Folha de S. Paulo


Técnico vê cenário de 'terrorismo' após deixar seleção de basquete

Reprodução/CBB
Luiz Augusto Zanon e o Diretor Técnico da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), Vanderlei Mazzuchini ------http://www.cbb.com.br/PortalCBB/Noticias/Show/11005
O técnico Luiz Augusto Zanon (à esq.) ao lado do diretor da CBB Vanderlei Mazzuchini

O ex-técnico da seleção brasileira feminina de basquete Luiz Augusto Zanon, 52, diz que a renúncia ao cargo nesta sexta-feira (11) aconteceu em meio a um "cenário de terrorismo".

A crise entre os seis clubes da Liga de Basquete Feminino (LFB) e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), instaurada nas últimas semanas, rendeu até ameaça de boicote à seleção por parte das atletas que atuam no país e pedido de troca de Zanon por um colegiado dos seis treinadores desses times.

A principal crítica era que Zanon, que fez carreira no basquete masculino, era incapacitado para o cargo.

O técnico, que estava à frente da seleção desde 2013, disse à Folha que pediu afastamento por uma questão de saúde. "Tive crise de hérnia há um mês. Passei três dias no hospital, tomei morfina. Minha perna treme, os dedos ficam adormecidos. Faço fisioterapia duas vezes por dia pois não sei se vou operar", descreve Zanon, que não tinha contrato com a CBB.

Ele entregou o pedido na quinta (10) à entidade, que não anunciou o substituto para o evento-teste da Olimpíada, de 15 a 17 de janeiro, no Rio. A seleção se apresenta dia 6. "O problema de saúde me debilitou. O que os clubes falam não me atinge. Eles têm outros interesses. Eu não sou oportunista. Prova disso é que abri mão de disputar uma Olimpíada", afirma Zanon.

Por meio da assessoria de imprensa, os clubes da LBF (América de Recife, Corinthians/Americana, Maranhão, Presidente Venceslau, Sampaio Correa e Santo André) disseram que não vão comentar o assunto.

No comunicado divulgado pela CBB, Zanon diz que a entidade foi contrária à sua saída e que ele deixou "em aberto", na conversa com o diretor técnico Vanderlei Mazzuchini, uma possível volta à seleção no futuro.

"Eu visava um trabalho a longo prazo, mas no Brasil não entendem isso. E, em tudo o que acontecia, era eu o errado", reclama Zanon.

Sobre a expectativa para a seleção nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, Zanon diz que seu plano era "levar um grupo para amadurecer, aproveitar a experiência da [pivô] Érika, 33, e da [armadora] Adrianinha, 37, para fazer o maior número de jogos possíveis, seja para ficar entre as oito ou as quatro melhores".

Os problemas enfrentados pela equipe feminina, segundo o ex-treinador, não são a falta de apoio da CBB, que, segundo ele, são iguais (inclusive financeiramente) para homens e mulheres.

Para Zanon, faltam mais jogos internacionais, principalmente contra as europeias, além de paciência com a nova geração de atletas.

"Não temos talento hoje, então precisamos que apareçam. Mas qual nosso projeto? Cadê a base? É um problema que existe há 20 anos. Deixo um legado, que talvez entendam com o tempo", conclui.


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