Folha de S. Paulo


Sem estrelas e 'sem graça', seleção não empolga torcedores no Ceará

"Kaká, Kakááááááááá", se esgoela a torcedora na porta do hotel em que o elenco da seleção brasileira está concentrado em Fortaleza.

Lucas, do Paris Saint-Germain, também sofre assédio e tira foto com duas torcedoras. É sábado (10). Horas antes, no treinamento no estádio Presidente Vargas, para menos de 30 torcedores, Marcelo, Hulk e Willian têm os nomes gritados. E só.

Os demais atletas, para aqueles torcedores não aficionados por futebol, quase passam despercebidos.

Na mesma entrada do hotel em que Kaká quase foi agarrado, por exemplo, um torcedor pergunta se Marquinhos, zagueiro do PSG que será titular contra a Venezuela pelas eliminatórias, na terça (13), era jogador ou membro da comissão técnica.

"Talvez seja a seleção mais sem graça que já vi", diz Erison de Santana, 55, um dos poucos que se aventuraram a vestir a camisa da seleção e ir à Arena Castelão domingo.

Os dois jogadores mais carismáticos dessa geração estão longe de Fortaleza. Neymar, capitão e craque do time, cumpre o último dos quatro jogos de suspensão por ter brigado na partida contra a Colômbia, na Copa América.

O zagueiro David Luiz se lesionou na estreia das eliminatórias para a Copa, na derrota por 2 a 0 para o Chile, e acabou cortado por Dunga.

"Em 2002 vi um jogo da seleção no velho Castelão e no campo você nem sabia pra onde olhar. Era Ronaldo, Ronaldinho [Gaúcho], Roberto Carlos, acho que o Cafu. Só craque", completou Santana.

O jogo, em março de 2002, era preparatório para a última Copa que o Brasil venceu, no Japão e na Coreia do Sul.

Na vitória de 1 a 0 sobre a então Iugoslávia, Felipão escalou Marcos; Lúcio, Anderson Polga e Roque Júnior; Cafu, Emerson, Gilberto Silva, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos; Ronaldo e Edilson.

LIDERANÇA

Três meses depois, na Copa, Felipão apostou num garoto de 20 anos que despontava no São Paulo. Kaká foi reserva, mas ganhou experiência para liderar uma nova geração de jogadores na seleção, o que nunca ocorreu embora tenha sido o melhor do mundo em 2007, o que explica a idolatria até hoje.

Hoje, aos 33 anos, o meia joga no Orlando City, dos EUA, que tem muito dinheiro, mas ainda atrai principalmente atletas em fase final de carreira, como o brasileiro.

Kaká só está em Fortaleza porque Philippe Coutinho foi cortado por lesão e é coadjuvante dentro de campo. Fora dele, parece não se esforçar para ser um dos líderes.

O papel, com Neymar longe, cabe ao capitão Miranda, que dentro de campo o exerce bem, mas está longe de ter o carisma de capitães como Cafu e Carlos Alberto Torres.

Aos 27 anos, o lateral Marcelo é um dos seis jogadores com experiência em eliminatória deste grupo. E sua resposta mostra um pouco o espírito da geração. "Não sei se tenho experiência [para ser líder]. Mas se o professor quiser que eu ajude falando, estou de braços abertos."


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