Folha de S. Paulo


'Eu pensei que fosse morrer no ano passado', diz Oscar Schmidt

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Um dos maiores nomes da história do basquete brasileiro, Oscar Schmidt teve diagnosticado, há quatro anos, um câncer no cérebro, contra o qual luta até hoje. Ele já se submeteu a cirurgia e faz quimioterapia mensalmente.

Do alto de seus 2,05 m, costuma dizer que "não é um tumorzinho que vai derrubá-lo". Só que o maior susto de seus 57 anos vida não veio da cabeça, mas do coração.

No início de 2014, durante viagem a passeio pelos EUA, o Mão Santa, como é conhecido, sofreu uma arritmia, problema que não está associado ao câncer.

"Dessa vez pensei que ia morrer. Minha respiração tapou, vomitei um monte, fui para o hospital e fizeram um procedimento que 'matam e ressuscitam'", contou o ex-jogador de basquete em sabatina na Folha, nesta quinta (29), com o colunista de "Esporte" Edgard Alves e o repórter Paulo Roberto Conde.

Oscar toma 12 remédios por dia. "Tenho todas as doenças mais raras, no coração e na cabeça."

Ainda que bem-humorado ao longo de todo o encontro, o ex-jogador evita se prolongar no assunto. Logo o corta.

Prefere falar sobre sua vitoriosa carreira nas quadras, como o ouro no Pan de Indianápolis-1987 e a proeza de ser o maior cestinha olímpico.

Também se sente à vontade para expressar opiniões contundentes. Critica o atual técnico da seleção, o argentino Rubén Magnano, e o pivô Nenê, do Washington Wizards -diz que não o chamaria para a equipe brasileira.

"Ele não gosta de jogar na seleção", disse Oscar.

Veja os principais momentos da sabatina.

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SUSTO

Em 2011, Oscar descobriu um câncer no cérebro quando estava nos Estados Unidos. Ele decidiu voltar para o Brasil em busca de tratamento. Após uma primeira investida bem-sucedida, o tumor voltou a apresentar riscos e ele precisou se submeter a novos procedimentos.

Até hoje faz sessões mensais de quimioterapia. As preocupações de Oscar, porém, não têm se restringido ao câncer. No começo de 2014, estava nos EUA novamente quando teve arritmia cardíaca.

"Dessa vez pensei que ia morrer. Tapou tudo, vomitei um monte, fui atendido no hospital e depois voltei para o Brasil. Cheguei aqui cansado, fui fazer uma consulta e estava com 170 batimentos por minuto, isso descansando", contou.

Atendido pelo médico Roberto Kalil Filho no hospital Sírio-Libanês, ele se recuperou. Atualmente, toma 12 remédios por dia.

NENÊ

Sobre os jogadores da atual geração da seleção brasileira, Oscar disse que se fosse o técnico não convocaria o pivô Nenê Hilário, do Washington Wizards, da NBA.

"Ele não gosta de jogar na seleção, e desse jeito arrisca não ganhar nada na carreira. Quem não quer jogar um Mundial? Agora, no Pré-Olímpico ele não foi. O único que eu não convocaria seria ele. Os outros têm vontade de jogar pelo Brasil", afirmou.

Apesar das críticas, Oscar afirmou que considera Nenê um "bom jogador".

PAGAR PARA JOGAR

Oscar criticou o pagamento feito pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete) para garantir uma vaga para a seleção brasileira no Mundial de 2014. "Entrou pela porta dos fundos. Eu, se sou presidente, não deixaria a seleção brasileira ir para o Mundial. Fica em casa, aí vocês vão sentir na carne o que é não se classificar", afirmou.

A seleção masculina não conseguiu, em quadra, conquistar uma das vagas para a competição no torneio classificatório. A participação brasileira, então, custou 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 2,72 milhões na época) a serem pagos à Fiba (Federação Internacional de Basquete).

Em relação à chance de concorrer à presidência da CBB, rechaçou. "Depois que descobri como é feita a eleição, não quero mesmo", disse, sem entrar em detalhes.

MAGNANO

Oscar é crítico ao trabalho do técnico argentino Rubén Magnano na seleção brasileira. Reconhece o mérito do comandante no retorno do Brasil aos Jogos Olímpicos após 16 anos, em 2012, mas vê fracassos na trajetória do estrangeiro, como a não classificação para o Mundial de 2014.

"Não contar com os jogadores da NBA não pode servir de desculpa. O Brasil é um país com tradição de basquete. Perder para Jamaica não é normal. Eu achei que lá só tinha corredor", brincou.

O cestinha provocou, dizendo que no Brasil "adoram técnico de fora". Ainda em tom de brincadeira, reclamou de escolherem justamente um representante do país vizinho para o cargo, e depois contemporizou: "Não sou contra os argentinos, eles têm até o Papa".

MEDALHA

Para o ex-jogador, se o Brasil jogar a Olimpíada completo tem grandes chances de conquistar medalha e pode competir em igualdade com qualquer seleção do mundo, com exceção dos EUA. "Nem da Espanha fica atrás", disse Oscar, que espera uma final contra o time americano.

INVESTIMENTO

Oscar considera que o governo brasileiro investe pouco em esporte nas escolas, o que prejudica a formação de atletas no país. Critica a prioridade dada aos clubes em detrimento da prática escolar. "Clube é funil, muitos se perdem no caminho. Quem disse que numa escola não poderia ter um jogador com nível de NBA? Você vê caras grandes na periferia que poderiam estar jogando basquete, vôlei, saltando no atletismo, mas não estão."

POLÍTICA

Oscar concorreu ao Senado em 1998, mas, apesar de ter obtido mais de cinco milhões de votos, perdeu. Ele concorria pelo PPB. Indagado sobre a crise política atual, disparou: "Por que você acha que eu nunca mais concorri? Eu vi como ela era feita."


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