Folha de S. Paulo


Ceni vê saída de Osorio como 'questão de tempo' e elogia Milton Cruz

O goleiro Rogério Ceni, 42, já vê como iminente a saída do técnico Juan Carlos Osorio do São Paulo.

"Eu torço para que ele permaneça até dezembro. O acerto dele com a seleção mexicana deve ser coisa de tempo. Mas torço para que ele consiga permanecer mais tempo conosco", disse Ceni.

Osorio tem uma proposta para comandar a seleção mexicana nas eliminatórias na Copa do Mundo-2018. No sábado (3), ele prometeu anunciar a decisão na próxima quarta-feira (7).

Para o goleiro, porém, o coordenador técnico Milton Cruz está capacitado para assumir a vaga de Osorio, caso o colombiano saia mesmo do clube.

"Todo trabalho que é interrompido deixa o time numa situação difícil para suprir a ausência, principalmente quando quem sai é um grande profissional. Mas vejo pelo lado positivo. Temos o Miton Cruz, que está todos os dias no CT, e pode tocar o projeto", disse Ceni.

O goleiro ainda elogiou o trabalho de Osorio, que tem pouco mais de quatro meses desde que chegou ao São Paulo e colocou o time na semifinal da Copa do Brasil e na quinta posição no Campeonato Brasileiro, com a mesma pontuação do Santos, quarto colocado.

"As duas principais características dele são o trabalho diário, com diversidade de treinamentos, uma visão tática. E, mesmo com a dificuldade do idioma, ele consegue motivar bastante o time, consegue se fazer entender. Tem uma influência motivacional na equipe", disse.

APOSENTADORIA

De folga do São Paulo nesta segunda (5), Ceni estava na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, onde participou de um lançamento de relógios com o nome dele. São 131 relógios, uma alusão ao número de gols que o goleiro fez. No evento, ele falou da aposentadoria.

"Está chegando a hora de sair de cena, de ocupar outro espaço. Vou pensar em algo diferente para fazer em 2016. Não tem talvez. Dezembro eu me retiro dos gramados", disse.

O goleiro tricolor afirmou ainda que não conversou com a diretoria sobre como pode continuar ligado ao São Paulo após a aposentadoria. Disse que não ter chamado para conversar não o mágoa.

"Ofereceram uma renovação de cinco anos", disse, aos risos, brincando. "Não [ofereceram nada], e não tem obrigação de oferecer nada. Sou muito grato à instituição. Não há ressentimento".

VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA DE CENI

EXPECTATIVA SOBRE O ANÚNCIO DE OSORIO
"Temos de aguardar. Eu fico contente quando um profissional sai do São Paulo para algo especial. Uma seleção é algo especial. Agradecemos a ele tudo que ele fez pela gente nesses quatro meses. Se ele for, ele está indo realizar um sonho. Eu realizei o meu. Estive no São Paulo por 25 anos".

COMO FICA O TIME COM ESSA INDEFINIÇÃO
"Conversamos internamente sobre isso, mas não tem influência nenhuma no rendimento do time dentro de campo. Assim como a parte politica não tem influência direita, como eu já disse. Atleta vive em um mundo fechado, especial. Nada do que acontece fora traz influência direta no rendimento do atleta".

COMO LIDA COM O TEMPO PARA A APOSENTADORIA?
Tento não pensar muito. Sei que faltam no máximo 13 jogos [para o fim da carreira]. Para quem jogou 1.240, 13 é um número muito pequeno. Tento viver o dia a dia. Deixar para ficar triste ou não quando chegar a hora, que será no inicio de dezembro. Ter feito o meu melhor durante tanto tempo, ter o privilégio de trabalhar 25 anos no mesmo clube, ser titular... Tudo isso eu pude realizar. Me sinto realizado com a minha carreira. Isso ameniza [a dor da aposentadoria]. Quando você se frustra com a carreira, é mais difícil parar. Por causa de lesão ou qualquer outro problema. Me sinto privilegiado. Clube do meu coração e um dos maiores do mundo".

COMO SE SENTE?
Honestamente, tenho treinado mais do que o normal. Não é porque daqui 60 dias encerro a carreira que desacelerei de ritmo. Tive uma lesão que me atrapalhou um pouco, mas chego todos os dias uma hora e meia antes do treino começar e todos os dias saio mais tarde porque tenho a parte da fisioterapia. Não sou mais um garoto que pode chegar ao CT em cima da hora, botar a chuteira e treinar. Mas não parei uma noite para dormir pensando como será a última semana. Acredito que seja sofrido, doloroso, por isso vou esperar acontecer. Tenho 42 anos, 25 no mesmo caminho. Deve ser muito difícil mesmo".

DESPEDIDA COM A COPA DO BRASIL
"Isso é algo que qualquer atleta sonha: encerrar uma carreira com uma taça. No Brasileiro, nossas chances são mínimas. Somente matemáticas. Mas na Copa do Brasil, dentro da dificuldade, as quatro equipes são grandes, têm tradição. Tem dois times paulistas, clássicos. Vamos enfrentar [o Santos], talvez, a equipe que mais vem crescendo no segundo semestre. Soma bons resultados. Isso eu penso todas as noites que eu vou dormir".

O QUE FALTA NA CARREIRA?
Não faço planos a longo prazo. Tento viver o presente. Passado não dá para mudar, o futuro é uma incerteza. E o presente é uma oportunidade. Cada dia escrever uma história nova. Penso no próximo jogo, na próxima chance de vencer, de ser campeão. Aprendi que na vida você não pode pensar coisas muito distantes porque acaba fugindo de metas próximas. Quero fechar o ano da melhor maneira possível. Eu sou pago para jogar no São Paulo, mas não trato isso como emprego. Trato como minha casa. Eu durmo no CT, no quarto numero 1, há 23 anos. Imagina o impacto que existe em uma saída do clube. Evito pensar nisso. Meus sonhos como profissional eu realizei".

QUEM DEVE SUBSTITUIR OSORIO?
Acho que fica delicado para mim, no final de carreira, falar de conceitos, dar ideias do que deve ser feito. As pessoas que comandam o clube devem decidir. Osorio foi ousado e deu certo. Talvez o aproveitamento em números não seja o esperado, mas em características, sim. O estilo que o time joga deixa feliz quem acompanha".


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