Folha de S. Paulo


Torcedor que assumiu culpa em Oruro foi detido após clássico

O torcedor que assumiu a autoria do disparo de um sinalizador que matou o garoto Kevin Beltrán Espada em Oruro, em 2013, durante jogo da Libertadores entre San Jose e Corinthians, foi detido em uma das confusões do último domingo (3), após o clássico entre Palmeiras e Corinthians.

Torcedor cujo nome à época não foi revelado, Helder Alves Martins, hoje com 20 anos, estava na briga que aconteceu ao lado da estação Clínicas do metrô, local próximo ao Pacaembu, onde ocorreu o clássico.

Membros da Gaviões da Fiel voltavam da partida em um caminhão com instrumentos musicais e faixas da torcida, quando encontraram rivais, que estavam em carro parado no sinal.

Jorge Araujo/Folhapress
Helder Alves Martins, então com 17 anops, no dia em que se entregou em Guarulhos, em 2013
Helder Alves Martins, então com 17 anos, no dia em que se entregou em Guarulhos, em 2013

De acordo com a versão dos alvinegros, o local onde a confusão aconteceu fazia parte do trajeto pré-determinado a ser seguido pelas torcidas corintianas. Ainda de acordo com eles, os três palmeirenses –cujos nomes não são conhecidos– provocaram os rivais.

Diante da situação, os integrantes da Gaviões desceram do veículo, dando início a uma troca de agressões.

Vinte e nove pessoas foram detidas e levadas para delegacia. No boletim de ocorrência, um dos nomes que aparecem é o de Helder Martins.

Aliás, integrantes da Gaviões confirmaram que Martins estava no caminhão.

No documento assinado na delegacia, 21 dos 29 foram identificados como cadastrados na Gaviões, de acordo com informações policiais.

Não há, porém, informações específicas sobre a participação de Martins na confusão deste domingo.

Além dele, há mais dois torcedores que foram presos em Oruro, suspeitos de terem disparado o sinalizador, como foi informado pela Rede Globo na segunda (4).

Tadeu Macedo de Andrade e Leandro Silva ficaram 156 dias detidos na Bolívia, mas não tiveram a culpa comprovada e foram soltos.

Então adolescente na época, com 17 anos, Hélder assumiu a culpa, declarando ter comprado o sinalizador por conta própria na rua 25 de Março, em São Paulo, sem saber que era um artefato explosivo. A investigação do caso no Brasil foi arquivada.

Procurado pela reportagem, o advogado da torcida corintiana disse não saber nada sobre o assunto. Martins não foi localizado.

RELEMBRE O CASO KEVIN ESPADA

20.fev.2013
Durante o jogo entre Corinthians e San José, pela Libertadores, o adolescente Kevin Beltrán Espada, 14, morreu após ser atingido no olho por um sinalizador lançado pela torcida corintiana em Oruro, na Bolívia. Doze torcedores organizados da Gaviões da Fiel e da Pavilhão 9, suspeitos de terem praticado o disparo, são presos pela polícia local

25.fev.2013
Helder Alves Martins, então com 17 anos, foi identificado pela Gaviões como o autor do disparo. Filiado à torcida desde 2010, ele se entregou à Vara da Infância e Juventude de Guarulhos, assumindo ter levado o sinalizador para o estádio e disparado o artefato acidentalmente na direção da torcida boliviana

11.abr.2013
O Ministério Público de São Paulo decidiu processar Martins por homicídio. A Justiça boliviana, contudo, ignorou depoimento do jovem e manteve acusação sobre os 12 torcedores presos

6.jun.2013
Sete dos 12 torcedores presos foram libertados na Bolívia. Três dias depois, eles chegaram ao Brasil. Segundo a defesa dos brasileiros, a confissão de Martins colaborou para a soltura

2.ago.2013
A Justiça da Bolívia rejeitou apelação da família de Kevin Espada e libertou os cinco torcedores ainda presos em Oruro após a promotoria ter reconhecido a falta de provas contra os detidos. O pai do garoto, Limbert Beltrán, disse que a confissão de Martins "foi uma armação"

24.ago.2013
O processo instaurado no Brasil contra Martins foi arquivado após Justiça boliviana abrir investigação com o mesmo teor. Como não pode ser extraditado, ele não corre o risco de ser punido

Jorge Abrego - 23.fev.2013/Efe
Parentes e amigos acompanham o enterro de Kevin Espada, morto durante o jogo entre San José e Corinthians, na Bolívia
Parentes e amigos no enterro de Kevin Espada, morto durante jogo entre San Jose e Corinthians

PACOTE ANTI-VIOLÊNCIA
Medidas anunciadas pelo governo estadual na segunda (4) para conter brigas entre torcedores

TORCIDA ÚNICA
Nos clássicos entre clubes de São Paulo, será permitida apenas a entrada da torcida do time mandante. A medida, que já foi adotada em outros Estados, como Minas, Goiás e Paraná, vale para todos os jogos disputados até o final deste ano

INGRESSOS ON-LINE
Os clubes não poderão entregar ingressos separadamente para as organizadas. A venda de entradas só poderá ser feita pela internet, com identificação do torcedor. A medida deve ser implementada até o início do Brasileiro deste ano, em maio

SEM ADEREÇOS
As torcidas organizadas não poderão usar ou levar ao estádio adereços que contenham sua identificação, como camisetas, faixas, bandeiras e instrumentos. A entrada com camisa do time continua sendo permitida

CENTRAL DE POLÍCIA
A Secretaria de Estado da Segurança Pública vai criar uma central para receber denúncias e consolidar todas as ocorrências relacionadas à violência de torcidas organizadas em parceria com o Juizado do Torcedor


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