Folha de S. Paulo


Se não fosse jogador de futebol, teria sido um assassino, diz Felipe Melo

Em entrevista à Sky Sports, o volante brasileiro Felipe Melo, 32, da Inter de Milão, falou sobre a vida difícil que teve no início da carreira e disse que poderia ter virado um assassino, já que foi criado em uma favela.

"Se eu não fosse jogador, teria sido um assassino. Vivia em uma das favelas mais perigosas e ali havia drogas e armas. Deixei aquela vida para seguir meu sonho. Às vezes ia ao treinamento e, na volta, algum amigo meu estava morto. Tinha que dizer sim ao futebol ou a uma vida ruim. E disse sim ao futebol e a uma vida diferente", disse o brasileiro.

"Quando acertei com o Flamengo foi difícil, pois a princípio tinha que pegar um ônibus que demorava duas horas para chegar ao centro de treinamento. E também tinha que pagar o transporte. Meu pai, que tinha dois trabalhos quando eu era menino, deixou seu emprego e começou a me levar aos treinos. Às vezes, me dava um pouco do seu café da manhã. Quando tinha dez anos, era só um menino que queria jogar com os amigos e me perguntava porque tudo era tão difícil. Agora, dou muita importância a esses sacrifícios, pois me permitiram chegar até aqui", acrescentou.

Na entrevista, o volante agradeceu sua esposa e disse que mudou de comportamento após se casar. "Quando conheci a minha esposa, nasceu outro Felipe Melo. No Grêmio, gastava todo o meu salário e levava uma vida estranha. Tive três filhos com ela e com a minha família eu conquistei tudo o que tenho agora. Depois de Deus, eles são as pessoas mais importantes. Dizem que atrás de um grande homem há uma grande mulher, eu digo que a mulher está sempre do lado", completou.

Felipe Melo, que foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo-2010, começou a carreira no Flamengo. Ele também atuou por Cruzeiro, Grêmio, Mallorca, Racing Santander, Almería, Fiorentina, Juventus, Galatasaray. O jogador está na Inter de Milão desde agosto do ano passado.

EXPLICAÇÕES

Nesta segunda (25), por meio de sua conta no Facebook, Felipe Melo disse que usou a o termo "assassino" por que "fugiu a palavra no idioma [italiano]".

"Quis dizer, na verdade, que se não fosse jogador, poderia acabar me enveredando no mundo do crime, pois as boas chances em uma comunidade de São Gonçalo, onde eu morava quando jogava no Flamengo, não são muitas, mas eu nunca teria coragem de matar alguém. Assassino certamente não seria", escreveu.

Leia a íntegra da postagem do jogador

Sei que algumas pessoas devem ter ficado chocadas com minha declaração de que se não fosse jogador, seria um assassino, mas eu explico.

Concedi a entrevista a um veículo de imprensa italiano, falando em italiano e, na hora, me fugiu a palavra no idioma. Quis dizer, na verdade, que se não fosse jogador, poderia acabar me enveredando no mundo do crime, pois as boas chances em uma comunidade de São Gonçalo, onde eu morava quando jogava no Flamengo, não são muitas, mas eu nunca teria coragem de matar alguém. Assassino, certamente não seria.

Mas claro que tem outros aspectos, além do futebol, que me influenciaram a não me tornar um marginal e viver à margem do que é correto, do que Deus aponta. Sou de uma família cristã e tenho Deus no coração. Embora presenciasse tudo de errado, nunca tive curiosidade nenhuma de experimentar nenhum tipo de droga. Embora todos estes anos na Europa, que é comum o jogador fumar, detesto cigarro. Sempre respeitei meu corpo e, por isso, chego aos 32 anos jogando em alto nível.

Estou feliz por ser titular em uma equipe como a Inter de Milão e não vou deixar essa materia estragar o meu momento, mas não culpo o veículo para o qual falei e os que reproduziram, pois, apenas, me expressei de maneira errada.

Não gosto de perder nem par ou ímpar, por isso essa garra, essa determinação em campo, mas sou um cara do bem, que ama a esposa, os quatro filhos...

Certamente, ser competitivo, me levou a essa grande vitoria na vida pessoal e profissional.

Olivier Morin/AFP
Felipe Melo durante jogo pela Inter de Milão
Felipe Melo durante jogo pela Inter de Milão

Endereço da página:

Links no texto: