Folha de S. Paulo


Depoimento: São Silvestre

O grito de um estranho na Brigadeiro me ajudou no fim

São Silvestre

Acordar pelo menos quatro vezes durante um sono de oito horas. A cabeça de quem corre a São Silvestre pela primeira vez, ou pelo menos a minha, é um turbilhão.

A expectativa alimentada durante meses ganha corpo a poucas horas da prova.

O trajeto, feito de metrô, lembra os dias de Copa do Mundo. A quantidade de gente para sair na estação Trianon-Masp é assustadora.

A avenida Paulista está tomada por atletas vestidos de alaranjado. Num ano em que protesto se confundiu com micareta e micareta com protesto, a São Silvestre tem um pouco de ambos.

A corrida começa e, como previsto, não é fácil conseguir espaço em meio à multidão. No primeiro posto de água, por volta dos 4 km, a sensação é de matar ou morrer.

O sol abre, e encontro um Homem-Aranha fantasiado da cabeça aos pés. Ele diz que vai completar os 15 km, e eu ganho um cara a ser batido.

Após 13 km, ainda falta a famosa subida da Brigadeiro. Alguns cantam e incentivam, enquanto eu só consigo reunir minhas últimas forças.

Não é balela, o trecho final realmente faz um corredor iniciante perder o fôlego. O que me ajudou a não desistir foi o grito de um estranho, que viu meu nome na camiseta e soltou: "Vai, Daniel!".

A São Silvestre é um exercício de otimismo para 2016 após este 2015 complicado.

Impressiona a quantidade de pessoas que acompanha a prova e estende a mão para você bater quando passa.

Após vencer a subida, só resta cruzar a linha de chegada. O sentimento é indescritível. Simplesmente sigo andando, meio bobo.

Procuro pelo Homem-Aranha, curioso para saber quem chegou antes, mas não o encontro em meio a outros tantos pares. Pensando bem, melhor ficar com a dúvida e ir em busca da minha medalha.


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