Folha de S. Paulo


Atletas reclamam de atraso de parcelas de bolsa federal; veja depoimento

Reprodução/Facebook/Drica Azevedo
A atleta Adriana Azevedo protesta por Bolsa Atleta
A atleta Adriana Azevedo protesta por Bolsa Atleta

A exemplo do que aconteceu em dezembro de 2013, esportistas de alto rendimento do país não têm recebido o Bolsa Atleta do governo federal neste fim de ano.

Competidores ouvidos pela Folha, que pediram para não ter seus nomes revelados, afirmaram que o atraso em 2015 é de sete parcelas –cinco prestações foram pagas no segundo semestre deste ano (a data varia de acordo com cada beneficiado).

Questionado pela Folha, o Ministério do Esporte disse que "está tomando providências para que as pendências sejam resolvidas". O bloqueio na liberação de verbas tem a ver com restrições orçamentárias do Planalto. O governo se comprometeu a destinar cerca de R$ 91 milhões aos agraciados neste exercício –atletas de modalidades não olímpicas e da Bolsa Pódio não entram nesta conta.

A pasta disse ainda que "o pagamento do exercício 2015 do Programa Bolsa Atleta teve início em setembro. Até novembro, foram pagas cinco parcelas. O Ministério do Esporte reforça que está tomando providências para dar sequência ao pagamento".

O incentivo neste ano é concedido a cerca de 6.000 atletas de modalidades olímpicas e paraolímpicas.

Os atrasos de 2013 foram pagos em fevereiro de 2014. Na época, o governo federal devia oito parcelas do Bolsa Atleta aos quase 5.700 competidores beneficiados.

A para-atleta Adriana Azevedo, que há dois anos já havia protestado nas redes sociais contra os atrasos no repasse, voltou a publicar foto amordaçada e com cartaz cobrando providências do governo nesta semana em sua conta no Facebook.

À Folha, ela enviou o depoimento abaixo.

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O ATRASO DO PAÍS QUE QUER CHEGAR NA FRENTE

"Sou potiguar de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Há cerca de dois anos, quando cheguei com malas e família aqui ao Rio de Janeiro em busca de novas oportunidades e evolução profissional, não fazia ideia do que me esperava!

Nós atletas, começamos a enfrentar a partir de setembro de 2013 um atraso crônico dos repasses de um dos maiores programas de incentivo ao esporte já lançado no Brasil, o Bolsa Atleta.

No ano passado, tínhamos a esperança que tudo fosse melhorar, devido à correção da defasagem, que o então ministro do Esporte Aldo Rebelo tanto defendeu e com o qual justificou os atrasos anteriores.

Começamos 2015 com ministro novo, metas novas e com as Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio-2016 batendo à porta.
Atrasos? Não! Não teria cabimento...

O governo federal e o Ministério do Esporte estão preparados, já que o maior evento do esporte mundial está prestes a acontecer dentro da nossa casa. E não existe algo tão que represente tamanha glória para um atleta do que disputar um pódio assim, no 'quintal de casa'.

Mas não está sendo bem assim.

Esse ano, o governo foi além. Do início de 2015 para cá, foram pagas cinco parcelas, e restam sete para serem quitadas!

Para nós, atletas, não importa se serão pagas três ou quatro parcelas de uma vez. O que importa, para nós, é a estimativa de como e quando iremos receber porque há uma necessidade natural de nos programarmos para os meses seguintes. E uma das coisas que têm faltado aos administradores do programa é justamente a clareza das informações prestadas e a falta de compromisso do governo federal com os atletas beneficiados.

Sabemos que cerca de 60% dos atletas que contam com esse "patrocínio federal" não possuem um outro recurso financeiro para custear suas necessidades pessoais e profissionais. Portanto é de total importância o repasse desse benefício.

Por que não ouvimos falar em atrasos no Bolsa Família, por exemplo? Não desmerecendo os beneficiados desse programa, mas não seria democrático também que os 'filhos da pátria', que defendem as cores da bandeira nacional através do esporte, que não têm tréguas em seus treinamentos faça chuva, faça sol, fossem honrados?

Hoje, de fato, não sou uma das beneficiadas do programa, porque não tive um bom desempenho no ano passado. Eu me submeti a uma cesariana e não tive tempo hábil para uma recuperação segura até as etapas nacionais [de sua modalidade]. Em outras palavras, fiquei em quinto lugar no ranking nacional. Para pleitear a Bolsa, devemos alcançar no mínimo o terceiro lugar entre pelo menos cinco competidores. Pois é! Não é fácil... Mas, mesmo assim, sou atleta paraolímpica, diferentemente de uma maioria que tem medo, que não se importa com seus colegas e com o desenvolvimento do esporte.

Eu não estou aqui, lutando dia após dia, para representar apenas eu mesma. Estou defendendo e reivindicando um direito adquirido com muita luta, e com excelentes exemplos de perseverança dos atletas brasileiros, sejam eles olímpicos ou paraolímpicos.

Eu represento O ESPORTE, A CIDADANIA, A HONESTIDADE. Isso é ser atleta.

ADRIANA AZEVEDO
Para-atleta de natação, recentemente treinando paracanoagem"


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