Folha de S. Paulo


Vácuo político na CBF dificulta mudança no comando da seleção

O futuro da seleção brasileira, atualmente fora da zona de classificação à Copa do Mundo-2018, passa pelo desenrolar de história com três personagens centrais: Dunga, o treinador, Neymar, o craque e capitão, e Marco Polo Del Nero, o presidente que está licenciado.

Em pouco mais de dois meses, será realizada a Copa América do Centenário. Em agosto, a Rio-2016, torneio que o país nunca ganhou, e em setembro o retorno das eliminatórias, para encarar o segundo colocado, Equador.

Ano agitado dentro de campo, em que demonstra futebol ruim, mas também com turbulência fora dele.

Dunga, por exemplo, não é unanimidade dentro da CBF. O problema é que há vácuo de poder na confederação, o que dificulta uma mudança.

Embora de licença para se defender de acusações de corrupção, Del Nero ainda exerce bastante influência no comando. Ele recebeu sugestões de presidentes de federações para que optasse pela demissão de Dunga. Dois desses cartolas identificaram que parte do elenco não gosta do técnico.

"Não se trata de estar contente ou infeliz. Se estamos aqui, temos que abraçar a causa, o treinador, a comissão técnica, todos", disse o lateral Daniel Alves.

A Folha apurou que Del Nero ouve as sugestões, mas sua preocupação maior é tentar voltar intacto à presidência, já que corre o risco de ser suspenso pela Fifa.

Por isso deu carta branca a Gilmar Rinaldi, o diretor de seleções, que não tem a intenção de demitir Dunga.

Uma das reclamações da cartolagem é a existência de uma "República do Rio Grande do Sul". Dunga e Rinaldi são gaúchos, assim como o auxiliar Andrey Lopes e o preparador de goleiros Taffarel. Dunga discorda.

"É uma casualidade [tantos gaúchos na comissão e direção]. Buscamos sempre a competência, a amizade vem por último para contratar. Tenho pessoas comigo que têm a liberdade de apontar meus erros".

Há incômodo na preparação olímpica da seleção, torneio que era tido como prioridade no ano, já que será disputado no Brasil, e o país nunca ganhou o ouro. Dunga deve ser o técnico em agosto, mas quem tem treinado a equipe é uma comissão da base.

Apenas um dos integrantes, o técnico Rogério Micale, está cotado para ir ao Rio, como auxiliar. Isso, segundo a Folha apurou, tem causado insatisfação de outros profissionais.

CRAQUE QUE NÃO JOGA

Dos dez últimos jogos da seleção, Neymar participou de apenas cinco. Ficou fora da outra metade por conta de suspensões.

Mesmo quando está em campo, suas atuações vem sendo bem abaixo do que se vê no Barcelona, e há dentro da CBF dúvidas se o jogador está empolgado em defender a seleção de Dunga.

A entidade ainda tenta contar com ele tanto na Copa América quanto na Olimpíada, desejo do atleta –o Barcelona só precisa liberá-lo para a competição continental, e é preciso negociar para que ele possa estar em ambas.

O enredo todo é resumido por um cartola que esteve próximo da seleção recentemente, ouvido pela reportagem: "se a CBF tiver que escolher entre Dunga e Neymar, não há ninguém para tomar essa decisão".


Endereço da página:

Links no texto: