Folha de S. Paulo


Para economista dos EUA, Fifa precisa de reforma interna

Steven Senne/Associated Press
O economista e professor americano Andrew Zimbalist
O economista e professor americano Andrew Zimbalist

O economista americano Andrew Zimbalist, do Smith College de Massachusetts (EUA), é um crítico ferrenho aos exageros dos grandes eventos esportivos e, consequentemente, à realização das Copas do Mundo de 2018 na Rússia e de 2022 no Qatar.

No entanto, ele acredita que tentar tirar o Mundial desses países no atual momento de crise institucional da Fifa desviaria o foco da entidade das reformas que precisam ser feitas para recuperar a sua credibilidade.

"Gostaria que a Copa saísse do Qatar e da Rússia, mas eu não recomendaria para a Fifa fazer isso. Existem muitos problemas legais e de organização. Prefiro ver ela concentrada em um processo de reforma interna", afirmou em entrevista à Folha.

"Se fosse fácil como um estalar de dedos mudar a Copa para outros países, eu mandaria a de 2018 para a Inglaterra e a de 2022 para os EUA, mas isso geraria muita confusão", completa.

Ele é autor do livro "Circus Maximus", lançado no início deste ano nos EUA e bem recebido pela imprensa do país, no qual argumenta que sediar grandes eventos esportivos, como Olimpíadas e Copa do Mundo, não se justifica do ponto de vista financeiro.

Zimbalist defende uma série de mudanças que poderiam ser realizadas na Fifa para democratizar a entidade e aumentar os mecanismos de controle sobre os dirigentes.

Mudanças que iriam desde uma reforma no sistema de votação dos congressos da Fifa –onde são escolhidos os presidentes da federação, por exemplo– até a criação de um conselho para supervisionar o seu Comitê Executivo.

"A eleição do presidente da Fifa precisa ser feita com um sistema que leve em conta a proporção de jogadores em cada país", defende.

Hoje, cada federação filiada à Fifa tem direito a um voto, o que iguala o peso de votos de países com grande importância para o futebol, como Brasil, Alemanha ou Inglaterra, ao de nações onde o esporte tem pouca ou nenhuma relevância, como Butão, Tonga ou Ilhas Cayman.

"Dar a um país com 40 mil pessoas, como uma ilha, um voto e a países continentais,como EUA e Brasil, um voto não faz sentido", explica.

Para Zimbalist, a renúncia de Joseph Blatter à presidência da Fifa foi um grande primeiro passo para que as reformas ocorram na entidade.

No entanto, o economista lembra que é necessário ficar atento aos movimentos do suíço. "Nos próximos meses, será importante ficar de olho no que Blatter fará."

Para ele, é bem provável que Blatter tente mover as peças para que o próximo presidente da Fifa seja seu aliado. "Tanto para que ele possa controlá-lo dos bastidores, quanto para que ele possa ter uma aposentadoria como a que deu para João Havelange [antecessor de Blatter], que virou presidente honorário da Fifa", afirma.

Zimbalist prefere não fazer comentários sobre os dirigentes que vêm sendo apontados como os principais candidatos a suceder Blatter, como Michel Platini, presidente da Uefa (associação europeia), ou o príncipe da Jordânia Ali bin Al-Hussein, único candidato a disputar a última eleição, contra Blatter, em maio.

No entanto, ele indica um nome que acredita ser o ideal para assumir as rédeas da entidade neste período de reformas: o americano Sunil Gulati, presidente da Federação de Futebol dos EUA e representante do país no Comitê Executivo da Fifa.

"Ele é um cara brilhante, até onde eu saiba, é incorruptível e tem tido um papel positivo para entrada e crescimento do futebol nos EUA. Acho que ele seria um ótimo candidato, mas não sei se ele estaria interessado", diz.

RAIO-X ANDREW ZIMBALIST

Nascimento:

16.out.1947 (67 anos)

Cargo:

Professor de economia do Smith College, em Massachusetts (EUA)

Formação:

Bacharelado na Universidade de Wisconsin e mestrado e doutorado em Harvard

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