Folha de S. Paulo


ONG inglesa cria aplicativo para denunciar atos racistas em estádios

Olly Greenwood - 21.fev.2015/AFP
Chelsea fans hold an anti-racism banner during the English Premier League football match between Chelsea and Burnley at Stamford Bridge in London on February 21, 2015. AFP PHOTO / OLLY GREENWOOD RESTRICTED TO EDITORIAL USE. NO USE WITH UNAUTHORIZED AUDIO, VIDEO, DATA, FIXTURE LISTS, CLUB/LEAGUE LOGOS OR
Torcedores do Chelsea exibem faixa de protesto contra o racismo após o episódio em Paris

O caso de racismo protagonizado por torcedores do Chelsea, da Inglaterra, em Paris deu uma ideia ao principal grupo de combate ao preconceito no futebol do Reino Unido. Por que não oferecer a chance de qualquer cidadão denunciar racismo, homofobia, antissemitismo ou sexismo usando o celular, com vídeos, fotos ou áudio?

Em agosto deste ano, a ONG Kick it Out lançou versão atualizada de seu aplicativo para as plataformas Android e Apple. Por meio dele, é possível enviar de forma anônima provas de preconceito nos estádios ingleses.

"Com a ferramenta as pessoas se sentem mais confiantes em denunciar. No passado, era palavra contra palavra contra quem cometia atos preconceituosos. Agora é possível ter provas de forma mais rápida", diz Lord Ouseley, presidente da Kick it Out.

Em fevereiro, torcedores do Chelsea que estavam na capital francesa para partida contra o PSG pela Liga dos Campeões impediram um negro de entrar em vagão do metrô e entoaram cantos racistas. O caso ganhou repercussão porque outro passageiro filmou as cenas e as colocou na internet. Os ingleses identificados foram proibidos de irem a jogos da equipe.

A primeira versão do aplicativo é de 2013 e não contemplava a gravação de imagens. Eram apenas denúncias por escrito. Desde o lançamento da atualização, há três meses, foram recebidas 65 denúncias em estádios. "O uso da tecnologia se transformou em item chave para mostrar o comportamento discriminatório de torcedores", analisa Anna Jönsson, integrante do Kick it Out.

A entidade quer incentivar principalmente o combate ao sexismo. Em 2014, apareceram vídeos de torcidas rivais do Chelsea pedindo que a então médica do clube, Eva Carneiro, mostrasse os seios. Apesar da repercussão, a Federação Inglesa afirmou que não havia nada a investigar.

Outra preocupação é com as mídias sociais. A estimativa da ONG é que uma mensagem de conteúdo abusivo é enviada para algum clube ou jogador da primeira divisão a cada três minutos por meio de sites como Twitter ou Facebook. "Metade das reclamações no ano passado foi relacionado a essas mídias sociais", diz Lord Ouseley.

O torcedor pode fazer a denúncia anônimo ou não. Os dados são arquivados pela Kick it Out para estatísticas e o autor da queixa ganha um "recibo" explicando o processo.

Os detalhes são enviados para o clube envolvido e a Federação Inglesa, com a ONG pedindo posicionamento.

Se a resposta não vem ou for insatisfatória, o caso vai para outras instâncias, como a Premier League (que administra a elite do futebol local), a Football League (responsável pelas divisões inferiores) ou outra associação nacional.

Se nada der certo, o torcedor é consultado se deseja que a denúncia seja enviada ao Independent Football Ombudsman, que tem autoridade para julgar o caso e tomar medidas jurídicas.


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