Folha de S. Paulo


Árbitro paraguaio admite erros, mas nega esquema contra o Corinthians

O árbitro paraguaio Carlos Amarilla negou nesta segunda-feira (22) ter participado de um esquema para beneficiar o Boca Juniors contra o Corinthians na Libertadores de 2013.

Um programa de TV da Argentina exibiu no domingo (21) escutas telefônicas que mostram bastidores da cartolagem do país vizinho. As revelações do "La Cornisa de TV America" mostram gravações da chamada "Máfia do Futebol", que está sob investigação local.

Uma das conversas exibidas levantam suspeitas sobre a arbitragem de Amarilla, que em 2013 prejudicou o Corinthians no duelo contra o Boca Juniors na Libertadores.

"Fiquei surpreso com a notícia. Mas quem não deve não teme. Somos seres humanos e cometemos erros. Teve um erro do assistente e um erro meu", disse Amarilla em entrevista à rádio 970AM.

No jogo válido pelas oitavas de final da Libertadores de 2013, o Corinthians teve dois gols anulados e um pênalti não assinalado pelo árbitro. A partida terminou empatada por 1 a 1. O time paulista foi eliminado.

"Nós cumprimos as regras do jogo. Como árbitros, estamos expostos a cometer erros, mas nunca ninguém me procurou para pedir o favorecimento a uma equipe. Tenho a consciência tranquila", afirmou o árbitro.

Formado como engenheiro elétrico, Amarilla tem muitas polêmicas em seu currículo como juiz.

Além do jogo do Corinthians em 2013, foi contestado pela atuação em um duelo entre Peñarol e Vélez Sarsfield pela Libertadores-2011. Na ocasião, anulou um gol da equipe argentina por um toque de mão involuntário. A partida terminou com vitória uruguaia, equipe que depois foi para a final.

Em campo, tem como característica não conversar com os jogadores e ser enérgico, utilizando com rigor os cartões.

Ainda em 2011, foi criticado por Neymar após o primeiro jogo da final da Libertadores daquele ano, entre Santos e Peñarol. O brasileiro disse que Amarilla o ameaçava a todo momento.

"Ele já tinha me falado que ia me expulsar três vezes. A gente fica com medo disso aí. Para mim é muito ruim, como vou marcar o cara, como vou chegar junto?", afirmou Neymar na ocasião.

Até Muricy, então técnico do Santos, em 2011, reclamou de Amarilla.

ESCUTAS TELEFÔNICAS
Conversa entre Grondona e Abel Gnecco indicam que argentinos teriam escolhido árbitro de Corinthians x Boca Juniors, em 2013

Os personagens:

Jorge Adorno/Reuters

Carlos Amarilla
* Árbitro paraguaio
* Atuou na Copa do Mundo de 2006
* Foi criticado por sua arbitragem no jogo de volta entre Corinthians e Boca Juniors pelas oitavas de final da Libertadores de 2013, no Pacaembu
* Deixou de marcar um pênalti para o Corinthians e anulou gol legal da equipe alvinegra
* Ele admite ter cometido erros, mas nega que tenha favorecido o Boca Juniors

Jorge Adorno/Reuters

Julio Grondona
* Ex-presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino)
* Morto em 2014, é investigado por envolvimento no escândalo de corrupção no futebol revelado pela Justiça americana
* Comandou a federação argentina de 1979 até sua morte
* Começou a carreira de dirigente ao fundar o Arsenal de Sarandí, em 1956
* Também foi dirigente do Independiente, entre 1962 e 1979

Abel Gnecco
* Diretor da escola de árbitros da AFA
* Representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol (Confederação de Futebol da América do Sul)

A conversa:

(17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca Juniors eliminar o Corinthians da Libertadores)

Grondona: Como está, Abel? Bem. E você?

Gnecco: Sim, estou bem porque saí desta confusão, não? Mas enfim, sei lá.

Grondona: No fim foi tudo bem. Ninguém queria esse louco de m... e jogou o melhor reforço que o Boca teve no último ano, o Amarilla (risos).

Gnecco: Sim, disse isso, mas sei lá. Falei com Alarcón [Carlos Alarcón, presidente da Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse que esse ano é meio... É novo, que tem que ter... Bom, então fazemos uma coisa [inaudível]. Aí na Argentina eles querem o Amarilla? Olha, se não querem eu não sei. Eu quero. Então coloca ele e não me encha o saco. Coloca o Amarilla e para de me f... Bom, aconteceu assim, colocou ele e, bom, foi tudo bem porque tem de ser assim.

Grondona: E agora quem vai? Quem tem que colocar agora no Boca e Newell's [partida das quartas de final]?

(Os dois conversam sobre possíveis árbitros para mediar o jogo. Mais tarde, Grondona dá a entender que teria comprado os árbitros assistentes em uma partida contra o Santos pela semifinal da Libertadores de 1964, quando era dirigente do Independiente)

Grondona: E fique de olho nos bandeirinhas que coloca, que com esse... Como se chama? Taibi [Ernesto Taibi, árbitro assistente argentino] tem que ter cuidado.

Gnecco: (risos) Não, não, os bandeirinhas...

Grondona: Por favor, porque o árbitro faz tudo e o bandeirinha põe tudo a perder.

Gnecco: Julio, isso eu aprendi com você há mais ou menos 40 anos.

Grondona: Em 64, quando jogamos contra o Santos, ganhei do Leo Horn [árbitro holandês; na verdade, o árbitro da disputa foi o inglês Arthur Holland] com os dois bandeirinhas.

Gnecco: (risos) Sim, sim, já sei.

Grondona: Tchau, até logo.


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