Folha de S. Paulo


Atletismo brasileiro começa Mundial com discurso modesto e foco em finais

O palco, o estádio Ninho de Pássaro, em Pequim, guarda uma das boas lembranças recentes do atletismo nacional.

Nos Jogos Olímpicos de 2008, Maurren Maggi conquistou um ouro inédito para o país no salto em distância, dentro da colossal arena.

Sete anos depois, o moral e a confiança do Brasil para o Campeonato Mundial da modalidade, que começa na noite desta sexta-feira (21, com transmissão do SporTV 3 a partir de 20h30) exatamente no Ninho de Pássaro, vão na direção inversa.

A delegação brasileira, que na China terá 58 atletas, vem de resultados ruins desde os Jogos de Londres-2012, de onde saiu sem medalhas.

A "seca" prosseguiu no Mundial de Moscou, em 2013, e nem os 13 pódios obtidos no Pan de Toronto, no mês passado, aliviaram a barra -foram dez a menos em relação à edição anterior, em 2011.

A maré ruim faz com que a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) adote um discurso de cautela para o evento. Mesmo tendo, nas fileiras, dois competidores entre os cinco melhores do mundo em suas provas na temporada.

Ambos no salto com vara. Fabiana Murer e Thiago Braz detêm as quartas marcas do mundo sobre o sarrafo.

Jim Watson - 23.jul.2015/AFP
Fabiana Murer salta durante a final dos Jogos Pan-Americanos de Toronto; atleta tem a 4ª melhor marca do ano
Fabiana Murer salta durante a final dos Jogos Pan-Americanos de Toronto; atleta tem a 4ª melhor marca do ano

"Agora, a meta é colocar atletas no maior número possível de finais. Isso alcançado, há a chance de luta por medalhas", afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente técnico da CBAt.

O país soma 14 láureas em Olimpíadas e 11 em Mundiais. Mas até mesmo pôr atletas em finais tem sido complicado recentemente. Em Moscou, há dois anos, foram seis, o mesmo número obtido nas edições anteriores, em Berlim-2009 e em Daegu-2011.

O dirigente disse que a falta de conquistas não cria uma atmosfera de apreensão.

"Não se trata de pressão. O que a CBAt faz é desenvolver um programa para este ciclo olímpico, propiciando a melhor preparação disponível para os atletas da seleção."

Para o ex-atleta Robson Caetano, detentor de duas medalhas olímpicas em provas de velocidade, o Brasil evoluiu em termos de estrutura, mas não acompanhou a elite do atletismo mundial.

"Nós tínhamos tradição em provas de salto, com Adhemar Ferreira da Silva. Depois, tivemos um auge no final dos anos 1980, comigo e com Joaquim Cruz. Mas ficamos na dependência de um momento ou outro para conquistar medalhas", comentou.

Na avaliação de Caetano, um dos problemas está na confiança. Ele se disse "pessimista" para o Mundial, dado o que se passou no Pan de Toronto.

"Falta aquele pulo do gato. Aquele sentimento de 'vou fazer'. Tem faltado tempero ao atleta brasileiro, que é de qualidade, mas na hora do 'vamo ver' não faz. Esta geração tem tudo, mas não consegue encontrar o caminho."

Um dos expoentes da nova safra é Braz, de 23 anos. Neste ano, ele já estabeleceu a marca de 5,92 m no salto com vara (recorde sul-americano), que lhe daria medalha nos Jogos de Londres.

O jovem, porém, decepcionou no Pan ao errar todos os seus saltos. Ele compete em Pequim já na manhã deste sábado (22), nas eliminatórias.

Segundo seu técnico, o ucraniano Vitaly Petrov, o insucesso foi aprendizado. "Os melhores atletas do salto com vara já passaram por situação parecida. Mas o que ocorreu no Pan não é determinante para o Mundial. Thiago está pronto", disse.

A competição será realizada até o outro domingo (30).

Greg Baker/AFP
Cheerleaders rehearse on the track at the Bird's Nest National Stadium ahead of the IAAF Athletics World Championships in Beijing on August 20, 2015. The Athletics World Championships will be held at the stadium from August 22 to 30. AFP PHOTO / GREG BAKER ORG XMIT: GB3957
Cheerleaders ensaiam na pista do estádio do Ninho de Pássaro para o Mundial de Atletismo, em Pequim

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