Folha de S. Paulo


Del Nero usa aeronaves de investigado na CPI para ir à praia

Marco Polo Del Nero, presidente licenciado da CBF, usou aeronaves de um empresário que tem negócios com a entidade para levar amigos e amigas a Angra dos Reis (RJ), onde gosta de passar os finais de semana.

Este foi apenas um dos destinos patrocinados por Wagner Abrahão, dono do Grupo Águia, que há décadas cuida das viagens da seleção e dos times que disputam o Brasileiro das séries B, C e D.

Assim como a CBF e Del Nero, Abrahão também é investigado pela CPI do Futebol no Senado por suspeita de ser favorecido pela confederação em acordos comerciais.

Os voos aconteceram mesmo depois que Del Nero pediu licença do cargo, em dezembro. Além dele, seus antecessores, Ricardo Teixeira e José Maria Marin, usaram as aeronaves de Abrahão.

A CBF tem suas próprias aeronaves: um helicóptero e um jato Cessna Citation.

Presidente licenciado da confederação, Marco Polo Del Nero é o recordista de voos no helicóptero do empresário. Ele viajou ao menos oito vezes na aeronave de prefixo PR-VTH –seis delas como chefe da entidade e dois já afastado do cargo.

Del Nero é acusado pelo FBI de participar de esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios. Além do FBI e da CPI, ele é investigado pelo Comitê de Ética da Fifa.

Angra é um dos destinos preferidos de Del Nero nas viagens a bordo da aeronave de Abrahão. Foi e voltou de lá no Bell 429 ao menos sete vezes para períodos de folga.

No total, o presidente licenciado e seus amigos usaram o aparelho da empresa em mais de 18 horas de voo.

Em ao menos três ocasiões, a aeronave do empresário levou só convidados de Del Nero. Em duas delas, no dia 10 de outubro passado, quatro mulheres e um homem embarcaram no Galeão (Rio) com destino a Angra. No dia 12, na volta do feriado, o grupo retornou ao Rio no helicóptero de Abrahão.

TEIXEIRA E MARIN

Presidente da CBF por mais de duas décadas e responsável pelo início da parceria da entidade com o empresário, Teixeira também aproveitou o helicóptero do Grupo Águia.

Ele decolou na aeronave cinco vezes de agosto a dezembro de 2015, período em que a CPI já investigava Abrahão. Teixeira usou o helicóptero para viajar para a sua fazenda em Piraí (RJ) e para Leopoldina (MG).

Em prisão domiciliar nos EUA desde o ano passado, José Maria Marin, que deixou o comando da CBF em abril, pegou três vezes carona nas aeronaves do grupo.

NEGÓCIOS

Além de ter a CBF como um dos seus principais clientes, Abrahão e seus familiares também fazem negócios com cartolas da entidade.

Em abril de 2015, a Folha revelou que Del Nero comprou de Abrahão por R$ 5,2 milhões uma cobertura dúplex no Rio. O apartamento pertencia a uma empresa dos filhos de Abrahão.

No acordo, o dirigente repassou ao empresário por cerca de R$ 410 mil e um saldo devedor não revelado uma outra cobertura dúplex no condomínio. A negociação é considera suspeita pelo presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ).

Em 2012, a reportagem revelou que a CBF designou, em contrato, quatro empresas do Grupo Águia para receber os valores do patrocínio da TAM com a seleção. O contrato foi rompido logo em seguida.

OUTRO LADO

O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, e o empresário Wagner Abrahão se recusaram a comentar as frequentes viagens dos cartolas e seus convidados nas aeronaves do Grupo Águia.

Questionado, o empresário se limitou a enviar, por meio de sua assessoria, uma frase como resposta: "O grupo Águia respondeu que respeita a confidencialidade dos seus clientes".

Del Nero não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens enviadas.

Já a CBF admitiu que os seus dirigentes podem usar as aeronaves do grupo. Segundo a entidade, os voos foram debitados em um acordo de compensação de horas estabelecido pela CBF com o empresário.

"Por estes convênios, de forma esporádica, em caso de defeito, revisão ou indisponibilidade de transporte próprio, a entidade pode se utilizar de aeronave de parceiros, sem custos, debitando-se de um banco de horas, conferindo-se aos parceiros idêntico direito", informou a confederação, em nota.

Ou seja, o Grupo Águia poderia utilizar as aeronaves da CBF em troca do empréstimo.

De acordo com a entidade, o banco de horas é "mecanismo usual no mercado de transporte aéreo privado, se constituindo na opção mais racional".

Os advogados de José Maria Marin disseram que não se manifestariam sobre o assunto. Preso no exterior desde maio, ele é acusado pelo FBI de se beneficiar do mesmo esquema de recebimento de propina que Del Nero.

Desde novembro, ele cumpre prisão domiciliar nos EUA. Antes, o ex-governador de São Paulo ficou por seis meses preso na Suíça.

Ricardo Teixeira, que deixou o comando da CBF em 2012, não foi encontrado para comentar suas viagens nas aeronaves de Abrahão.


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