Folha de S. Paulo


Suspensão de Blatter e Platini reaviva polêmica sobre fazer a Copa no Qatar

O afastamento dos presidentes da Fifa, Joseph Blatter, e da Uefa, Michel Platini, das atividades do futebol tem origem na investigação do Ministério Público suíço sobre as suspeitas de compra de votos na escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 (Rússia) e de 2022 (Qatar).

O episódio sinaliza, de um certo modo, que a investigação sobre as Copas está longe do fim e pode ter mais consequências na crise que atinge a Fifa e no futuro da organização dos eventos, sobretudo em relação ao Qatar, onde os indícios são maiores.

No âmbito do inquérito que conduzem sobre o caso, os procuradores suíços analisaram os pagamentos bancários feitos pela Fifa nos meses que antecederam e sucederam a votação de definição das sedes, em dezembro de 2010.

Foi durante esse trabalho que identificaram que, dois meses depois, em fevereiro de 2011, Platini recebeu os 2 milhões de francos suíços (R$ 8,3 milhões) dos cofres da Fifa sob aval de Blatter, dinheiro que ambos alegam ser fruto de serviços prestados entre 1999 e 2002, versão que não convence as autoridades.

A transação teria ocorrido pelo banco UBS, uma das instituições bancárias da Suíça que têm colaborado com as investigações sobre 2018 e 2022, segundo informação da agência de notícias Bloomberg.

A partir daí, a Procuradoria suíça decidiu no dia 24 de setembro investigar Blatter, abrindo a ação criminal contra o cartola que levou o Comitê de Ética da Fifa a suspendê-lo, ao lado do ex-jogador francês, por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado por mais 45 dias –dependendo do rumo das investigações, ambos podem até ser banidos do futebol.

TROCA DE SEDES

Em meio à polêmica sobre o processo de escolha das sedes das Copas, Blatter e Platini defendiam não alterar a decisão de 2010, apesar das suspeitas de que os membros do Comitê Executivo da Fifa receberam suborno para tomá-la.

Com o suíço deixando de vez a Fifa após a eleição de fevereiro e Platini fora da presidência da Uefa —e ameaçado de não poder disputar sua sucessão—, pode ganhar fôlego a retomada da discussão em relação ao Qatar.

Aliada de Platini, a Federação Inglesa, por exemplo, sempre adotou discurso contrário ao dele sobre o tema, em defesa da revisão da escolha da sede, assim como outras entidades ligadas à Uefa.

Os cartolas europeus se reúnem nesta semana para buscar um consenso para se posicionar no encontro extraordinário do Comitê Executivo da Fifa, marcado para o dia 20 e que pode definir pelo adiamento da eleição para presidente, em fevereiro.

Platini era o candidato favorito até estourar o escândalo do pagamento de 2011. Dos nomes lançados até agora, entre eles o do brasileiro Zico, o príncipe da Jordânia Ali bin Hussein é o que tem viabilidade para concorrer, mas longe de chances de vencer.

Os europeus precisam ganhar tempo, e a hipótese de adiamento ganha força nos bastidores. Se a eleição de fevereiro for mantida, o prazo de registro de candidatura continua sendo 26 de outubro, quatro meses antes da votação, segundo regra eleitoral.

Ou seja, se Platini sair do jogo agora, os cartolas teriam poucos dias para encontrar um nome capaz de aglutinar o apoio que o francês havia obtido até agora. Mas se a eleição for empurrada para uma data adiante, Platini pode recuperar fôlego para superar a suspensão e resgatar a articulação política perdida na crise atual.

Cronologia do escândalo de corrupção na Fifa - Editoria de arte/Folhapress


Endereço da página:

Links no texto: