Folha de S. Paulo


Fifa afasta secretário-geral Jérôme Valcke

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, 54, foi afastado do seu cargo nesta quinta-feira (17), conforme comunicou a entidade máxima do futebol.

"A Fifa anunciou hoje que o seu secretário-geral Jérôme Valcke foi colocado em licença e liberado de suas funções efetivas imediatamente até novo aviso", diz o comunicado.

"Além disso, a Fifa tomou conhecimento de uma série de denúncias envolvendo o secretário-geral e solicitou uma investigação formal pelo Comitê de Ética da Fifa", afirma.

Nesta quinta-feira (17), o empresário Benny Alon afirmou na Suíça que o dirigente ficava com parte do dinheiro de ingressos da Copa de 2014 revendido com ágio.

As informações foram reveladas por um grupo de jornalistas internacionais, entre os quais profissionais do jornal inglês "The Guardian" e do brasileiro "O Estado de S.Paulo".

O empresário, porém, não apresentou provas de que Valcke realmente lucrou com entradas do Mundial. O dirigente da Fifa nega qualquer irregularidade.

Alon é sócio da JB Sports & Marketing, que tinha um contrato para fornecimento de ingressos da Copa com a Fifa.

Ele afirmou que fez um acordo com Valcke para vender os ingressos do Mundial com ágio de 200% no mercado negro. Em troca, segundo o empresário, a JB Sports e Valcke dividiriam os lucros meio a meio.

De acordo com o "The Guardian", a JB Sports tinha envolvimento com a Fifa desde a Copa do Mundo de 199, na Itália, e assinou um contrato em 2010 para vender 8.750 ingressos para o Mundial do Brasil, em 2014. O acordo garantia ingressos para os 12 melhores jogadores do torneio, assim como para os 12 piores.

Ainda segundo o jornal, um ingresso para as oitavas de final, com valor de face de US$ 230, era vendido por US$ 1,3 mil.

O secretário-geral da Fifa já estava sob pressão por causa de uma carta que mostra que ele recebeu o pedido de repasse de US$ 10 milhões (R$ 39 milhões) que as autoridades americanas alegam ser propina de esquema de corrupção no futebol.

Segundo documento divulgado pelo canal sul-africano SABC, Valcke recebeu uma solicitação por escrito no dia 4 de março de 2008 do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência desse montante para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central.

Em julho, Valcke disse que, provavelmente, deixaria o seu cargo logo após a eleição para a presidência da entidade, marcada para o dia 26 de fevereiro.

PERFIL

Valcke, jornalista com passagens pelos departamentos de esportes de TVs francesas, assumiu cargo na Fifa pela primeira vez em 2003.

Era o diretor de marketing e TV quando a Fifa trocou como patrocinadora a Mastercard pela Visa, empresas de cartão crédito, numa negociação que gerou processo nos Estados Unidos e sua demissão.

Blatter demitiu Valcke em dezembro de 2006, depois de a Fifa ser multada em mais de US$ 60 milhões porque, segundo a Justiça americana, não respeitou cláusula do contrato com a Mastercard.

Para surpresa de todos que acompanharam o caso, sete meses depois, em julho de 2007, Valcke foi nomeado secretário-geral da entidade, cargo que dá autonomia para cuidar dos preparativos da Copa do Mundo.

Valcke participou da organização da Copa da África do Sul, em 2010 e, claro, da organização do Mundial do Brasil, no qual se envolveu em polêmicas ao criticar costumeiramente os atrasos nos preparativos.

Na mais conhecida, em março de 2012, ele afirmou que o Brasil precisava de um "chute no traseiro" para acelerar as obras. O governo federal recebeu mal, cobrou a Fifa, e a resposta foi que a frase, em francês, foi mal-interpretada e significava "acelerar o passo".


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