Folha de S. Paulo


Instituto da família Grael veta acordo para limpar Baía de Guanabara

Por unanimidade, os conselheiros do Instituto Rumo Náutico vetaram projeto proposto pelo governo do Estado do Rio de que ele retomasse a retirada de lixo da Baía de Guanabara.

Na quinta-feira, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, anunciou que estava tomada a decisão de contratar, em caráter emergencial (com dispensa de licitação), a ONG após uma reunião com atletas e membros do Comitê Organizador Rio-2016. Na ocasião, o secretário estava acompanhado de Axel Grael, fundador do instituto e atual vice-prefeito de Niterói.

O convênio seria orçado em R$ 20 milhões e teria validade de 18 meses. Há menos de um mês, o governo do Estado suspendeu dois programas dedicados justamente à coleta de resíduos flutuantes na Guanabara.

A questão é que Corrêa divulgou o acordo sem que o projeto tivesse passado pelo crivo do conselho do Rumo Náutico e pela aprovação de seu presidente, o multimedalhista olímpico Torben Grael.

Nesta segunda-feira (30), os conselheiros do instituto se reuniram e vetaram a parceria com o governo do Estado.

"Dos 12 conselheiros, dez compareceram. Houve uma apresentação preliminar do Torben, outro conselheiro deu um parecer jurídico e eu falei também. Somos conceitualmente favoráveis a um projeto desta natureza, mas não para nosso instituto operar. Não é nossa vocação", afirmou Lars Grael, duas vezes medalhista olímpico e conselheiro do Rumo Náutico.

REAÇÃO

Em nota, o secretário de Ambiente do Rio, André Corrêa, afirmou lamentar a decisão do instituto. "Entendo a posição do conselho do Instituto Rumo Náutico e a minha admiração pela família Grael aumentou ainda mais", disse.

Segundo ele, a prioridade agora passa a ser criar um plano de emergência para que o evento-teste da vela, previsto para ocorrer na segunda semana de agosto, seja realizado sem problemas.

"Não vamos medir esforços e realizaremos um mutirão para que, a exemplo do anterior, o evento teste deste ano aconteça dentro dos níveis esperados."

Corrêa afirmou que a secretaria entrará com um pedido urgente ao Tribunal de Contas do Estado para que seja feita uma licitação para definir a empresa que se encarregará de retomar a retirada de lixo da Baía de Guanabara.

Confira a íntegra da nota oficial do Instituto Rumo Náutico

O Conselho Diretor do Projeto Grael/Instituto Rumo Náutico decidiu, por unanimidade, não assinar o contrato com a Secretaria de Estado do Ambiente para o projeto de gestão dos ecobarcos e ecobarreiras na Baía de Guanabara. A decisão ocorreu na manhã desta segunda-feira (30), na sede do Projeto Grael, em Jurujuba/Niterói, com a presença dos irmãos Torben e Lars Grael, além de outros membros do Conselho.

A Diretoria reconheceu a capacidade técnica do Projeto Grael de gerir o programa, mas admitiu a possibilidade de riscos institucionais.

"Embora tenhamos condições para fazer uma gestão eficiente do projeto, desenvolvido pelo Axel (Grael), o Instituto deu sua primeira contribuição com a elaboração do programa de contenção e retirada do lixo flutuante", acredita Torben, presidente do Projeto Grael.

Lars Grael apontou a relevância da gestão do lixo flutuante, tanto para as Olimpíadas quanto para após os Jogos.

"A ação do Projeto Grael não seria despoluir a Baía de Guanabara, mas uma medida para oferecer uma raia mais justa e igualmente competitiva para os atletas. Não é a nossa principal vocação gerir o projeto de coleta de lixo flutuante, mas nos manteremos à disposição do Estado, em prol de uma Baía mais digna para todos os usuários", disse Lars.

Axel Grael, que produziu - sem custo - o estudo sobre a gestão do lixo flutuante na Baía de Guanabara e cedido à Secretaria Estadual do Ambiente, disse que o Instituto continuará contribuindo para a luta contra a poluição na Baía.

"Comecei a minha vida de militância ambientalista há 40 anos, lutando pela Baía de Guanabara, e continuarei fazendo. O Projeto Grael tem sido um importante canal de contribuição para isso, e é importante que continue a motivar os seus alunos a se engajarem nessa luta e que contribua sempre com as iniciativas de despoluição. Mas, isso deve ser feito dentro das vocações e das limitações institucionais da nossa organização. A decisão do Conselho Diretor do Instituto Rumo Náutico é prudente e correta", finalizou Axel.


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