Folha de S. Paulo


Caçula de Pelé tenta jogar no Santos, evita camisa 10 e apelido 'príncipe'

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Imortalizada por Pelé e referência no Brasil quando o assunto é o craque do time, a camisa 10 não é a preferida de Joshua Seixas Arantes do Nascimento. Aos 18 anos, o filho caçula do Rei conta em entrevista exclusiva à Folha que sonha se tornar jogador, mas que prefere vestir a 9.

O garoto treina na equipe sub-20 do Santos. É atacante e, apesar de não ser titular, já lida com a expectativa de muitos que querem saber se será um jogador como foi Pelé, 74. Joshua não fica constrangido em dizer que não.

O desapego à camisa 10 é também uma forma de evitar comparações. A preferência pela 9 se deve à sua posição e aos ídolos que viu jogar, como o brasileiro Ronaldo. Mas afirma que está satisfeito com a camisa 18 que usa.

Admite que está aprendendo a lidar com a pressão do sobrenome Arantes do Nascimento e de ter outros dois ex-jogadores do Santos na família: o tio Zoca, irmão de Pelé e ex-ponta-direita, e o irmão Edinho, ex-goleiro.

"Ainda não tenho ideia de como será. Edinho diz que não é para qualquer um", diz, na Vila Belmiro, em Santos.

Joshua é irmão gêmeo de Celeste, ambos filhos do casamento de Pelé com Assíria, relação que durou 14 anos (1994-2008). O garoto deu o pontapé inicial para virar jogador no São Paulo, aos 10 anos. Treinava no clube social, no Morumbi, e jogava só campeonatos internos.

Após um ano, mudou-se para Orlando, nos EUA, com a mãe. Levou junto o sonho. Arrumou espaço no Florida Rush, onde treinou e jogou por três anos. Aos 15, voltou ao Brasil e, com ajuda do pai, conseguiu espaço no Santos.

Ingressou na base em 2013. Desde o ano passado está no sub-20, treinado por Pepinho Macia, o filho de Pepe, companheiro de Pelé nos anos 60.

Até hoje fez três jogos, dois pelo sub-17 e um pelo sub-20. Não é centroavante. Joga fora da área. Chuta bem com a direita e é forte no cabeceio.

Os colegas gostam dele e ser divertem, brincando com o filho do Rei.

"Às vezes, eles me chamam de Arantes, eu acho engraçado. Já rolou um 'Príncipe', mas não gosto".

Não jogou a Copa São Paulo deste ano devido a uma lesão na coxa direita. Agora, se prepara para o Paulista sub-20, que começa em maio.

"Não estou no nível dos titulares, mas cresci muito."

FÉ E TATUAGENS

A estatura, o corte de cabelo e o tom de voz fazem Joshua lembrar Pelé, mas há uma diferença: duas tatuagens.

Evangélico como a mãe, o garoto fez as tatuagens há seis meses inspirado pela fé.

No braço direito, pode-se ler "Filipenses 4:13" –referência ao versículo da Bíblia que diz: "Tudo posso naquele que me fortalece".

Nas costas, são duas mãos juntas, uma cruz e uma coroa. "É para lembrar de sempre agradecer e orar a Deus", diz o jovem, que lê a Bíblia sempre.

Pelé não gostou. "Ele queria saber porque eu fiz, mas depois me aconselhou a não fazer mais".

PAI À DISTÂNCIA

Não é fácil ter Pelé como pai. Em geral, os dois só se veem nos fins de semana, quando o pai está no Brasil e na casa que tem no Guarujá.

Joshua mora com a tia Maria Lúcia, irmã do Rei, em Santos. A mãe continua nos EUA, com a irmã Celeste.

A falta de contato fez com que Joshua descobrisse pela TV a última internação de Pelé –no ano passado, o ex-jogador ficou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Albert Einstein, em São Paulo, em estado grave.

Joshua sofreu à distância e só sentiu alivio quando o pai teve alta. Apesar disso, o garoto diz que a relação é ótima. "Mesmo não estando presente ele se faz presente".

Os dois conversam diariamente por telefone. Pelé se interessa pelos treinos do filho e lhe dá conselhos.

Também incentiva outras ambições do caçula. Joshua quer estudar fisiologia ou administração. Mas o que tem falado mais alto é a ideia que cultiva desde os sete anos. "Todo sonho de moleque é estar na seleção. Ainda não sou um jogador. Penso em um passo de cada vez".

'QUEM SOFRE É O PAI'

Pelé está orgulhoso por ver o filho caçula tentar a carreira como jogador, mas já prevê sofrimento.

"Joshua é muito corajoso. Edinho sofreu uma pressão muito grande ao decidir ser goleiro do Santos. Por ser atacante e filho do Pelé, Joshua vai ter cobrança e pressão muito maiores. Quem sofre com isso é o pai. Espero que ele tenha a sorte que eu tive", disse Pelé, especialmente para à Folha.

Fotografia: RODRIGO MACHADO | Edição: BRUNO SCATENA


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