Folha de S. Paulo


Com Marin, CBF escondeu valores pagos por patrocinadores em balanço

As cotas dos patrocinadores da seleção desapareceram do balanço financeiro da CBF na gestão José Maria Marin. O dinheiro arrecadado com as empresas que exploram a imagem da seleção é a maior fonte de recurso da confederação. Só no ano passado, a entidade arrecadou mais de R$ 350 milhões.

Nos dois últimos anos que Marin comandou a entidade, a confederação se recusou a informar quanto recebeu de cada uma das empresas.

"Nós analisamos todas as contas da entidade, mas a responsabilidade do que e como divulgar é da CBF", disse à Folha Nelson Fernando Pfaltzgraff, da RSM Acal, que fez a auditoria independente do balanço do exercício de 2014 da CBF.

"Não há ilegalidade em omitir quanto cada patrocinador pagou do balanço, mas é curioso porque era uma praxe da CBF divulgar esses números", disse Pedro Daniel, da consultoria BDO, que faz estudos com base no balanço da entidade há alguns anos.

Até o balanço de 2012, ano que Ricardo Teixeira renunciou e entrou o poder a Marin, a CBF discriminava os valores recebidos de cada companhia.
 
"Não há nenhuma ilegalidade, é uma decisão administrativa", informa o diretor-financeiro da CBF, Rogério Cabloco.

Atualmente, a CBF conta com 13 patrocinadores e três parceiros. Todos pagam cotas milionárias.

Editoria de Arte/Folhapress

A Nike é a mais antiga patrocinadora da CBF e responsável pelo maior contrato. Em 2012, a multinacional pagou R$ 61 milhões para os cofres da entidade, segundo o balanço da época. A partir daí, a confederação nunca mais informou os valores depositados pelas empresas.

O contrato da Nike foi fixado em US$ 35,5 milhões anuais. A quantia varia em virtude das flutuações da moeda norte-americana.

No balanço aprovado em abril, Marin se limitou a informar que os patrocinadores depositaram R$ 359 milhões em 2014, ano que a Copa foi disputado no Brasil.

No documento, a CBF escreveu apenas duas frases sobre a quantia recorde arrecadada junto aos patrocinadores. Na penúltima página do balanço, no item "Receitas Brutas", a entidade informa que os R$ 359 milhões se referem aos "contratos de patrocínio junto a empresas privadas, os quais são corrigidos anualmente pelo índice inflacionário previamente estabelecido". Na frase seguinte, a CBF acrescenta que "os contratos em moedas estrangeiras são registrados utilizando a taxa de cambio na data da transação".

Já no ano anterior, a entidade registrou que recebeu R$ 278 milhões das empresas e se limitou a escrever as duas frases repetidas neste ano sobre os valores obtidos com os patrocínios, 

Marin está preso na Suíça desde a última quarta-feira (27) acusado de recebimento de propina pelas autoridades americanas.

Segundo a acusação, ele dividiu propina para a manutenção de um acordo de exploração comercial da Copa do Brasil (torneio disputado desde 1989 pelos principais clubes do país) com J. Hawilla, dono da Traffic, e mais dois cartolas.

Na segunda, a Folha revelou que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, aprovou e assinou as contas do balanço da confederação do ano passado.

Até então, Del Nero alegava que não pode responder por acordos e contratos assinados durante a gestão de Marin.


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