Folha de S. Paulo


Substituto de Blatter deu poder à África na Fifa e é acusado de corrupção

Por pelo menos 90 dias, o presidente da Fifa será pela primeira vez um dirigente do continente africano.

O camaronês Issa Hayatou, 69 anos, assume o cargo no lugar de Joseph Blatter, suspenso pelo Comitê de Ética da entidade, após a abertura de uma investigação criminal contra ele por parte do Ministério Público da Suíça por supostas irregularidades num contrato de direitos de transmissão na América Central e em um pagamento de 2 milhões de francos (R$ 8,3 milhões) a Michel Platini.

Em nota, Hayatou afirmou que assume apenas como presidente interino e que não será candidato na eleição da Fifa, em fevereiro de 2016.

"A Fifa permanece comprometida com seu processo de reforma e vamos continuar cooperando com as autoridades e a investigação interna", disse.

Aliado de Blatter, Hayatou foi um dos responsáveis pela expansão da influência do suíço na África durante seu mandato.

Foi durante a gestão do camaronês como presidente da Confederação Africana de Futebol que o continente conseguiu aumentar o número de vagas para a Copa do Mundo. Em 1986 eram duas vagas. No Mundial de 2014 foram cinco seleções do continente. Ele também foi um dos idealizadores da Copa na África do Sul, em 2010.

Antes de ser aliado de Blatter, o camaronês tentou ser presidente da Fifa. Na eleição de 2002, ele foi derrotado pelo suíço. Teve 56 votos. Blatter venceu com 139, com o apoio principalmente da América e até de federações da África.

Hayatou assume a função de presidente também com um histórico de acusações de corrupção.

Reportagem do programa "Panorama", da BBC, em 2010, acusou Hayatou de ter recebido propina de negociações de direitos de transmissão de televisão da Copa do Mundo.

Segundo a emissora britânica, documentos comprovam que o cartola recebeu 100 mil francos suíços da ISL, empresa suíça de marketing esportivo que era parceira da Fifa. Após a falência da companhia, foram revelados pagamentos de propina a dirigentes como João Havelange, ex-presidente da Fifa, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Os dois brasileiros fizeram acordo com a Justiça da Suíça e pegaram multa para encerrar o processo.

Já Hayatou negou o recebimento de propina e afirmou que o dinheiro foi repassado para a Confederação Africana de Futebol.

Em 2011, ele foi advertido pelo Comitê Olímpico Internacional, do qual também é membro, por ter recebido US$ 20 mil de uma empresa de marketing esportivo em meio a escândalo de recebimento de subornos da Fifa. Ele argumentou que o dinheiro foi utilizado em programas de desenvolvimento do esporte pela Confederação Africana.

Ele também é acusado de ter recebido US$ 1,5 milhão para votar no Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022, em escândalo que é um dos principais focos da investigação que tem devassado a Fifa nos últimos meses.

O camaronês também tem problemas de saúde. Uma séria doença no rim o obriga a fazer sessões de hemodiálise com frequência.

HISTÓRICO

Ex-atleta e ex-professor de educação física, Hayatou faz parte de uma família influente em seu país. Seu irmão foi primeiro-ministro de Camarões.

Em 1974, quando tinha 28 anos, assumiu o cargo de secretário-geral da federação de futebol de Camarões. Doze anos depois, assumiu o cargo de presidente da entidade. No final de década de 1980 foi eleito presidente da Confederação Africana de Futebol, cargo que ocupa até hoje.

Em 2002, ele concorreu com Blatter nas eleições para presidente da Fifa, quando foi derrotado. Um dia antes da votação, Hayatou e Blatter discutiram asperamente devido a um evento de perguntas e respostas que foi monopolizado pelo suíço. Segundo relato do jornal britânico "The Telegraph", eles chegaram perto da violência física após gritos de "isto é escandaloso" do camaronês.

Em 2013, ele virou motivo de piada ao ser flagrado dormindo durante partida entre África do Sul e Angola pela Copa das Nações Africanas. À época, diversos jornais afirmaram que as sonecas de Hayatou não se restringiam aos jogos e aconteciam também em reuniões da Fifa.


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