Folha de S. Paulo


Única final de Santos e Palmeiras no Paulista foi a 1ª que Pelé perdeu

Apesar dos 55 anos que separam a única final já disputada por Palmeiras e Santos, em janeiro de 1960, da atual decisão, que tem início neste domingo (26), no estádio do clube alviverde, as semelhanças são grandes.

Há cinco décadas, o Santos vinha de sequência de decisões do Estadual. Válida pelo torneio de 1959, a disputa em 1960 correspondeu ao quinto ano do clube como campeão (três títulos) ou vice. Agora, faz a sétima final, com três títulos e três vices.

"Era uma geração do Santos acostumada com decisões. O time de hoje também vem nessa toada. É a semelhança que vejo", diz o ex-atacante Coutinho, 71, que atuou em dois dos três jogos finais que deram o título ao rival.

Já o Palmeiras volta a ser finalista após sete anos -foi campeão em 2008.

Em 1960, o alviverde também estava fora das primeiras posições e não erguia a taça desde 1950. Naquele ano, como no início de 2015, a torcida estava desconfiada.

A diferença, porém, está no fato de a final de 55 anos atrás ter reunido quatro campeões mundiais pela seleção -Djalma Santos (Palmeiras), Zito, Pelé e Pepe (Santos)- contra nenhum agora.

Aliás, Pelé, então com 19 anos e já uma estrela do futebol nacional, perdeu em 1960 a primeira final oficial da vitoriosa carreira no futebol.

O Palmeiras foi campeão após três jogos no Pacaembu. Nos dois primeiros os times empataram por 1 a 1 e 2 a 2, respectivamente. No terceiro, vitória alviverde por 2 a 1.

Finais não eram comuns naquela época. O Paulista era disputado por pontos corridos, mas como em 1959 os times estavam empatados com 63 pontos após 38 rodadas foram necessários jogos-extras para definir o vencedor. Sem datas em 1959, os jogos ocorreram em janeiro de 1960.

"Naquela época, jogar contra o Santos era incrível. Era um timão maravilhoso, com Pelé, jogador genial", lembra o ex-goleiro Valdir Joaquim de Moraes, 83, único palmeirense vivo que esteve em campo naquela decisão.
"Mas o Palmeiras também era um dos melhores. Para mim, o Pelé não perdeu. O Palmeiras ganhou", diz.

Morando atualmente em Porto Alegre, ele recorda que foi muito exigido pelo ataque do Santos nos três jogos. Além de Pelé, jogavam Dorval, Pepe, Coutinho, Jair Rosa Pinto (vice-campeão da Copa de 1950) e Pagão.
Coutinho tinha só 16 anos e foi escolhido para substituir Pagão, então com 25, nos dois primeiros jogos. Embora muito jovem, não se intimidou.

"Tinha feito minha estreia pelo Santos com 14 anos [em 1958]. Sempre joguei com jogadores mais velhos. Tinha respaldo, referências. Se errava um passe, era incentivado a continuar por Zito, Pepe. Não senti aquela decisão com o Palmeiras", conta.

Sua lembrança mais marcante é a alegria que os santistas demonstravam dentro e fora de campo.

"A gente disputava os títulos fazendo samba. Foi assim em 1960, quando viajamos para São Paulo de automóvel, cantando. Foi assim no bi do Mundial. O time sempre teve leveza, além de treinar muito e ter jogadores muito habilidosos e técnicos."

Apesar do bom desempenho nos dois primeiros jogos, Coutinho não participou do terceiro, quando o então técnico Lula optou pela volta de Pagão e de Jair Rosa Pinto.

"Ainda não era o Santos de Pelé. As referências eram o Pagão e, principalmente, o Jair, que era um jogador respeitado, tinha classe e também era nosso técnico em campo. Organizava a equipe e cobrava os atletas", diz.

HEGEMONIAS

A final entre Santos e Palmeiras de 1960 é uma das marcas do período inicial de duas eras, o Santos de Pelé e a Academia do Palmeiras.

O Santos ainda não tinha nomes de peso, como o goleiro Gylmar. No Palmeiras, ainda não havia chegado Ademir da Guia. A força das duas equipes se consolidou nos anos seguintes.

"Esse clássico era sinônimo de bom futebol e muitos gols. Como ocorreu em 1958, numa vitória por 7 a 6 do Santos. Não tinha confusão, não tinha catimba. Era garantia de bom jogo. O Palmeiras sempre foi um adversário duro para o Santos. E fiz muitas amizades do lado de lá, inclusive o Valdir", lembra, com saudade, Coutinho.


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