Folha de S. Paulo


Brasileiro Luan Oliveira vira protagonista do 'show' do street skate

O gaúcho Luan Oliveira, 24, é conhecido desde sua adolescência como uma das grandes promessas do skate brasileiro no estilo "street" (com pistas que simulam obstáculos urbanos, como corrimões e desníveis). Nos últimos meses, ele tem dado provas de que alcançou o pico de sua trajetória até o momento, seja em termos técnicos, publicitários ou financeiros.

Em dezembro de 2014, ele ganhou votação na internet para decidir o skatista mais querido pelo público. Seu estilo que mistura técnica e arrojo é apontado como um dos motivos do carinho do público.

Em 12 de julho, ele venceu a primeira etapa de 2015 da Street League Skateboarding (SLS), em Los Angeles. Ele se tornou o primeiro brasileiro a conseguir o feito– a competição existe desde 2010 e reúne os melhores atletas da modalidade.

"Na verdade pra mim parecia um sonho, eu realmente não esperava vencer essa primeira etapa. Mas que eu estava 100% focado em acertar as minhas manobras, ah, isso eu estava. Eu só pensei em me divertir, andar de skate e acertar todas manobras possíveis", conta Luan.

Outros skatistas alcançaram feitos competitivos equivalentes ou superiores no passado -Rodil de Araújo Jr. conquistou cinco medalhas de ouro nos X-Games, por exemplo–, mas a premiação de US$ 100 mil é um marco nos ganhos dos skatistas brasileiros no estilo "street.". Os valores pagos por competições da SLS são os maiores da história da modalidade.

Com oito patrocinadores, entre eles as gigantes Nike e Oakley, Luan diz que ganha "o suficiente para viver bem e confortável".

Carismático e técnico, ele é um dos protagonistas da transformação do street skate em "show" (como ele mesmo diz), em uma modalidade cada vez mais popular e midiática, mas com raízes no esporte praticado na rua.

Em 2014, causou polêmica a inauguração da maior pista de skate do Reino Unido, patrocinada pela luxuosa loja de departamentos Selfridges. O projeto bateria de frente com a postura historicamente independente e anticomercial dos skatistas.

Nos Estados Unidos, as etapas da SLS são transmitidas pelo canal Fox Sports, e contam com mais de 1,7 milhão de espectadores, o que evidencia a crescente incorporação da modalidade ao "mainstream".

Talvez o segredo da popularidade do skatista brasileiro esteja justamente na maneira como ele articula as facetas publicitária e contracultural do skate.

Na etapa de Barcelona, em 2015, ele agradou o público ao se apresentar com uma camisa do time catalão.

"Acredito que sempre tratei bem as pessoas que acompanham meu trabalho e que estão ali para acompanhar o 'show'", explica.

Ao mesmo tempo, ele não gosta de falar com a imprensa ao vivo ou por telefone. A Folha conduziu a entrevista por e-mail.

Ao falar de sua formação, Luan valoriza o esporte praticado na rua e sua independência desde criança. Ele escreve de maneira despojada suas respostas, como se fazendo pouco caso da exposição crescente.

"Sempre fui um moleque sozinho e independente, desde os 14 anos já estava na rua me virando sozinho e fazendo acontecer, graças a Deus. Graças ao [skatista] Nilton Neves [conhecido no circuito como Urina] que me deu o meu primeiro skate, estou até hoje fazendo o que mais amo e vivendo disso", conta.

Em outubro, ele disputará a grande final da SLS, quando pode levar mais de US$ 1 milhão de premiação. Ao falar sobre a possibilidade do título e de engordar substancialmente sua conta bancária, Luan prefere comentar seu apreço pelo esporte e nada mais.

"Meu objetivo sempre foi o mesmo: andar de skate, me divertir e dar o melhor de mim, sempre. Acredito que tudo que fazemos na vida tem que ser 100% bem feito ou não temos razão de viver", conclui.


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