Folha de S. Paulo


Em ano sem brilho, Bolt se diverte com ameaças e diz estar na melhor forma

Poucas vezes desde que ascendeu ao topo das provas de velocidade Usain Bolt, 29, viu seu reinado tão ameaçado quanto agora no Mundial de Pequim, que se inicia na noite desta sexta-feira (21).

O astro jamaicano, detentor de seis ouros olímpicos, estreia na competição na manhã deste sábado (22), nas eliminatórias dos 100 m, com muita coisa a provar.

Nesta temporada, Bolt correu pouquíssimas vezes. Disputou apenas três provas de 100 m e outras três de 200 m, provas das quais é bicampeão olímpico. Também se viu as voltas com lesão na perna esquerda que o tirou de duas etapas do circuito mundial.

Não bastasse isso, viu seu maior rival na atualidade, o provocador Justin Gatlin, 33, quase que literalmente voar.

O norte-americano ostenta as quatro melhores marcas do mundo nos 100 m nesta temporada (a mais veloz é 9s74, sendo que a de Bolt é 9s87) e as duas mais rápidas nos 200 m.

Geralmente, é o jamaicano que costuma chegar aos grandes palcos com esses atributos. Gatlin, porém, está longe de ser um aventureiro. Campeão olímpico dos 100 m em Atenas-2004, ele foi flagrado no doping dois anos depois e permaneceu afastado das pistas por quatro temporadas.

Retornou antes dos Jogos de Londres-2012, a tempo de se reerguer e obter um bronze na prova mais rápida do atletismo no Reino Unido. Desde então, ele tem se autopromovido como o único capaz de bater Bolt.

É bom ressalvar, no entanto, que o jamaicano tem sido invencível nos últimos sete anos, mais precisamente desde que explodiu com três ouros conquistados nos Jogos de Pequim, cujas provas de atletismo ocorreram exatamente no Ninho de Pássaro, que hospeda o Mundial deste ano.

Neste período, Bolt não perdeu nenhuma disputa em Olimpíadas e Mundiais. Na única vez que não faturou ouro nas provas de velocidade, não foi de fato derrotado. Ele foi desclassificado da final dos 100 m no Mundial de Daegu-2011 por ter queimado a largada.

Todo esse histórico o faz agir com tranquilidade, mesmo em uma temporada fraca.

"Eu estou me sentindo bem. Gostaria de ter participado de mais corridas [neste ano], mas o treinamento foi bom. O técnico [Glen Mills] está contente e é bom saber disso", disse o astro, em entrevista coletiva realizada em um hotel em Pequim, nesta quinta (20).

"As coisas normalmente se acertam para mim nos grandes campeonatos, então não estou preocupado", complementou.

Bolt chegou em situação semelhante aos Jogos de Londres. Além de ter sido destronado no ano anterior nos 100 m, em Daegu, também perdeu as suas duas provas para Yohan Blake na seletiva olímpica jamaicana.

Porém, na capital inglesa, foi dominante. Venceu os 100 m, 200 m e o revezamento 4 x 100 m com autoridade e se autodenominou uma "lenda" por suas façanhas. Ele disputará estas mesmas provas, das quais é recordista mundial, em Pequim.

A convicção de ser o melhor do mundo, ainda, o fez descontrair a entrevista mesmo diante de tantos questionamentos.

"Estou na minha melhor forma e correndo bem. Tudo está se encaixando. Estou pronto".

Além de Gatlin, ele deve ter como principais rivais nos 100 m o compatriota Asafa Powell e outro norte-americano, Tyson Gay.

Segundo Bolt, este deve ser seu penúltimo Mundial. Ele planeja se aposentar na edição de 2017, em Londres, um ano após os Jogos Olímpicos do Rio.


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