Folha de S. Paulo


Del Nero mantém discurso, diz que não renuncia, mas já discute licença

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, discute na tarde desta quinta (3) com dirigentes da entidade e presidentes de federações se vai se licenciar do cargo.

O Comitê de Ética da Fifa anunciou na manhã desta quinta a abertura de investigação contra o dirigente. Por volta das 16h, a secretária de Justiça dos Estados Unidos, Loretta Lynch, deve anunciar o indiciamento do presidente da CBF.

Ricardo Teixeira, ex-presidente da entidade, também deve ser indiciado.

Em contato com a Folha após as notícias da manhã desta quinta, inclusive das prisões dos presidentes da Conmebol e da Concacaf, voltou a dizer que não vai renunciar.

"Investigar é bom para esclarecer que nada existe contra a minha pessoa", disse à reportagem.

Na reunião desta tarde, eles discutem até a forma de sucessão. Del Nero se nega a se afastar em definitivo, mas já estuda se licenciar até o final da investigação na Fifa e no FBI.

Neste caso, o ex-presidente da Federação Paulista de Futebol é favorável a posse de Fernando Sarney, um dos seus vices.

Ele foi indicado na semana passada para assumir o cargo de Del Nero no Comitê Executivo da Fifa.

Nas conversas com a maioria dos dirigentes, o mandatário mantém seu discurso.

"Ele diz que não fez absolutamente nada de errado. Que ninguém poderá imputar a ele um ato ilícito que seja. Não fez nada ilegal", disse Antônio Américo, presidente da Federação do Maranhão, que esteve em uma confraternização nesta tarde, na sede da confederação, no Rio de Janeiro, bancada pela diretoria.

Del Nero não quer passar o poder ao presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto, o primeiro na linha sucessória. O catarinense é opositor a Del Nero.

O futuro é discutido porque os dirigentes da CBF acreditam que a Fifa poderá pedir o afastamento do cartola após o anúncio oficial nos EUA.

A Fifa fez isso, por exemplo, com Joseph Blater e Michel Platini, alvos também de investigação na Justiça.

SEM VIAGENS

Desde maio, quando José Maria Marin foi preso na Suíça, Del Nero nunca mais deixou o país.

Marin foi preso acusado de receber propina na venda de direitos de torneios no país e no exterior.

Na semana passada, Del Nero renunciou ao cargo no Comitê Executivo da Fifa. Um dos vices da CBF, Fernando Sarney foi indicado pelo dirigente para substituí-lo na Fifa. Sarney está nesta quinta na Suíça.

O processo sigiloso contra Del Nero foi aberto no Comitê de Ética da Fifa no mês passado. A investigação é baseada em documentos enviados pelas autoridades brasileiras.

A compra de duas coberturas no Rio por Del Nero no ano passado faz parte da documentação.

O negócio foi revelado pela Folha em abril e é investigado pelo Ministério Público Federal, no Rio, e pela Receita Federal.

Uma das coberturas, no valor de R$ 5,2 milhões, foi adquirida de uma empresa dos filhos do empresário Wagner Abrahão, antigo parceiro comercial da CBF e amigo do ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira.

Antes, em maio do ano passado, Del Nero registrou em cartório que comprou outro dúplex, no mesmo local, por R$ 1,6 milhão. Os imóveis tem cerca de 250 metros quadrados.

À época, Del Nero negou qualquer conflito ou irregularidade na transação.

Del Nero foi o principal executivo da gestão de Marin, encerrada em abril.

Os dois dirigentes são investigados também pelos senadores da CPI do Futebol.

Na terça (2), os parlamentares quebraram o sigilo telefônico de Marin e Del Nero. Os senadores terão acesso as mensagens enviadas dos aparelhos da dupla, além de emails.


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