Folha de S. Paulo


Brasil ainda não tem vaga em metade das provas de atletismo na Rio-2016

Wong Maye-E/Associated Press
Largada dos 100 m rasos no Mundial de Pequim, em agosto, com Usain Bolt na raia 5
Largada dos 100 m rasos no Mundial de Pequim, em agosto, com Usain Bolt na raia 5

Engenhão, 13 de agosto de 2016. Começam as preliminares da mais nobre das provas da Olimpíada. E nenhum brasileiro está no bloco de largada para correr os 100 m rasos.

A cena, distante no calendário, está mais próxima de acontecer do que se imagina.

Hoje não há um brasileiro sequer com índice para sonhar em ser um dos mais de 70 atletas que vão desafiar a supremacia de Usain Bolt.

Também não há atletas nacionais em quase metade das disputas olímpicas do atletismo. Das 47 provas do programa, 24 possuem brasileiros (e 23, não) com as marcas mínimas exigidas pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) para ao menos pisar na pista ou no campo do estádio olímpico do Rio.

No atletismo, o país-sede não tem o benefício da classificação automática como em outros esportes. Assim, os atletas brasileiros têm até 11 de julho, ou seja, menos de um mês antes dos Jogos, para correr, saltar, lançar e arremessar em busca de índices.

Hoje, 15 homens e 13 mulheres do país já alcançaram esse primeiro objetivo.

A maior parte das marcas começou a valer em 1º de maio e, como setembro costuma ser de férias no atletismo mundial, novos resultados devem começar a ser atingidos a partir de fevereiro.

Na disputa para saber quem é o homem mais rápido do mundo, por exemplo, o tempo mínimo exigido pela Iaaf (federação internacional de atletismo) —e mantido pela CBAt— é 10s16 no masculino. O brasileiro mais perto desta marca é Vitor Hugo dos Santos, que este ano correu os 100 m em 10s22.

Tão perto, tão longe. Segundo a Folha apurou, até a alta cúpula da CBAt está pessimista em relação à participação brasileira na prova.

Dos 85 atletas que já correram abaixo dos 10s16 neste ano, 15 são jamaicanos como Bolt e 33 americanos como Justin Gatlin. Na Rio-2016, porém, cada país pode ter apenas três atletas por provas, por isso estes realizam seletivas às vésperas dos Jogos.

TER OU NÃO TER?

O Brasil, que espera um ou dois pódios no Rio, projeta ter cerca de 60 competidores no atletismo. Em Londres-2012, foram 36, em 21 provas.

"Quero colocar o maior número de atletas possível. O Brasil organiza a festa, tem que estar lá", diz o presidente da CBAt, Toninho Fernandes. O dirigente não descarta, inclusive, receber convites da Iaaf. Posição contrária à do técnico-chefe da seleção brasileira, Ricardo D'Angelo.

"Os índices não me preocupam tanto agora. O ideal mesmo é que estes atletas repitam as marcas perto dos Jogos, para ter certeza que estão indo na melhor forma."

Responsável pela seleção nos últimos Mundiais e Olimpíadas, D'Angelo alerta que a CBAt pode até exigir que o atleta repita a marca próxima à do índice antes dos Jogos para garanti-lo na Rio-2016.

"Não é o caso de uma Fabiana Murer [salto com vara], que é consistente e, para ela, já ter o índice ajuda na preparação. Mas, para alguns, sem foco, às vezes é melhor conseguir perto do que fazer uma vez e, depois, se frustrar na Olimpíada", explica.

Para a paulista Geisa Arcanjo, melhor brasileira em Londres-2012, seria melhor já ter alcançado a marca. Ela ficou a quatro centímetros do índice no arremesso de peso: fez 17,76 m, e precisa 17,80 m.

"Era bom já ter a segurança e a vaga assegurada, para treinar com mais tranquilidade e com um suporte ainda maior visando os Jogos", diz.

Um caso peculiar é de Juliana Gomes dos Santos. A atleta que ganhou o único ouro do Brasil nas pistas do Pan de Toronto, nos 5.000, ainda não tem índice para nenhuma prova, mas é a brasileira mais bem classificada no ranking mundial para três delas.

"Não sei em qual prova vou focar ainda. O índice é o objetivo maior no momento, para começar a viver a Olimpíada, e as expectativas são boas nos 1.500 m, 5.000 m e nos 3.000 com obstáculos", diz.

Afinal, o objetivo dela e de outra centena de atletas é o mesmo: cruzar a mesma linha de chegada que está esperando por Usain Bolt em 14 de agosto de 2016.

*

HOMENS COM ÍNDICE
200 m rasos
Aldemir Gomes Junior e Bruno Lins

400 m rasos
Hederson Estefani

1.500 m rasos
Thiago do Rosário André

110 m com barreiras
Éder Antonio de Souza e
João Vitor de Oliveira

400 m com barreiras
Hederson Estefani

Revezamento
Equipe classificada (1 x 400 m)
Equipe classificada (4 x 400 m)

Salto com vara
Thiago Braz e Augusto Dutra

Lançamento do dardo
Julio Cesar Miranda de Oliveira

Decatlo
Luiz Alberto Cardoso de Araújo

Marcha atlética
Caio Bonfim(20 km)
Mário José dos Santos Junior (50 km)

Maratona
Marilson Gomes dos Santos, Solonei Rocha da Silva
e Gilberto Silvestre Lopes

BRASILEIROS MAIS PERTO DO ÍNDICE NESTE ANO

100 m rasos
Vitor Hugo dos Santos
(10s22, precisa de 10s16)

800 m rasos
Thiago André
(1min46s36, precisa de 1min46s)

5.000 m rasos
Altobeli Santos da Silva
(13min41s17, precisa de 3min25s)

10.000 m rasos
Daniel Chaves da Silva
(28min19s3, precisa de 28min)

3.000 m com obstáculos
Jean Carlos Dolberth Machado
(8min45s58, precisa de 8min28s)

salto em altura
Talles Frederico Silva
(2,28 m, precisa de 2,29 m)

salto em distância
Alexsandro de Melo
(8,12 m, precisa de 8,15 m)

salto triplo
Jean Cassimiro Rosa
(16,80 m, precisa de 16,90 m)

Arremesso de peso
Darlan Romani
(20,90 m mas fora do período válido, precisa de 20,50 m)

Lançamento do disco
Ronald Julião
(64,65 m, precisa de 66 m)

Lançamento do martelo
Wagner Domingos
(74,20 m, precisa de 78 m)

MULHERES COM ÍNDICE

100 m rasos
Rosângela Santos
Ana Claudia Lemos

200 m rasos
Rosângela Santos
Ana Claudia Lemos
Vitória Cristina Silva Rosa

400 m rasos
Geisa Coutinho

800 m rasos
Flávia Maria de Lima

Revezamento 4 x 100 m
Equipe classificada

Revezamento 4 x 400 m
Equipe classificada

Salto com vara
Fabiana Murer

Salto em distância
Keila Costa

Lançamento do disco
Andressa Oliveira de Morais
Fernanda Borges Martins

Marcha atlética - 20 km
Érica Rocha de Sena

Maratona
Adriana Aparecida da Silva
Marily dos Santos
Sueli Pereira Silva

BRASILEIRAS MAIS PERTO DO ÍNDICE NESTE ANO

1.500 m rasos
Juliana Gomes dos Santos (4min10s68, precisa de 4min06s)

5.000 m rasos
Juliana Gomes dos Santos (15min45s97, precisa de 15min20s)

10.000 m rasos
Tatiele de Carvalho
(33min24s33, precisa de 32min15s)

100 m com barreiras
Adelly Santos
(13s06, precisa de 13s)

400 m com barreiras
Jailma de Lima
(58s14, precisa de 56s20)

3.000 m com obstáculos
Juliana Gomes dos Santos (9min55s92, precisa de 9min45s)

Salto em altura
Ana Paula de Oliveira
(1,86 m, precisa de 1,94 m)

Salto triplo
Keila Costa
(14,17 m, precisa de 14,20 m)

Arremesso de peso
Geisa Arcanjo
(17,76 m, precisa de 17,80 m)

Lançamento do martelo
Carla Michel
(63,24 m, precisa de 71 m)

Lançamento do dardo
Juciele de Lima
(61,23 m, precisa de 62 m)

Heptatlo
Vanessa Spinola
(6.103 pontos, precisa de 6.200 pontos)

Colaborou ÉDER FANTONI, de São Paulo


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