Enquanto Dunga completava aniversário de um ano de seu retorno à seleção brasileira, no meio do ano passado, Tite era procurado por emissários da CBF.
É o que ele mesmo conta em um livro do qual é tema, escrito pela jornalista Camila Mattoso, da Folha, que será lançado no início do próximo mês de maio, pela editora Panda Books.
O treinador recebeu duas ligações, ambas em 2015 e em nome do agora presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, que nega ter ido atrás do técnico corintiano.
Um contato aconteceu antes da Copa América, no Chile, e o outro cerca de três semanas depois, quando o Brasil foi eliminado pelo Paraguai, nas quartas de final.
Nessas ocasiões, José Maria Marin, ex-presidente e então vice da atual gestão, já havia sido preso na Suíça, em operação da polícia local com o FBI, acusado de receber e pedir propina em negócios envolvendo futebol.
"Solicitaram uma reunião nos Jardins [bairro nobre da capital paulista] e eu disse que não iria, por duas vezes", diz Tite, sobre o chamado que recebeu com a recomendação de sigilo completo.
A entrevista do técnico para a jornalista aconteceu em dezembro de 2015, logo depois do hexacampeonato do Corinthians. A essa altura, não havia uma forte cobrança sobre Dunga a respeito dos resultados da seleção.
A história foi contada por outras pessoas e, depois, confirmada por ele, que resistiu em falar em uma primeira abordagem.
De acordo com Tite, o emissário, cujo nome não foi revelado, pediu nas duas vezes que o treinador fosse ao local acertado e entrasse por acessos alternativos.
"Meu irmão me ligou e falou o que tinha acontecido. Estava surpreso como poucas vezes. Ele estava decidido a não ir. Chamar para uma reunião, naquele momento? Ele falava ao telefone: com esses caras que estão no comando, eu não vou... não vou", conta Ademir Bachi, conhecido como Miro.
O irmão do técnico também deu entrevista ao livro, cujo título é "Tite".
"Foi depois da prisão do Marin, ex-presidente da CBF. Eu acho que a intenção era criar um fato para tentar abafar toda a crise, trocando de técnico e fazendo uma coisa que parte dos torcedores e a opinião pública elogiariam. Mas a gente só saberia se ele tivesse ido", completa.
Antes da Copa América de 2015, Dunga tinha dez jogos e dez vitórias, considerando apenas sua segunda passagem pela seleção.
Durante o ano sabático que teve, em 2014, Tite tinha a expectativa de ser chamado quando Luiz Felipe Scolari foi demitido logo após o fracasso da Copa, com o 7 a 1 contra a Alemanha. O telefone do de Tite, porém, não tocou.
A CBF anunciou Dunga oficialmente no dia 22 de julho de 2014, uma semana depois de Felipão ser avisado que não continuaria mais na função de técnico da seleção.
Divulgação | ||
Tite sinaliza durante treino do Corinthians |
OUTRO LADO
O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, respondeu à autora do livro sobre o episódio. Ele negou que tenha pedido a alguém para sondar Tite.
"Ninguém está autorizado em falar em meu nome. Ninguém. Ele fez bem de não ter ido porque não fui eu que chamei", afirmou.