Folha de S. Paulo


Opinião

Assistir ao tênis hoje me dá um enorme tédio

Por que dois saques no tênis? Ninguém tem dois pênaltis ou dois escanteios. É ridículo o tal do segundo serviço

Sou daquelas pessoas para quem a TV serve sobretudo para duas coisas: noticiário e esportes –e alguns programas de entrevistas.

É muito claro que o tênis chegou ao seu limite. É hoje uma pancadaria de ambos os lados e ganha quem tiver mais força física e mental. É uma maratona com raquetes, coisa para Ironman, não para tenistas.

Depois do futebol, o tênis sempre foi meu esporte favorito. Porém, assisti-lo hoje em dia me dá um tédio gigantesco, mesmo nos jogos do Djokovic. São horas e horas para que se defina quem vence o game. Tem às vezes até 40 trocas de bolas, ninguém sabe mais o que é subir à rede e, de fato, matar o ponto.

Pouquíssimas são as jogadas realmente talentosas, pois a maioria é correria desumana e chata, exceção ao genial Roger Federer.

Filip Singer/Efe
O sérvio Novak Djokovic vence o suíço Roger Federer e vai à final do Aberto da Austrália, em Melbourne, nesta quinta-feira
Novak Djokovic comemora vitória contra Roger Federer no Aberto da Austrália de 2016

O tênis sempre foi um esporte de técnica, talento, sobretudo inteligência. A consequência desta brutalização é começarmos a ver tenistas de ponta sendo flagrados no antidoping, o que era impensável anos atrás.

Por que se doparia um John McEnroe se seu jogo era puro talento e ele definia seus pontos na rede, o que lhe permitia ainda dirigir alguns impropérios para o juiz? Por que se dopariam as elegantes Maria Esther Bueno e Steffi Graf?

Todos esses esportes têm confederações e eu pergunto: para que elas servem além de só promoverem os torneios e ganharem rios de dinheiro? Por que não repensar o esporte quando percebem que o limite já foi encontrado?

Reprodução
O tenista John McEnroe discute com o juiz da partida contra Jean-Philippe Fleurian, em 1991. [FSP-Esporte-05.05.96]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
John McEnroe discute com o juiz durante partida em 1991

Se por um dia fosse ditador da Confederação Mundial de Tênis, tornaria urgentes as seguintes medidas:

1) É proibido gritar ao bater na bola.

2) É proibido pedir a toalhinha a cada ponto com dedo em riste e atirá-la de volta ao pobre garoto que lá estava.

3) É proibido a cada ponto cerrar o punho e procurar nas tribunas o treinador, a namorada ou a mamãe, como faz o chorão do Murray.

4) É proibido bater a bolinha no chão mais de três vezes antes de sacar.

5) É proibido, sob pena de exclusão do torneio, mexer na cueca e colocar o dedo no nariz.

Na verdade, não precisaria ser ditador para mudar esses cinco pontos. Qualquer conselho com bom senso as aprovaria. Precisaria sim de extras poderes para tomar duas decisões fundamentais para que o tênis seja salvo:

1) Após 40 iguais, chega dessa chatice de vantagem a favor ou contra –o próximo ponto define o game, todo mundo já acabou com isto;

2) Esta a mais importante e que traria de volta o esporte para a beleza e a sutileza de outros tempos: só um saque. Por que dois? Ninguém tem dois pênaltis ou dois escanteios. Tênis de mesa e vôlei, esportes similares, só te dão uma única chance para começar o ponto. É ridículo o tal do segundo serviço.

Quer arriscar? Que faça logo de cara. Aí sim poderíamos ver mais jogos pela TV sem ficar, às vezes, cinco ou seis horas diante dela e ainda perder o almoço de domingo.

No mínimo a "tal confederação" deveria fazer testes em seus eventos menores e colocar em prática algumas novidades para ver como ficaria –mas isso dá trabalho...

Nós, amadores, sabemos que o tênis é, sobretudo, identificar as fraquezas do adversário. Daí, o tal bate-bola no inicio do jogo não é para esquentar e sim para "conhecer" o adversário.

Temo que se nada for feito, o tênis acabe ficando mais chato que o próprio vôlei e futebol quando jogado na areia fofa, meros testes de resistência física. E olha que quem escreve gosta até de curling...


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