Folha de S. Paulo


crítica

'Rivellino' desperta nostalgia e dúvida sobre o Corinthians

"Não se trata de choradeira, mas eu só peguei time ruim no Corinthians. Era sacanagem comparar."

Assim, Rivellino, um dos mais talentosos camisas 10 da história, sintetiza a grande interrogação de sua carreira: por que, em nove anos, nada ganhou no Corinthians, onde é tido por muitos como o maior de todos os tempos?

Riva cita o Palmeiras de Dudu e Ademir da Guia e o São Paulo de Gérson e Pedro Rocha. Nem fala do Santos de Pelé, que era o grande time quando, em 1963, ele iniciou sua trajetória nos aspirantes do Corinthians, indicado por Luizinho, o Pequeno Polegar, mítico meia dos anos 1950.

A frase foi dita a Maurício Noriega, jornalista do SporTV, e está no livro "Rivellino", um perfil sobre o jogador lançado pela editora Contexto.

Há pouco de Corinthians no livro, como a esperança com que a torcida seguia o Reizinho do Parque já nos aspirantes e via nele o homem que levaria o time, sem título desde 1954, à redenção.

Reprodução/Facebook/contextoeditora
Capa do livro
Capa do livro "Rivellino"

Isso não ocorreu, e Rivellino foi caindo em desgraça até deixar o clube após perder o Paulista de 1974 para o Palmeiras, time da sua infância.

No Fluminense, ganhou seus mais importantes títulos por clubes, os Estaduais de 1975 e 1976, na Máquina Tricolor que tinha Paulo César Caju, Mário Sérgio, Carlos Alberto Torres, Doval e outros.

Boa parte do livro, no entanto, se concentra na passagem de Rivellino pela seleção, como uma das feras do time de 1970 ou o astro da equipe em 1974 –"Não sabia quem era Cruyff", diz, sobre o craque da Holanda que eliminou o Brasil na semifinal.

Rivellino ganhou os corações de vários craques, entre eles Maradona. Noriega reúne testemunhos, todos elogiosos, de brasileiros, como Neto –"Messi e Cristiano Ronaldo não limpam a chuteira do Rivellino", exagera–, Zico, Tostão e Pelé, e mundiais, como Beckenbauer e Platini.

Há histórias curiosas, como o papel fundamental desempenhado pelo repórter J. Hawilla, da rádio Bandeirantes, que, em matéria duramente crítica, jogou nos ombros de Rivellino toda a responsabilidade pela perda do Paulista de 1974. Hoje, Hawilla, empresário, é peça-chave nas investigações da Justiça norte-americana sobre corrupção no futebol.

Ou como Rivellino só não começou a carreira no Palmeiras porque sentiu um certo desprezo de Mário Travaglini, então técnico do alviverde e que, por ironia, o dirigiria no Fluminense de 1975.

Também é possível saber que o célebre drible elástico, uma de suas marcas, ele aprendeu com um "japonês" –Sérgio Echigo, um ponta dos tempos de Corinthians.

Ou que o único jogador de que não gosta é Vaguinho –atacante do time que tirou o Corinthians da fila em 1977, e teria pedido a colegas para bater em Rivellino em um jogo.

Ou as vezes em que vestiu a camisa de outros clubes em situações especiais, como Portuguesa, Ponte Preta e Cosmos. Tem ainda a passagem pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, onde ganhou dinheiro, mas deu início a uma viagem sem volta rumo à aposentadoria.

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O livro mostra ainda como ele é fruto de uma época romântica da história paulistana, a de quando meninos como ele e seu irmão Abilio passavam o dia correndo atrás da bola em campos de várzea às margens do rio Pinheiros.

Foi lá que deu os primeiros chutes com a perna esquerda que fariam sua fama e dariam a ele o apelido de Patada Atômica na Copa do México.

Lê-se rapidamente o livro, com prazer, mas ao término ficamos com dois incômodos: uma certa nostalgia pelos anos 1970 e o futebol daquela época, e a mesma e persistente dúvida: por que ele não levou o Corinthians à glória?

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BIOGRAFIA

Rivellino
Autor: Maurício Noriega
Editora: Contexto
Quanto: R$ 39,90
Avaliação: ótimo


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