Folha de S. Paulo


Juventus e Nacional fazem 'clássico dos resistentes' pela 3ª divisão do Paulista

É quarta-feira (8), 14h, e alguns torcedores reúnem-se no entorno do estádio Nicolau Alayon, na zona oeste de São Paulo, para beber cerveja, jogar conversa fora e aguardar pelo confronto que orgulham-se de chamar de "clássico dos resistentes".

Trata-se do duelo entre Nacional e Juventus, que, apesar de ter sido marcado para as 15h de um dia útil e ser válido pela terceira divisão do Campeonato Paulista, conseguiu atrair 645 pagantes.

"É o jogo dos resistentes. O futebol virou um negócio. As pessoas tentam vender emoção. Nacional e Juventus são o oposto disso. Não têm dinheiro para grandes contratações. Lutam com as forças que têm", diz Lucas Castro.

Aos 25 anos, o torcedor do Juventus pediu uma folga na produtora onde trabalha para ver o primeiro "Juvenal", como é conhecido o clássico.

Ao lado dele, amigos com a mesma faixa etária que se animaram a fazer o mesmo. Dois fatores os empolgaram. A campanha da equipe, líder da Série A3 com 35 pontos, e o "Juvenal", que disseram valer a folga extra no trabalho.

O clássico não era disputado desde 2008. Ao lado dos grandes, Nacional e Juventus fazem parte da história do futebol paulista. Ambos participaram da fundação da Federação Paulista, em 1941.

"São times que representam também as classes que fizeram São Paulo crescer. Os operários das fábricas [Juventus] e os ferroviários [Nacional] jogavam por essas equipes. Representam dois bairros, a Mooca [Juventus] e a Barra Funda ]Nacional]", diz Danilo Dias, 24, também funcionário de uma produtora.

PAIXÃO e DOR

A empolgação dos juventinos contrastava com a preocupação dos nacionalistas, ainda ameaçados pelo rebaixamento à quarta divisão.

Mas é justamente dos momentos difíceis que os torcedores da equipe tiram forças.

"É um time que tem muita dificuldade, mas são as dificuldades que fazem a gente se apaixonar. Você vê os meninos correndo em campo, se esforçando, e acaba se envolvendo com a luta deles", diz Pedro Gonçalves.

Aos 83, o aposentado admite ter perdido a conta de quantos jogos viu. Diz ter preterido o Corinthians para torcer apenas pelo "Naça".

A diferença com o rival é citada pelos nacionalistas como motivação. O Juventus tem mais títulos, mais torcida e folha salarial em torno de R$ 180 mil mensais. O Nacional passou cinco anos na quarta divisão e tem folha salarial de R$ 30 mil.

A alegria, ao menos na quarta (8), foi dos torcedores do Nacional com a vitória por 2 a 0, gols do atacante Jorge Mauá no segundo tempo.


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