Folha de S. Paulo


Leia a íntegra do discurso de Joseph Blatter

Após 17 anos à frente da Fifa, Joseph Blatter anunciou nesta terça-feira (2) que deixará o comando da entidade. A saída acontecerá após o maior escândalo da história da federação internacional, depois da prisão de sete dirigentes do futebol que estavam em Zurique para a eleição da Fifa. Dois depois, na sexta (29), Blatter foi reeleito, com mandato até 2019.

No discurso de saída, o dirigente suíço informou que continuará a exercer suas atividades como presidente até a próxima eleição, que acontecerá entre dezembro e março de 2016.

Confira abaixo a íntegra do discurso.

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Venho refletindo profundamente sobre minha presidência e os cerca de 40 anos de minha vida que estão inextricavelmente ligados à Fifa e ao grande esporte do futebol. Amo a Fifa acima de tudo e desejo fazer apenas o que for melhor para ela e para o futebol. Senti-me compelido a disputar a reeleição, porque acreditava que isso fosse a melhor coisa para a organização.

A eleição está encerrada, mas os desafios que a Fifa enfrenta, não. A Fifa necessita de uma reforma profunda. Embora eu tenha o mandato dos membros da Fifa, não sinto contar com um mandato de todo o mundo do futebol - os torcedores, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e ama o futebol tanto quanto nós todos o fazemos na Fifa.

Portanto, decidi renunciar ao meu mandato durante um congresso eleitoral extraordinário. Continuarei a exercer minhas funções como presidente da Fifa até essa eleição.

O próximo Congresso ordinário da Fifa acontece em 13 de maio de 2016, na Cidade do México. Isso criaria demora desnecessária e insto o Comitê Executivo a organizar um Congresso Extraordinário para a eleição do meu sucessor o mais cedo possível.

Isso precisará ser feito de acordo com os estatutos da Fifa e devemos permitir tempo suficiente para que os melhores candidatos se apresentem e façam suas campanhas.

Porque não serei candidato, agora estou livre das restrições que as eleições inevitavelmente impõem. Poderei me concentrar em reformas fundamentais e abrangentes que transcendam nossos esforços anteriores. Há anos temos trabalhado com afinco para instaurar reformas administrativas mas fica claro para mim que embora elas precisem continuar, não são suficientes.

O Comitê Executivo inclui representantes das confederações, sobre os quais não temos controle, mas por cujas ações a Fifa é considerada responsável. Precisamos de uma mudança estrutural profunda. O tamanho do Comitê Executivo precisa ser reduzido e seus membros deveriam ser eleitos no Congresso da Fifa.

As verificações de integridade de todos os membros do Comitê Executivo precisam ser centralmente organizadas pela Fifa e não pelas confederações. Precisamos de limitação de mandatos não só para o presidente mas para todos os membros do Comitê Executivo. Lutei por essas mudanças no passado e, como todos sabem, meus esforços foram bloqueados. Desta vez, terei sucesso.

Pedi a Domenico Scala que supervisione a introdução e implementação dessas e outras medidas. Scala é o presidente independente de nosso Comitê de Auditoria e Fiscalização, eleito pelo Congresso da Fifa. Também será presidente do comitê eleitoral extraordinário e com isso supervisionará a eleição de meu sucessor. Scala desfruta da confiança de ampla gama de constituintes dentro e fora da Fifa e tem o conhecimento e experiência necessários a ajudar as enfrentar essas grandes reformas.

É meu profundo apreço pela Fifa e seus interesses, aos quais muito valorizo, que me levam a tomar esta decisão. Gostaria de agradecer àqueles que sempre me apoiaram de maneira construtiva e leal como presidente da Fifa e que tanto fizeram pelo esporte que todos amamos. O que me importa acima de tudo é que, quando tudo isso terminar, o futebol saia vencedor.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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