Folha de S. Paulo


Eu nunca duvido de mim, diz Bolt após o tri nos 100 m

Ele tropeçou e quase caiu na semifinal. Com lesões nos últimos meses, competiu pouco e não tinha a melhor marca da temporada. Mas, para a alegria de quase todos que lotavam o estádio Ninho de Pássaro, em Pequim, o jamaicano Usain Bolt, 29, ganhou a prova dos 100 m do Mundial de atletismo.

Dono de seis ouros olímpicos e duas vezes campeão mundial dos 100 m, Bolt teve uma disputa apertada com o americano Justin Gatlin, 33, que era a sensação no ano.

A briga entre ambos não se prende apenas à contagem do tempo. Bolt é o homem mais rápido do mundo, carismático, "showman", nunca pego em doping, estrela dos dois últimos Jogos Olímpicos. Gatlin, já suspenso por doping no passado, se esforça para se recolocar em cena.

"Bolt vai ganhar, ele é 'limpo'. É quem todo mundo apoia", apostou o britânico Tommy Durham pouco antes de chegar ao estádio.

Mesmo quem acreditava na vitória de Gatlin, por causa de seus grandes tempos este ano, torcia para o jamaicano.

"Eu gosto dele, é uma grande estrela", disse a chinesa Gloria Wu. O clima era semelhante dentro do Ninho de Pássaro, onde o jamaicano ganhou seus primeiros três ouros olímpicos, em 2008. Foi o atleta que mais apareceu no telão antes da prova e o mais aplaudido —à exceção do chinês, Bingtian Su, que terminou a final em último.

Nas semifinal, no início da noite de domingo (manhã no Brasil), Bolt quase caiu. Conseguiu se recuperar e fechou em primeiro lugar do seu grupo, com o tempo de 9s96. Depois do susto, apareceu sério para a final. Gatlin, que passou da semifinal com 9s77, também estava nervoso.

Coros de "Usain Bolt!" surgiam das tribunas do estádio.

Na hora certa, Bolt fez o sinal da cruz, apontou para o céu e ganhou, com a marca de 9s79, seu melhor tempo no ano. Gatlin terminou com 9s80. O bronze foi dividido entre o americano Trayvon Bromell e o canadense Andre de Grasse, ambos com 9s92.

Passado o aperto dos fãs e dos corredores, o estádio trocou as músicas de tensão por "One Love", de Bob Marley.

Nas declarações após a vitória, Bolt disse que, entre as duas provas do domingo, foi questionado pelo técnico sobre a quase queda. "Ele disse: 'Você está pensando demais na prova. Lembre-se que já esteve nessa posição muitas vezes, relaxe e faça.'"

Apesar da insegurança de parte dos fãs sobre a vitória, Bolt disse não ter duvidado de seu desempenho. "Se você começa a duvidar, já perdeu a prova. Eu nunca duvido de mim mesmo."

Sobre a pressão de não deixar Gatlin tirar seu título, o jamaicano afirmou que era preciso vencer "para continuar sua lenda". "Era a única pressão que eu precisava."

Para manter os ânimos agitados no Mundial de Pequim, Gatlin e Bolt ainda disputam uma outra prova, os 200 m, cuja final será na quinta (27).


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