Folha de S. Paulo


Pacaembu recebe seleção de rúgbi pela primeira vez, com recorde de público

Quando Charles Miller chegou ao Brasil, em 1894, trouxe uma bola de futebol e outra de rúgbi. Apaixonado por esportes, o inglês é considerado o pai do futebol no Brasil e, por isso, dá nome à praça em frente ao estádio mais charmoso de São Paulo, o Pacaembu.

Acostumado a receber partidas de futebol, o estádio recebeu, nesta sexta (4), a primeira partida oficial de rúgbi de sua história, num evento que deixaria Charles Miller orgulhoso.

Mais de 10 mil torcedores compareceram ao estádio para acompanhar Brasil e Alemanha (39º e 30º do ranking mundial, respectivamente). A partida terminou com vitória da Alemanha por 31 a 7.

A entrada era feita mediante a doação de um livro. O total arrecadado será doado à Secretaria de Educação e distribuído entre escolas da rede municipal.

É o recorde de público da modalidade no país. O recorde anterior era de 5 mil pessoas na Arena Barueri em uma final de campeonato entre equipes.

O jogo é o segundo de uma preparação para a repescagem do Sul Americano de Rugby. No jogo anterior, a Alemanha bateu o Brasil por 29 a 12, em Blumenau, no dia 28 de novembro.

Último colocado na elite do Sul Americano neste ano, o Brasil joga contra a Colômbia que ficou em primeiro lugar da segunda divisão. O jogo será no Canindé, no dia 12 de dezembro. Quem vencer ganha uma vaga na primeira divisão do rúgbi sul americano.

SAUDADES

Antes da partida, uma multidão se concentrava do lado de fora do estádio. O clima era de festa, e dentro do estádio teve até bateria e ola.

Entre os torcedores, havia os que comemoravam poder voltar ao Pacaembu. "Eu sempre vinha ver jogos do Corinthians. Estava com saudades", disse Marcos Ribeiro, 44, que jamais havia assistido uma partida de rúgbi ao vivo.

Ele trouxe seu filho, Danilo, 15, que já pensa em começar a praticar o esporte. "Ano que vem vou começar a jogar", assegurou.

Presença ilustre, o nadador Gustavo Borges, quatro vezes medalhista olímpico, disse que já acompanhou partidas de rúgbi da seleção antes e levantou a bola do time feminino. "As meninas tem uma boa chance nessas Olimpíadas. Vamos torcer", disse.

PACAEMBU

Lotado em situações históricas, como a Copa de Mundo de 50, clássicos paulistas memoráveis e, mais recentemente, em 2012, o inédito título da Libertadores do Corinthians, o Pacaembu tem sofrido com a falta de jogos de futebol.

Com a construção das novas arenas, principalmente a do Corinthians, que usava o estádio como se fosse sua casa, são raros os eventos que atraem grandes públicos.

"É bom ver o Pacaembu cheio, com vida", disse Daniela Santana, 46, moradora do bairro. Ela veio acompanhada dos dois filhos, Guilherme, 13 e Lucas, 16.

Inaugurado em 1940, o estádio municipal é uma marco do esporte na cidade de São Paulo. Em seus 75 anos, o Pacaembu abrigou principalmente partidas de futebol e nomes como Pelé, Rivellino e Ronaldo brilharam nos gramados.

Mas atletas de outras modalidades, como Eder Jofre, pugilista campeão mundial na década de 70, Adhemar Ferreira Barbosa, ouro no salto tripo em Helsinki-1952 e Melbourne-1956, e Maria Esther Bueno, campeã de 20 Grand Slams, nas décadas de 50 e 60, também se apresentaram no estádio.

Agora, o rúgbi começa a escrever sua história no Pacaembu. O evento desta sexta foi uma parceria entre o estádio e a Confederação Brasileira de Rugby.

Outras duas partidas já estão marcadas no local, para o ano que vem. Pelo torneio Six Nations das Américas, o Brasil enfrenta os Estados Unidos, em fevereiro, e a Argentina, quarta colocada no Mundial deste ano, em março.


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