Folha de S. Paulo


Empresários de Bragança têm projeto de revelar jogadores para os EUA

Os EUA nunca foram reconhecidos como um país apaixonado pelo futebol. Nem mesmo com a ida de Pelé nos anos 1970 e da Copa do Mundo organizada em 1994. Ainda assim um grupo de empresários brasileiros almeja formar jogadores para jogar os campeonatos americanos.

O interesse surgiu há um ano, antes de os EUA baterem Alemanha e Holanda, atuais campeã e terceira colocada na Copa-14, e do FBI desmascarar o maior escândalo de corrupção na Fifa, casos recentes que deixaram o futebol do país em evidência.

O caminho pelo qual esse grupo de empresários brasileiros -um quarteto da região de Bragança Paulista- pretende formar atletas para os EUA são as universidades.

O primeiro passo será dado nesta semana com a inauguração de um moderno centro de treinamento em Bragança Paulista. Em uma área de 100 mil m2, haverá um estádio ecológico de 5.000 lugares, dois campos de grama sintética, alojamento e um hotel -este no final do ano.

Até setembro, eles pretendem recrutar 60 jovens entre 16 e 20 anos para o passo seguinte, que é a preparação esportiva e didática visando as universidades dos EUA.

Quem está na gerência do projeto é Marcelinho Paulista, 41, ex-jogador de Corinthians e Botafogo, e contratado em 2013 pela HWT, grupo que representa os empresários e investe no projeto.

"São três ligas universitárias importantes nos EUA. Vamos recrutar garotos para um programa que visa o ingresso nas universidades como bolsistas. O garoto vai ter formação de qualidade com a chance de praticar futebol", diz Marcelinho à Folha.

A confiança que o projeto vai decolar é porque a liga profissional nos EUA é abastecida principalmente por jogadores universitários.

Neste ano, o primeiro escolhido no draft da MLS -seletiva da principal liga profissional do país- foi o canadense Cyrer Larin, 19, que está no Orlando, a equipe de Kaká.

SEM CONVÊNIOS

No entanto, o projeto não tem universidades fixas conveniadas. O contato de Marcelinho é diretamente com os treinadores universitários, que vão ajudar a indicar os garotos para as instituições.

Há diálogos com profissionais de universidades de Estados importantes, como Nova Iorque, Califórnia e Washington.

Uma das justificativas para a inexistência de convênios é permitir que cada garoto decidir onde e o que quer estudar. A equipe de Marcelinho ficará responsável por tratar com a instituição.

O garoto que passar pela avaliação em setembro -que envolve testes físicos, técnicos, testes de inglês e conhecimento- receberá a indicação de um programa, como se fosse um curso, cujo objetivo final é a ida para os EUA.

O programa terá custo mensal, mas Marcelinho não revela os valores porque diz que devem variar de acordo com a necessidade de cada aluno. Admite, contudo, que o projeto é para famílias com bom poder aquisitivo.

Os valores investidos no projeto e o nome dos empresários que compõe a HWT também não são abertos.

A reportagem apurou que só o investimento na compra do terreno do CT gerou custo em torno de R$ 1 milhão.

O estádio ecológico, que segue o modelo inaugurado pelo J. Malucelli em 2007, com grama plantada nos acentos, custou cerca de R$ 2 milhões.

Além do futebol, a Cidade dos Esportes, como será batizado o CT, terá um programa idêntico para tenistas. ]

"Durante as pesquisas identificamos que futebol e tênis sãos os esportes recordistas com bolsistas estrangeiros", diz Misaki Tsuruta, diretor de marketing da HWT.

Há planos de futuramente incluir programa idêntico para futebol feminino e outras modalidades esportivas. Assim como oferecer bolsas no CT para jovens carentes da região de Bragança Paulista.

Sempre com foco na ida para os EUA, agora a bola da vez também no Brasil.

DESTINO EUROPA

Projetos que visam a revelação de jovens para o futebol estrangeiro não são novidades no Brasil.

A diferença é que o foco sempre foi a Europa. Algumas vezes por iniciativas dos próprios clubes de fora, como o Milan, um dos pioneros a montar acampamentos de verão e escolinhas no Brasil.

Entre ex-jogadores, é famoso o projeto de Doni, ex-goleiro de Corinthians e Santos, em Ribeirão Preto. Ele investiu em um complexo de 10 mil m2, com cinco quadras de grama sintética e academia.

Inaugurado em 2014, o local virou uma franquia da Roma.

O clube italiano, inclusive, já demonstrou interesse em dois jogadores menores de idade. Por questões legais, não pôde levar os meninos para a Itália.


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