Folha de S. Paulo


Patrocinadores da Fifa influenciam nas reformas da entidade

O conselho independente que vai tratar da reforma da Fifa terá 14 representantes, além do presidente nomeado nesta terça-feira (11), o advogado suíço François Carrard, 77.

A principal novidade nos nomes que farão parte do conselho é a presença de dois representantes de parceiros comerciais da entidade.

As denúncias de corrupção no futebol, que ocasionaram na prisão de sete cartolas às vésperas da eleição para presidência da Fifa, em 27 de maio, e a suspeita do pagamento de propinas para que o Qatar receba a Copa-2022, minaram a relação da federação com seus principais patrocinadores.

Por isso, o presidente Joseph Blatter decidiu que os parceiros poderão ter voz no grupo que discutirá as mudanças na entidade –Blatter anunciou que renunciará e uma nova eleição foi marcada para 26 de fevereiro de 2016, quando também serão colocadas em votação as propostas que o conselho independente vai formular.

Atualmente, a Fifa conta com cinco parceiros comerciais –Coca-Cola, Adidas, Gazprom, Hyundai/Kia e Visa. Há também empresas que patrocinam a Copa do Mundo, como o McDonalds e a Budweiser.

A Folha apurou que a mudança no formato do comitê independente que analisa propostas para a reforma foi um pedido direto dos patrocinadores, para não deixarem a entidade.

O suíço Domenico Scala, que chefia a comissão de auditoria da Fifa e inicialmente foi indicado por Blatter para comandar a reforma, era considerado pelos parceiros comerciais e por membros da Uefa (União Europeia de Futebol) muito ligado à entidade e ao presidente Blatter.

Cada associação continental já indicou dois membros. A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) selecionou um de seus vice-presidentes, o uruguaio Wilmar Valdez, que também preside a federação de seu país.

O segundo nome é o do advogado espanhol Gorka Villar, diretor-geral da entidade, e que acompanhou inicialmente o caso do brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF e um dos presos na Suíça acusado de receber propina para fechar acordos comerciais de torneios como a Libertadores e a Copa do Brasil. Villar acabou não pegando a defesa de Marin.

Algumas das outras confederações nomearam pessoas sem ligações com a entidade, com perfil técnico, como a Oceania, que terá uma advogada neozelandesa chamada Mai Chen e a Concacaf (Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe), uma das mais implicadas no caso de corrupção, que terá um advogado norte-americano chamado Samir Gandhi.

A Uefa do pré-candidato à presidência da Fifa Michel Platini indicou seu secretário-geral, o suíço Gianni Infantino e o seu diretor jurídico, o escocês Alasdair Bell.

Os dois indicados da Ásia foram ou são membros do Comitê-Executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional), onde tiveram contato com Carrard.

O advogado suíço liderou as reformas do COI logo depois da polêmica escolha de Salt Lake City, nos Estados Unidos, como sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002.

Em 1998, dirigentes do COI foram acusados de aceitarem subornos para garantir que a cidade americana, no Estado de Utah, sediasse a competição.

Pelos menos 20 dirigentes do comitê foram expulsos ou suspensos, e medidas foram criadas para tentar evitar a corrupção, como limitação de mandatos e de acesso de membros da entidade aos países participantes de eleição para ser sede olímpica.


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