Folha de S. Paulo


Escândalos já derrubaram 10 do Comitê Executivo da Fifa em 5 anos

Mais de 20% dos dirigentes que fizeram parte do Comitê Executivo, principal instância da Fifa, nos últimos cinco anos acabou afastado ou renunciou ao cargo em meio a episódios de corrupção.

Dos 46 cartolas que passaram pelo órgão desde 2010, nove foram suspensos ou banidos do futebol por comportamentos ilegais. Além deles, o brasileiro Ricardo Teixeira, deixou voluntariamente a função em meio a escândalo que poderia derrubá-lo.

O Comitê Executivo é a elite da cartolagem da Fifa e atua como um conselho gestor. Entre suas funções estão a definição de sedes de campeonatos (menos as da Copa do Mundo), datas e formatos dos torneios e a escolha do secretário-geral da entidade.

Fazem parte do grupo o presidente Joseph Blatter, oito vices e outros 15 dirigentes indicados por confederações continentais ou associações nacionais. O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, é o único brasileiro no órgão.

Editoria de Arte/Folhapress

Os primeiros afastados, em 2010, foram o nigeriano Amos Adamu e Reynald Temarii, do Taiti, então presidente da confederação da Oceania.

Segundo o "Sunday Times", ambos foram flagrados pelo jornal inglês tentando negociar com repórteres disfarçados seus votos para sedes das Copas de 2018 e 2022.

O escândalo foi tão grande que a Fifa, além de afastar ambos do futebol, decidiu que as sedes das próximas Copas passariam a ser escolhidas pelas federações nacionais e não só pelo comitê.

A eleição presidencial da Fifa, em 2011, derrubou mais dois. O qatariano Mohamed bin Hammam, que seria candidato de oposição a Blatter, e Jack Warner, de Trinidad e Tobago, foram excluídos acusados de tentarem comprar votos para a candidatura.

Vernon Manilal Fernando, do Sri Lanka, também ligado ao grupo, foi punido em 2013 por ato semelhante na eleição da confederação asiática, ocorrida em 2009.

Delator do esquema, o americano Chuck Blazer caiu em 2013, acusado de receber US$ 17 milhões (R$ 54 milhões) de comissões quando era secretário-geral da Concacaf, a confederação das Américas Central e do Norte.

Em 2012, Teixeira renunciou à presidência da CBF e a seu lugar no comitê em meio a denúncias de que recebera dinheiro por partidas da seleção brasileira e de um contrato de marketing da Fifa.

A operação deflagrada pela Justiça americana na quarta (27) atingiu, além de cartolas anteriormente punidos, dois então membros do grupo e um ex-participante.

Jeffrey Webb, das Ilhas Cayman, e o uruguaio Eugenio Figueredo foram presos na Suíça. Já Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol, que já havia se afastado em 2013 em outro escândalo, não foi preso porque ficou no Paraguai para exames médicos –os EUA pediram a extradição.

EX-DIRIGENTES ALEGEM PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

Pelo menos três dos integrantes do Comitê Executivo da Fifa que caíram por corrupção nos últimos cinco anos alegaram ter sido alvo de perseguições políticas.

O qatariano Mohamed bin Hammam e Jack Warner, de Trinidad e Tobago, afirmaram que foram punidos pela entidade máxima do futebol porque desafiaram a liderança de Joseph Blatter ao lançarem o primeiro como candidato de oposição à presidência na eleição de 2011.

"Esse movimento é um pouco mais do que uma tática utilizada por aqueles que não têm a capacidade de serem bem-sucedidos na eleição presidencial", afirmou, na época, Bin Hammam.

Outro integrante do grupo que apoiava a candidatura de Bin Hammam contra Blatter, Vernon Manilal Fernando, do Sri Lanka, também se disse inocente da acusação de compra de votos em eleição da confederação asiática e apontou suas conexões com os representantes da oposição como motivo da queda.

Já o norte-americano Chuck Blazer, então assessor da Concacaf, a confederação das Américas Central e do Norte, selou um acordo de confissão de culpa com a Justiça dos Estados Unidos em 2013 e teve de pagar uma multa de quase US$ 2 milhões. Mesmo antes, ele colaborava com o FBI em investigações sobre corrupção no futebol.

O nigeriano Amos Adamu e Reynald Temarii, do Taiti, negaram ter intenção de vender seus votos no processo eleitoral que definiria as sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022 para jornalistas britânicos disfarçados _o cartola da Oceania também foi punido por, de acordo com a Fifa, ter recebido dinheiro de Bin Hammam.

Ao deixar o comando da CBF e sua cadeira no Comitê Executivo da Fifa, em 2012, Ricardo Teixeira afirmou que precisava sair da vida pública para cuidar de problemas de saúde e não reconheceu que isso havia ocorrido em decorrência de envolvimento em esquema de corrupção.

O paraguaio Nicolás Leoz é outro que alegou ter deixado a carreira de dirigente de futebol por necessidade médica. Sobre seu pedido de prisão na última semana, ele ainda não se pronunciou.

Jeffrey Webb e Eugenio Figueredo, presos na última quarta (27), não se manifestaram sobre os casos que os levaram a serem detidos.


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