Folha de S. Paulo


Pupilo de Havelange, Blatter ficou por quatro décadas na Fifa

O suíço Joseph Blatter, 79, passou 17 anos na presidência da Fifa. Ficou a sete de igualar o tempo de permanência do cargo do seu maior mentor, João Havelange.

Foi o dirigente brasileiro, mandatário entre 1974 e 1998, quem abriu as portas da entidade que controla o futebol mundial para o antigo chefe de relações públicas da secretaria de turismo de Valais, um dos cantões (semelhantes a Estados) do país onde nasceu.

Blatter, que havia trabalhado na Federação Suíça de Hóquei sobre Gelo e participado da organização dos Jogos Olímpicos de 1972 e 1976, entrou na Fifa como diretor-técnico apenas um ano depois de Havelange chegar ao poder. Em 1981, assumiu o segundo maior cargo do órgão.

Nos 17 anos em que trabalhou como secretário-geral, foi braço direito do brasileiro. Era o rosto midiático da entidade, o homem responsável por conduzir as negociações de contratos e fiscalizar a organização das Copas do Mundo.

Quando Havelange decidiu deixar o cargo, em 1998, nada mais natural que fizesse do suíço o seu sucessor. Afinal, nenhum dirigente do seu grupo político tinha uma rede de relacionamentos tão bem costurada quanto o futuro presidente.

A primeira eleição de Blatter na Fifa foi a mais apertada das cinco que ele participou. O ex-secretário-geral derrotou o sueco Lennart Johansson, opositor histórico do dirigente brasileiro, por 111 votos a 80.

Desde então, o suíço se solidificou no poder, apesar de sucessivos escândalos na administração da entidade e críticas vindas dos lados interno e externo da cartolagem mundial.

Dois dias depois de sete cartolas das Américas do Sul e Central serem presos e de a Justiça norte-americana prometer que aquele era apenas o começo das investigações contra corrupção no futebol, Blatter ainda conseguiu se reeleger para um mandato que iria até 2019.

Nas reeleições,o trabalho foi bem menos árduo. Apenas em 2002 (quando bateu o camaronês Issa Hayatou por 139 a 56) e 2015 (133 a 73 contra o príncipe Ali bin Hussein, da Jordânia), teve um adversário no dia do pleito.

A última vitória, aliás, aconteceu apenas dois dias depois de sete cartolas das Américas do Sul e Central serem presos e de a Justiça norte-americana prometer que aquele era apenas o começo das investigações contra corrupção no futebol.

Com apoio maciço dos representantes de África e Ásia e forte rejeição na Europa, o suíço conseguiu se reeleger até 2019 após o príncipe jordaniano desistir de participar do segundo turno das eleições por julgar que não teria chance de vencê-lo -devido à derrota na primeira votação.

Mas esse mandato não chegará ao fim e durará poucos meses. Um dia depois do "New York Times" publicar que o escândalo chegou a Jérôme Valcke, francês que é para Blatter aquilo que ele era para Havelange, o presidente decidiu convocar novas eleições.


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