Folha de S. Paulo


Pai de Neymar isenta o atacante durante depoimento em Madri

Javier Soriano/AFP
Barcelona's Brazilian forward Neymar leaves Spain's national court in Madrid on February 2, 2016. Barcelona star Neymar and president Josep Maria Bartomeu will be called to give evidence this week in the murky case over the deal which brought the Brazilian to the Catalan giants from Santos in 2013. AFP PHOTO/ JAVIER SORIANO ORG XMIT: SB2730
Neymar deixa a sede da Audiência Nacional após prestar depoimento

O atacante Neymar Jr. foi isentado de culpa por seu pai, Neymar da Silva Santos, em depoimento nesta terça (2) em Madri, na sede da Audiência Nacional, órgão da Justiça espanhola que investiga suspeita de fraude na transferência do jogador para o Barcelona, em 2013.

Os dois depuseram ao juiz José de la Mata. Neymar pai, responsável pela administração da carreira do jogador, disse que seu filho se dedica exclusivamente a jogar futebol. Segundo ele, Neymar só queria ir jogar no Barcelona e não participou da negociação do contrato.

"Ele respondeu a todas as perguntas do juiz com 'Não sei, não sei, não sei'. Ele só joga", disse o pai ao final de mais três horas de depoimento.

Neymar chegou às 16h50 (de Madri, 13h50 em Brasília), dez minutos antes do horário marcado, acompanhado pelo pai, por advogados e por seguranças.

Segundo Neymar pai, os dois estavam aborrecidos por ter tido que viajar a Madri para o depoimento. "Não é legal estar aqui. A gente tem mais o que fazer", disse.

O jogador do Barcelona e da seleção brasileira estava de óculos escuros espelhados e vestia calça jeans skinny, camisa branca para fora de calça e um blazer preto com detalhes brilhantes na lapela.

Ao sair, após depor durante 90 minutos, não deu declarações à imprensa. Ele parou três vezes para tirar fotos com torcedores e distribuir autógrafos para crianças, mas não quis responder às perguntas de dezenas de jornalistas que o esperavam.

Neymar regressou imediatamente para Barcelona. Nesta quarta o Barça recebe o Valência no Camp Nou, pela Copa do Rei.

A mãe do jogador, Nadine Gonçalves da Silva Santos, que também havia sido intimada a depor, não compareceu. Ela deverá prestar depoimento por videoconferência.

O processo na Audiência Nacional está em fase de instrução. O juiz José de la Mata, da Audiência Nacional, acolheu a queixa da empresa brasileira DIS - Esportes e Organização de Eventos, que detinha 40% dos direitos federativos de Neymar quando ele ainda era jogador do Santos.

A empresa se considera prejudicada porque o jogador e o clube teriam, supostamente, ocultado o real valor da transação. Oficialmente, a transferência de Neymar custou 57 milhões de euros, sendo que 17 milhões de euros teriam sido pagos ao Santos. Um contrato firmado entre Neymar, seu pai e os dois clubes em 2011 teria assegurado ao jogador 40 milhões de euros, em troca da garantia da transferência dois anos depois.

A investigação da Audiência Nacional estipulou que o valor real da transferência de Neymar para o Barcelona foi de 83,3 milhões de euros. Na Audiência de Barcelona há outra investigação em andamento sobre os supostos delitos fiscais cometidos durante a transação.

O pai de Neymar descartou um acordo com a DIS para o pagamento de indenização. Ele disse também que não se preocupa com a possibilidade de ter que pagar mais impostos. "Não fizemos nada de errado. Já paguei todos os impostos", declarou.

O magistrado aceitou a tese da DIS de que o contrato prévio, de 2011, lhe impediu de negociar a transferência de Neymar no mercado e de obter valores ainda mais altos com outros clubes interessados no craque brasileiro.

O juiz solicitou cópias das propostas feitas ao Santos, entre 2009 e 2013, por Chelsea, Real Madrid, Bayern de Munique e Manchester City.

No processo, em que Neymar e os dirigentes do Barcelona depõem na condição de investigados, sob suspeita de estelionato e corrupção privada, o juiz José de la Mata considera que as duas partes "simularam contratos para disfarçar o que na realidade era pagamento por transmissão de direitos federativos".

Na segunda-feira (1), depuseram o atual presidente do Barcelona, Josep Maria Bartomeu, e seu antecessor, Sandro Rosell.

Os dois dirigentes se limitaram a ratificar declarações que já haviam prestados anteriormente. O clube nega qualquer irregularidade nos contratos de transferência.

Os réus podem ser condenados a pagar uma indenização, mas também à prisão. As penas dos dois crimes apontados, corrupção privada e estelionato de contrato simulado, variam de seis meses a quatro anos de detenção. Somadas, podem chegar a oito anos de prisão.

NO BRASIL

Neymar também está sob investigação do Ministério Público Federal no Brasil. Thiago Lacerda Nobre, procurador-chefe em São Paulo, denunciou o jogador e seu pai por sonegação fiscal e falsidade ideológica, crimes com pena prevista de até cinco anos de detenção.

O jogador contesta as acusações e publicou, nesta terça (2), comunicado em seu site oficial no qual nega que ele e o pai tenham criado empresas de fachada para administrar os direitos de imagem do atleta.

CHEGADA

Neymar chegou às 16h49 (13h49 de Brasília) na sede da Audiência Nacional. Passou por dezenas de jornalistas que o esperavam sem dar declarações. Olhava para a tela do celular durante parte do percurso entre a rua Gênova, onde uma van preta o deixou, e a entrada do tribunal.

Fernanda Godoy
Torcedoras do Real Madrid com cartazes de Neymar
Torcedoras do Real Madrid com cartaz de Neymar em frente ao tribunal

Além dos repórteres, um pequeno grupo de fãs esperava pela chegada de Neymar. As irmãs Emanuelle Gonçalves Silva, 14, e, Isabelle Gonçalves Silva, 16, foram ao local tentar ver o jogador brasileiro.

Com cartazes, as jovens, que são torcedores do Real Madrid, desconhecem as denúncias contra o atacante e afirmaram que torcem para que ele troque o Barcelona pelo rival da capital espanhola.

Já o escritor Martín Sagrera, 80, que também estava em frente ao tribunal para protestar com um cartaz, se disse desencantado com o futebol: "Há corrupção demais na Espanha: na política, no Judiciário e no futebol também. Temos que dar um basta nisso".

Fernanda Godoy
Escritor Martín Sagrera foi ao tribunal protestar contra a corrupção no futebol
O escritor Martín Sagrera foi ao tribunal protestar contra a corrupção no futebol

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