Folha de S. Paulo


Concorrência por ingressos pressiona torcedores a virarem sócios dos times

Qual torcedor nunca acordou num domingo e, com amigos ou familiares, decidiu: "vamos ao jogo!".

A rotina era simples. Chegar poucas horas –ou até minutos– antes do início da partida e, após enfrentar alguma fila, comprar seu ingresso para ver o time do coração em campo.

Mas esse tradicional ritual está em extinção. Cada vez menos torcedores conseguem comprar as entradas nas bilheterias sem antecedência. Locais físicos para venda dos bilhetes, aliás, também não devem ter vida longa.

Nessa nova realidade, ir ao estádio eventualmente num domingo qualquer não é mais uma missão simples. Se o torcedor quiser de fato acompanhar seu time, se tornou obrigação ser sócio-torcedor.

Com os programas de sócios-torcedores em ascensão, os clubes têm, hoje, menos ingressos disponíveis do que associados.

O Palmeiras, por exemplo, tem três vezes o número de sócios que seu estádio comporta. São 120 mil adeptos e cerca de 40 mil assentos. O mesmo vale para Corinthians, Cruzeiro, Internacional e Grêmio, cujos estádios estão longe de abrigar todos os sócios.

No primeiro jogo da final do Campeonato Paulista, 70% dos palmeirenses que foram ao estádio eram sócios-torcedores. Ou seja, os ingressos acabam preferencialmente nas mãos do associados.

"Para o sócio já estava complicado comprar. Quem não é [associado] acaba tendo que pagar mais caro. Os setores mais populares ficam todos esgotados", aponta Rodrigo Mazzoni, advogado e torcedor alviverde sobre a decisão. Ele se refere à preferência que os sócios-torcedores têm para comprar entradas.

Os clubes oferecem aos associados privilégios. Os mais assíduos podem comprar com maior antecedência as entradas: quanto menor é a presença nos jogos, menor sua chance de comprar.

Quem não conseguiu comprar, se quiser mesmo ir ao jogo, acaba tendo que pagar ingressos VIPs, com preços que ultrapassam R$ 500.

Essa tendência vem se acentuando nos últimos tempos. Em São Paulo, o fenômeno começou com o Corinthians. Bem-sucedido em campo nos últimos anos, o time se tornou mais disputado. E os torcedores que não são associados dificilmente conseguem comprar entradas, especialmente nas partidas com maior importância.

Os ingressos se esgotam em minutos pelo sistema de vendas do sócio-torcedor.

O mesmo tem acontecido recentemente com o Palmeiras. Com a inauguração da nova arena, ocorreu um "boom" de sócios-torcedores, interessados em garantir suas entradas no estádio.

"Virei sócio um mês antes de a arena inaugurar por uma soma de fatores, como a facilidade de não ter que se preocupar se vai ter ingresso e os benefícios", diz Mazzoni.

Além da preferência na compra, todos os programas de sócios-torcedores oferecem descontos nos ingressos.

São Paulo e Santos, com menos associados que os outros dois rivais, estão reformulando seus planos de sócios-torcedores para seguir os mesmos passos.

Além do benefício na compra dos ingressos, os clubes tentam arrebanhar sócios com outros mimos para aproximar os torcedores do time.

Oferecem desde encontros com os jogadores e técnicos, passando por chance de bater pênaltis nos intervalos dos jogos e até oportunidade de assistir às partidas em um sofá no gramado ao lado do campo.

Editoria de arte/Folhapress

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