Folha de S. Paulo


'Não vamos fazer lucro com os Jogos', diz diretor-geral do comitê da Rio-2016

Diretor-geral do comitê organizador da Rio-2016, o carioca Sidney Levy afirma que a entidade não vai "fazer lucro" com a organização dos Jogos Olímpicos. Segundo ele, "essa não é a proposta" do comitê organizador.

À Folha, o principal executivo dos Jogos diz, no entanto, que a Olimpíada será bom negócio para a cidade.

A declaração é resposta ao economista norte-americano Andrew Zimbalist, que afirmam que os grandes eventos esportivos não se justificam do ponto de vista financeiro.

Faltando 500 dias para a abertura dos Jogos, o dirigente acredita que a crise econômica não vai atingir a organização da Olimpíada e afirma que está alerta sobre reflexos da operação Lava Jato nas obras olímpicas.

Presidente da multinacional Valid entre 1994 e 2011, Levy comanda hoje cerca de 2.000 pessoas no comitê e tem fama de cortar custos.

Aos diretores da cerimônia de abertura (Andrucha Waddington, Daniela Thomas e Fernando Meirelles), ele já mandou o recado.

"Digo a eles que estamos concorrendo na categoria originalidade. Não vamos participar da categoria luxo", conta Levy, referindo-se aos antigos concursos de fantasia de carnaval.

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Folha - O orçamento da Olimpíada é de mais de R$ 30 bilhões. O economista Andrew Zimbalist argumentou que grandes eventos esportivos não se justificam do ponto de vista financeiro...
Sidney Levy - Gosto de números. Temos três orçamentos. O do nosso comitê é de R$ 7 bilhões. Esse dinheiro vem do COI (Comitê Olímpico Internacional), dos patrocinadores internacionais e nacionais e da venda dos ingressos. Se não fossem os Jogos Olímpicos, esse dinheiro não estaria aqui no Brasil. Estaria em outro lugar do mundo. Esses R$ 7 bilhões, que é totalmente privado, seguramente é um bom negócio para o Rio.

O segundo orçamento é o da infraestrutura, que é de R$ 24 bilhões, sendo 60% público e 40% privado. Esse dinheiro vai fazer a ampliação do metrô, o VLT, o BRT, a despoluição da baía de Guanabara... Esse dinheiro basicamente é mobilidade urbana. Investir esse dinheiro na cidade é um bom gasto? Me parece que sim.

E tem o orçamento do meio, que é o da matriz de responsabilidade. O valor desse é de R$ 6,6 bilhões, sendo 60% privado e 40% público, e vai evoluir nos próximos meses. Com esse dinheiro, as arenas esportivas, a Vila Olímpica estão sendo feitas.

Quando o economista nos critica, ele fala sobre essa parcela. Ao ver os três, vemos que é uma parcela ínfima. Não é um bom negócio para o cidadão? Não tenho a menor dúvida de que é.

Com esse custo, é possível tornar o evento lucrativo?
O Comitê Rio-2016 não tem fins de lucro. Não vamos fazer lucro com os Jogos Olímpicos, o meu objetivo não é esse. O comitê é uma organização temporária, que vai ser encerrado após os Jogos, e não vai deixar lucro.

A finalidade é diferente de uma empresa. O meu trabalho é harmonizar os gastos. Se estiver sobrando dinheiro, faço uma boa cerimônia. Se faltar algo de algum setor, vou ter que tirar dinheiro de outra parte.

O presidente do COI, Thomas Bach, acha que vai encontrar operários trabalhando nas arenas no dia da abertura dos Jogos. Vamos passar por esse constrangimento?
Não somos os responsáveis por essas obras. No nosso orçamento, pretendemos ter todos os contratos assinados um ano antes da abertura do evento. É o nosso objetivo.

Sobre as obras de infraestrutura, os analistas dizem que está tudo dentro do cronograma. Temos duas grandes obras [Parque Olímpico e Deodoro]. De uma maneira geral, não vemos motivo para nos preocupar até agora.

Os indicadores apontam queda da economia brasileira. Como é organizar os Jogos com esta sombra?
O orçamento do comitê já está praticamente montado. Vendemos patrocínios numa época muito boa para o Brasil. Agora, vamos começar a vender os ingressos. Acreditamos que a crise não vai afetar o apetite dos brasileiros. Fizemos uma politica de preços baixos [serão colocadas à venda 7,5 milhões de entradas, sendo que 3,8 milhões custarão até R$ 70]. Queremos arrecadar cerca de R$ 1,4 bilhão. Acho que a crise nos pega num momento que não tem como afetar muito.

Muitas das empreiteiras envolvidas nas obras olímpicas estão sendo investigadas na operação Lava Jato. O senhor já sente efeito nas obras?
O financiamento não parou, e as obras permanecem no mesmo ritmo. Estamos alertas, mas não tem nenhum fato que nos tira o sono.

Milhares de brasileiros protestaram contra o governo e a corrupção no país no último dia 15. Essas manifestações podem atrapalhar os Jogos?
O nosso trabalho é feito com transparência e adequação. No nossos caso, a sociedade não tem reclamado. Fui na manifestação no Rio para olhar a reação das pessoas e não vi nenhum cartaz contra o nosso trabalho.

A cerimônia de abertura é o evento mais grandiosos dos Jogos Olímpicos. Quanto os organizadores vão gastar só nesse evento?
Não vou dar detalhes sobre a cerimônia. Esse assunto é polêmico demais. Acabo de vir de uma reunião sobre isso, mas vou me manter calado.

A única coisa que posso falar é o que digo para os criadores. No Carnaval antigo, tinha os desfiles de fantasias, que eram disputados em duas categorias: originalidade e luxo. Digo a eles que estamos concorrendo na categoria originalidade. Não vamos participar da categoria luxo (risos). Os criativos estão com o grande entendimento das nossas questões.

O que posso adiantar é que estamos comprometidos em fazer uma cerimônia de abertura que marque o povo brasileiro para sempre.

RAIO-X
SIDNEY LEVY

Idade: 58 anos

Cargo: Diretor-geral do Comitê Organizador Rio-2016

Formação: Graduação em Engenharia de Produção pela UFRJ; mestrado em Engenharia pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia


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