Folha de S. Paulo


Gatlin vai a Mundial para destronar Bolt e apagar passado de doping

Justin Gatlin, 33, ganhou os holofotes internacionais em 2004, quando suplantou favoritos para se tornar campeão olímpico dos 100 m no Estádio Olímpico de Atenas.

O americano surpreendeu por já ter, tão jovem, uma mancha no currículo: um caso positivo de doping em 2002, por anfetaminas, que depois foi "perdoado" por comprovar o uso delas para tratar um transtorno por deficit de atenção.

Ainda assim, saiu daquela Olimpíada em alta. No ano seguinte, fez dobradinha nos 100 m e 200 m no Mundial de Helsinque, uma façanha para poucos.

Quando parecia decolar para a ala dos grandes velocistas de todos os tempos, o doping o tirou de cena mais uma vez, em 2006. Gatlin foi condenado a oito anos de afastamento por um outro exame positivo, mas colaborou com autoridades e teve a pena reduzida pela metade.

O retorno, em 2010, foi envolto em muita polêmica. Até hoje há quem torça o nariz para o velocista. Recém-eleito presidente da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), o inglês Sebastian Coe afirmou que a ideia de Gatlin ganhar provas de 100 m o deixa "enjoado".

O fato, porém, é que desde sua volta Gatlin é um dos homens mais rápidos do planeta. Foi medalha de bronze nos 100 m nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e, desde então, só melhorou –também levou a prata na mesma prova no Mundial de Moscou, há dois anos.

Emmanuel Dunand/Glyn Kirk/AFP
Combination picture made on August 21, 2015 shows Jamaica's Usain Bolt (R) in London on July 24, 2015 and Justin Gatlin in Brussels, September 5, 2014. Usain Bolt and the controversial Justin Gatlin will get the world championships off to an explosive start when they take their rivalry onto the Beijing track in the 100m heats on August 22, 2015. AFP PHOTO / EMMANUEL DUNAND / GLYN KIRK ORG XMIT: ATH02
Fotomontagem com Justin Gatlin e Usain Bolt, que protagonizam a maior rivalidade do Mundial

No Mundial de Pequim, que tem início na noite nesta sexta-feira (21), ele é o maior opositor a Usain Bolt, o astro jamaicano que domina as provas de sprint há sete anos.

A eliminatória dos 100 m ocorre na manhã deste sábado (22), às 8h20 (de Brasília).

Gatlin detém os quatro melhores tempos do mundo na distância nesta temporada. Também possui os dois melhores nos 200 m. Mais? Não perdeu nas 27 corridas que fez em 2015. Seus 9s74 cravados em Doha, em maio, o tornaram o quinto atleta mais veloz da história.

"Eu sou mais do que quatro anos [de afastamento]. Sou mais do que dois banimentos por doping. Eu fiz muita coisa antes de ser afastado, e já fiz muita coisa depois disso", afirmou o velocista.

Gatlin tem afirmado para quem quiser ouvir que vencerá Bolt tanto nos 100 m quanto nos 200 m em Pequim, e também disputará o revezamento 4 x 100 m. Parte da confiança vem do fato de que o jamaicano não atravessa grande fase.

No ano, competiu nas duas provas mais velozes do atletismo apenas seis vezes. Não fez grandes marcas. E uma lesão na perna esquerda deixa dúvidas sobre sua forma.

Gatlin, por outro lado, disse estar na melhor forma de sua vida. O frenesi em torno dele fez até mesmo com que a Nike voltasse a patrociná-lo, o que causou críticas de atletas como a recordista mundial da maratona, a britânica Paula Radcliffe. "Eu estou decepcionada com essa notícia", escreveu em abril, pouco depois do acerto. Ela também é patrocinada pela empresa.

Compatriota de Gatlin, o velocista David Oliver, destaque nos 100 m com barreiras, defendeu-o em entrevista coletiva em Pequim, nesta sexta.

"Ele [Gatlin] está apenas fazendo seu trabalho, está sendo rápido e estou feliz. Estou na torcida por ele", disse.

Com ou sem aceitação, o norte-americano entrará no Ninho de Pássaro para fazer história e tentar quebrar a hegemonia da Jamaica -leia-se Bolt- nas provas de velocidade. A ver se a história irá encará-lo como um dos grandes, ou um campeão com asterisco.


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