Folha de S. Paulo


Homem de confiança de Osorio, Souza não queria técnico estrangeiro

O volante Souza não via com bons olhos a contratação de um técnico estrangeiro pelo São Paulo. No entanto, após a chegada do colombiano Juan Carlos Osorio, o jogador mudou de opinião, desandou a fazer gols e se tornou um dos líderes da equipe.

"Quando ele chegou, o conhecimento dele em relação a cada um dos jogadores me surpreendeu. É um cara muito inteligente, humilde, que trabalha bastante", afirmou o jogador em entrevista à Folha.

Neste domingo (28), às 16h, no clássico contra o Palmeiras, o volante, agora com status de homem de confiança do Osorio, tentará apagar a má impressão deixada por sua equipe na última vez em que ela esteve no Allianz Parque –derrota por 3 a 0, a pior do time no ano.

Souza não estava em campo naquela partida. Convocado por Dunga para amistosos da seleção, teve de ver de longe o primeiro confronto entre as equipes no novo estádio palmeirense. E acredita que, neste domingo, a história será diferente.

"Aquele jogo foi um desequilíbrio total da equipe. Foi um jogo atípico. Mas serve de motivação. Acho que agora vai ser um jogo totalmente diferente, com os times em momentos diferentes", afirmou.

Para conquistar Osorio, Souza mostrou muita dedicação dentro de campo, e um discurso firme e contundente fora dele.

Estilo que pode ser visto ao comentar as polêmicas que envolveram algumas de suas declarações. Como quando entrou em atrito com a diretoria por falar que o clube estava com salários atrasados.

"Eles querem deixar uma boa imagem. Só que não tinham quitado os salários. Eu acabei falando e eles desmentiram. Os salários estavam atrasados, como ainda estão", revelou o jogador.

O São Paulo afirmou que só há atraso no pagamento de direitos de imagem.

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Folha - No último jogo contra o Palmeiras o São Paulo perdeu por 3 a 0. Isso traz uma memória ruim para este domingo?

Souza - Aquele jogo foi um desequilíbrio total da equipe. Foi um jogo atípico. Mas serve de motivação. Acho que agora vai ser um jogo totalmente diferente, com os times em momentos diferentes. O Palmeiras vem muito pressionado. Jogando em casa só teve uma vitória e a gente está em ascensão fora de casa. Temos condições de vencer. Não joguei aquele jogo. Na minha memória estão somente duas vitórias no ano passado que tivemos contra eles, no Pacaembu e no Morumbi. Então só tenho boas memórias.

Você nunca foi de fazer gols, mas marcou nos últimos jogos. É uma nova função que o Osorio pediu para você fazer?

Os gols saíram porque tive sorte de estar no lugar certo. Em todos os jogos eu estava chegando na área, mas a bola não vinha. Agora ela veio e consegui finalizar bem. Coincidentemente, acabou acontecendo após a chegada do Osorio. Daqui a pouco eu sei que essa fase de fazer gols vai acabar porque não é minha principal função.

Ficou frustrado por não ter ido para a Copa América?

Não é frustração. Fica uma tristeza, porque a gente sempre quer estar com a seleção. Mas acho que não ter sido convocado me ajudou. Eu cresci muito. Foi um momento em que pensaram que eu iria ficar frustrado, que iria cair de produção, e eu dei uma resposta contrária. Se eu estivesse lá, não teria feito esses gols.

O Osorio sempre faz elogios a você e o vê como um líder do grupo. Você esperava essa empatia com o treinador logo de cara?

O Osorio me surpreendeu muito. Eu não achava muito legal trazer alguém de fora porque a gente vivia um momento muito conturbado e a última experiência que ficou de técnicos estrangeiros foi o [argentino] Ricardo Gareca no Palmeiras. Mas quando ele chegou, o conhecimento dele em relação a cada um dos jogadores me surpreendeu. É um cara muito inteligente, humilde, que trabalha bastante. Tem suas filosofias e a gente está conseguindo assimilar. Claro que não vai ser em um mês, mas espero que comece a surtir efeito dentro de campo.

Ele chegou a dizer que você é um dos melhores volantes da América do Sul. Ele falou isso para você?

Ele falou, eu fico lisonjeado. Falou no meio da equipe toda. Fico sem graça com esses elogios [risos]. Falei para ele brincando: "Profe, eu estou te enganando" [risos]. Mas eu não me acho isso. Me acho um cara muito voluntarioso. Coopero muito com a equipe. Corro, ajudo, dou o meu melhor.

Você chegou inclusive a ganhar a faixa de capitão contra o Avaí. Gostou da sensação?

Foi uma experiência muito legal. Sempre estarei pronto, caso ele precise, caso o Rogério não jogue ou decida me passar a faixa, enfim... Vou estar sempre tentando exercer uma liderança dentro de campo, mesmo sem a faixa.

Por que você acha que virou capitão naquele jogo?

Eu falo bastante em campo, cobro meus companheiros e, sempre que tenho a oportunidade na preleção, tento passar uma motivação para o time. Acho que o Osorio viu em mim uma diferença tanto nos treinamentos quanto nos jogos e me elegeu capitão.

Ele costuma chamar você pelo seu primeiro nome, "Josef". Você gosta?

É diferente. Até hoje só quem me chamava de Josef era a minha mãe [risos]. Tudo que é diferente no início causa um pouco de estranhamento, mas é legal. As pessoas até sorriem, "quem é esse cara? Quem é Josef?"

No início do ano você cobrou a torcida para comparecer mais ao Morumbi. Você se arrepende de ter dito isso?

Sim, eu até me desculpei depois. Não estávamos vivendo uma boa fase e eu quis transferir para a torcida a nossa responsabilidade. Reconheço meu erro. Hoje, graças a Deus, estou vivendo um bom momento com a torcida e espero que continue.

Outra declaração sua que gerou polêmica foi quando você disse que havia atraso de salários, mas a diretoria falou que você estava enganado...

Eles querem deixar uma boa imagem. Só que não tinham quitado os salários. Eu acabei falando e eles desmentiram. Os salários estavam atrasados, como ainda estão [o São Paulo afirmou que há atraso apenas nos direitos de imagem do jogador].

De quanto é o atraso?

Acho que está com dois meses, para completar três. Mas a gente está tendo uma compreensão em relação a isso. Eles falaram que assim que o dinheiro da venda do Rodrigo Caio [cerca de R$ 44 milhões] entrar eles vão quitar o que está em dívida. Em momento nenhum ninguém foi reclamar. A gente sabe que o São Paulo sempre teve uma linha muito correta em relação a isso. Se hoje está atrasado é porque realmente não tem muitos recursos. Mas assim que entrar o dinheiro eles vão pagar. Os diretores do São Paulo são muito corretos.

Isso atrapalha a equipe?

A gente tenta não pensar nisso, porque senão você acaba não rendendo dentro de campo. A gente procura trabalhar no nosso dia a dia e eles têm dado o respaldo de que vão quitar as dívidas.

Você acredita que o São Paulo pode ser campeão neste ano?

Acredito que sim. O campeonato está muito difícil, você não vê nenhuma equipe disparando, com muitos pontos à frente. Acho que será um campeonato muito disputado até o fim. E a gente tem condições. Trazendo pelo menos dois jogadores para reforçar o time após a saída desses três [Rodrigo Caio, Paulo Miranda e Denilson], a gente tem condições de brigar até o fim do campeonato lá em cima. O que a gente quer é o título.

Colaborou RAFAEL VALENTE, de São Paulo


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