontes de receitas - Em %

Os casos que chamam mais atenção são os de Cruzeiro, Atlético-MG e Vasco da Gama, respectivamente primeiro, quarto e quinto no ranking de arrecadação com direitos de TV. No atual contrato, os times mineiros recebem cerca de R$ 60 mi anuais da Globo, ao passo que Corinthians e Flamengo levam R$ 170 mi.

Procurado pela Folha, o Cruzeiro disse que não comenta o assunto devido à cláusula de confidencialidade em seu contrato de TV. O Atlético-MG não se pronunciou até o fechamento da edição.

PROFUT

Segundo o levantamento de Somoggi, os 20 clubes tiveram superávit de R$ 147 milhões em 2015, valor significativamente superior ao déficit de R$ 626,4 milhões do ano anterior.

O estudo mostra que grande parte do resultado se deve à adesão de alguns clubes ao Profut, a lei de responsabilidade fiscal do esporte que permite o refinanciamento das dívidas em troca do compromisso de se adequarem a diretrizes de responsabilidade, como não adiantar receitas e regularizar as ações trabalhistas.

O valor de R$ 685 milhões entrou como "receitas financeiras" no balanço dos clubes. Sem ele, diz Somoggi, "os déficits teriam chegado a R$ 538 milhões". Desde 2003, os clubes tiveram superávits somente em 2005 e 2012.

As dez maiores receitas em 2015 - Em R$ milhões

Colaborou MARCEL RIZZO, de São Paulo


Endereço da página:

Links no texto: